A angústia da escolha que é só aparente
Hoje é dia de eleições legislativas. Hoje, como nas outras eleições, votei, no exercício consciente do meu direito de voto. Do que vejo também como o meu dever de voto.
Hoje, à semelhança do que aconteceu nas últimas vezes em que votei, senti-me mais minoria do que a minoria reconhecida. E durante o meu regresso a casa, após colocar o meu voto na urna, senti uma angústia terrível. Uma angústia de quem sabe que qualquer voto que faça não será fiel àquilo que defende. Uma angústia de quem sabe não ter votado bem. Uma angústia de quem não sabia votar melhor. A angústia obsidiante de saber que não existe um partido no qual se reveja, nem no mínimo exigível.
Há os partidos, talvez mais realistas, mas com os quais tenho diferenças ideológicas fraturantes e nos quais não posso, nem quero, votar. Há os partidos bem intencionados, mas completamente distanciados da realidade. Há os partidos utópicos. E há os partidos que nem sabem bem o que defendem. E eu tive que votar num partido sem concordar com todos os seus princípios básicos. E isto, como cidadã, deixa-me destroçada.
Sempre me reconheci como uma minoria. Durante muito tempo achei que por ter características e defender princípios que não são os da maioria dos portugueses, mas que seriam mais próximos das características de outros países. Estou cada vez menos certa disso. Mas as minhas características minoritárias estão a ficar de tal modo solitárias que se torna impossível fazer uma escolha política em Portugal. E não sei se quero aceitar uma das duas soluções que vejo: a primeira, entrar no mundo da política, que me desagrada e que receio me destrua; ou, a segunda, ir viver para um país escandinavo. A solução de compromisso seria começar um movimento cívico realista, consciente, humanista e íntegro. Mas não sei quanto energia terei para tal, sabendo, desde logo, que devo ser uma minoria ainda mais solitária do que julgava.
De qualquer modo, aqui fica: em termos globais, defendo princípios de uma sociedade solidária, cujos direitos humanos e cívicos nunca possam ser postos em causa, com direito de acesso à saúde, à educação e à justiça, mas com a responsabilidade pública e social de assegurar que as gerações atuais e futuras não ficam sobre-oneradas com os gastos públicos sobre-dimensionados, nem com a destruição do planeta; dentro do projeto da União Europeia que se quer melhor, mas que se sabe benéfico. Há alguém que se reveja nestes princípios fundamentais?
Mas sim… também existe a hipótese, não negligenciável, de eu não ser uma minoria tão pouco significativa. E de haver um hiato demasiado grande entre políticos e sociedade civil. Na verdade, não nego que considero que este é também um fator muito significativo nesta minha sensação de desfasamento com o poder político. De facto, em média, o trabalhador português que conheço é de melhor qualidade do que o político português que conheço…
Pois. Hoje é um dia de democracia. Mas o que sinto hoje é a frustração de uma minoria terrivelmente sub-representada. E a frustração por ser representada por uma classe política paupérrima.
Sim. Mea culpa, também. Mea culpa. É necessário fazer mais!