Pensamentos líquidos 120

A crueldade dos seres II - a cobardia de alguns

Os recentes ataques reivindicados pelo DAESH, pelo Boko Haram e por outros grupos bélicos jihadistas, em várias partes do globo, voltaram a mostrar o mais puro desrespeito pela vida humana. 
No dia 20 de setembro, um conjunto de ataques no nordeste da Nigéria, em Maiduguri e em Monguno, causou a morte de 145 pessoas e feriu cerca de 120. Os atacantes fizeram explodir várias bombas, numa mesquita, num mercado, num centro desportivo e num check point. As pessoas, que viviam a sua vida pacificamente, foram brutalmente assassinadas e feridas.
No dia 12 de novembro, num ataque devastador em Beirute, 43 pessoas morreram e cerca de duas centenas ficaram feridas. Estas pessoas estavam perto de uma mesquita e de uma padaria. E foram brutalmente assassinadas e feridas. 
No dia 13 de novembro, noutro ataque devastador, em Paris, assassinaram 130 pessoas e feriram mais de 350. Todos os locais de ataque foram locais de lazer. E eu posso estar completamente enganada, mas eu considero que isso foi propositado, considero que foi um atentado a uma forma de vida. Também posso estar enganada, mas também me parece que o ataque perto do Stade de France tinha como objetivo fazer muitas vítimas. Novamente, as pessoas foram brutalmente assassinadas e feridas.
No dia 21 de novembro, um grupo armado fez refém dezenas de pessoas num hotel em Bamako, no Mali, acabando por matar 20 pessoas. Parece haver muitas questões ainda por responder, mas também aqui estas pessoas foram brutalmente assassinadas.
No dia 25 de novembro, houve um ataque à guarda presidencial tunisina, em Túnis, na Tunísia. Morreram 12 pessoas, num ataque também reivindicado pelo DAESH. E a conclusão não difere: estas pessoas foram brutalmente assassinadas.
Eu gostava de dissertar sobre várias facetas deste movimentos mas, por hoje, quero centrar-me apenas na crueldade, na violência. Em qualquer destes casos, morreram pessoas. Pessoas cujas vidas poderiam ser mais longas foram privadas de tempo que era delas. Pessoas que foram assassinadas. Eu poderia escrever inocentes que foram assassinados. E estaria certa. Como é que alguém, que tenha um resquício de respeito pelo valor da vida humana, pode achar que pode privar outrem do seu tempo de vida?

É a crueldade derradeira. E é indesculpável.

Pensamentos líquidos 119

A crueldade dos seres I - A coragem de alguns 

Sinto-me culpada sempre que há algo que merece a minha atenção e não lhe dispenso as linhas necessárias. Mas, muitas vezes, não consigo reconciliar-me com a crueldade que vemos, com a pluralidade de lutas que temos que lutar. E escondo-me, minimizo-me sem lutar, sem escolher algumas das lutas que me são mais próximas. Mas não o faço sem me recriminar…
Desde a última vez que vos escrevi, a propósito da greve de fome de Luaty Beirão, que tenho sido pejada de culpa por não fazer mais. Desde esse dia, aconteceram tantas coisas. Foi tanta a crueldade que prevaleceu. E eu devia fazer mais.
O julgamento dos ativistas angolanos, acusados de atos preparatórios a uma rebelião e de atentado contra José Eduardo dos Santos, começou no dia 16 de novembro. Um dos atos terríveis que alegadamente cometeram foi discutir o livro “Ferramentas para destruir o ditador e evitar nova ditadura — Filosofia Política da Libertação para Angola” de Domingos da Cruz, baseado no livro de Gene Sharp “From Dictatorship to Democracy, a conceptual framework for liberation”. Aliás, houve uma leitura pública do livro em Lisboa, no dia em que o julgamento começou, que quero aplaudir. Um livro crítico é uma coisa perigosíssima para um ditador. Porque, para um ditador, o conhecimento é terrível; equipa o povo com uma arma imensa de luta: a razão crítica. E os ditadores não se dão muito bem com a razão ou com a crítica… 
Para além do acusação ser ridícula, no pressuposto de alguma liberdade de expressão e num estado de direito (bem sei, bem sei, pouco estados são verdadeiramente estados de direito), os advogados de defesa não terão tido acesso aos processos e, com o atrasar das audições, chegou a temer-se não haver decisão antes das férias judiciais. Espero que os desenvolvimentos a relatar, no futuro, sobre o julgamento não envergonhem ninguém que defenda os direitos e as liberdades individuais. 
E espero que o mundo se mantenha atento ao que se passa em Angola. Como já disse antes, o mundo não tem o direito de os desiludir.

Poemas 50

Reconciliation

A word from you 
And I would be content 
Let me not try to be happy 
For I should not aim 
at the impossible. 

Outubro de 2015