Homenagens 67

Kurt, we miss you

We really do miss you.

«Nirvana defined a moment, a movement for the outsiders: for the fags and the fat girls and the broken toys and the shy nerds and the goth kids from Tennessee and Kentucky, for the rockers and the awkward, and the fed-up, the too smart kids and the bullied. We were a community, a generation; in Nirvana’s case, several generations; in the echo chamber of that collective howl, and Allen Ginsberg would have been very proud, here.
That movement and that voice reverberated into music and filme, politics, a worldview, poetry, fashion, art, spiritualism, the beginning of the Internet and so many fields in so many ways is our lives. This is not just pop music – this is something much greater than that.» – Michael Stipe


Nirvana, com Annie Clark, Joan Jett, Kim Gordon e Lorde. Introdução de Michael Stipe

Trivialidades 246

Perigos nos passeios

Devia haver um sítio onde se ensinasse a transportar chapéus de chuva em segurança: estou farta de me sentir ameaçada por inúmeros chapéus de chuva em riste.

Homenagens 66

Thom Yorke e PJ Harvey


The mess we’re in, por Thom Yorke e PJ Harvey, em “Stories from the city, stories from the sea”, de PJ Harvey

Pensamentos líquidos 116

Os assassinos do Boko Haram

Continua a ser tempo de indignação. E é tempo (ainda que tardio) de se fazer alguma coisa. Leiam o relatório da Amnistia Internacional ou esta notícia do Público sobre o que o Boko Haram continua a fazer na Nigéria e interiorizem a violência que está a ser permitida.
Mas não quero deixar de copiar alguns parágrafos do relatório da Amnistia. As palavras são poderosas e podem chocar o suficiente para estimular a indignação e, mais importante ainda, a ação.
«A man in his fifties told Amnesty International what happened in Baga during the attack: “They killed so many people. I saw maybe around 100 killed at that time in Baga. I ran to the bush. As we were running, they were shooting and killing.” He hid in the bush and was later discovered by Boko Haram fighters, who detained him in Doron Baga for four days.
Those who fled describe seeing many more corpses in the bush. “I don’t know how many but there were bodies everywhere we looked,” one woman told Amnesty International.
Another witness described how Boko Haram were shooting indiscriminately killing even small children and a woman who was in labour. “[H]alf of the baby boy is out and she died like this,” he said.»

Devemos ficar indignados. As pessoas sofrem. As pessoas morrem. E é tempo de se fazer alguma coisa.

Pensamentos líquidos 115

Je suis Charlie aussi

Nos últimos dias, após o ataque às pessoas que trabalhavam para o Charlie Hebdo e a sequência posterior de eventos, houve uma indignação generalizada do mundo. Houve uma indignação contra a violência e contra o ataque à liberdade de expressão. E esta é, para mim, uma indignação válida. Pode não ser indignação suficiente, mas é válida.
Muito se tem falado e escrito sobre o ataque. Mas no meio de tanta tinta, parece-me ter sido um pouco negligenciado o que estes ataques significam, para além de pura e malevolente crueldade. Estes ataques significam medo de quem questiona. Medo do esclarecimento. Medo da consciência. Não quero, como pessoa convictamente ateia que sou, fazer uma crítica generalizada à religião. Até porque isso seria, naturalmente, idiota. Também não quero entrar nas questões filosoficamente relevantes porque, bem... tiraria o foco deste texto. Quero apenas dizer que a religião míope praticada por essas pessoas que se dizem fieis, mas andam por aí a matar outros, cresce e prolifera muito mais facilmente na ignorância. Na ausência de sentido crítico. E os cartoons significavam essa necessidade de não aceitar sem questionar. Eu espero que com esta indignação (re-)nasça um novo movimento pelo esclarecimento, pelo conhecimento. Que, na verdade, já tem uma madrinha tão nobre na Malala.
Muito se tem falado e escrito sobre o ataque. E no meio de tanta tinta, parece-me haver alguns excessos. Para algumas pessoas, a indignação tem sido desproporcionada porque não encontrou igual noutros casos igualmente repudiáveis. Eu acho que não devemos ficar indignados com a indignação legítima contra a crueldade, contra a violência gratuita, contra a ignorância. Devemos, sim, ficar muito, mas mesmo muito, indignados quando Assad e o Estado Islâmico continuam a matar pessoas, mais ou menos indiscriminadamente, e ninguém se indigna. Devemos ficar indignados quando a Rússia mata ucranianos na Crimeia e meio mundo olha para o lado. Devemos ficar indignados quando violam mulheres na Índia e saem impunes. Devemos ficar indignados com os ataques israelitas aos palestinianos em Gaza. Devemos ficar indignados com os raptos do Boko Haram. Devemos ficar indignados. As pessoas sofrem. As pessoas morrem.
As pessoas morrem... E muitos esquecem. Sim, devemos ficar indignados com isso. Não com a indignação do que indigna.

Pela indignação


Eddie Vedder e Paulo Furtado, cover de Masters of War, de Bob Dylan

Pensamentos líquidos 114

Tédio

Há uns dias atrás, algures ainda no ano passado, escrevi um texto não muito bom sobre tédio. Já algum tempo que queria escrever sobre tédio. Mas o texto que escrevi era, quando muito, medíocre. Curiosamente, não sei onde gravei o texto. Por isso, hoje, decidi escrever novamente sobre tédio.
O tédio é um sentimento humano com o qual me identifico demasiado. Tenho dele consciência nos dias de ligeiro menor stress ou nos dias de irritação com o trabalho. É muito raro sentir tédio fora do local de trabalho. E quando o sinto é normalmente associado a um cansaço excessivo que me leva a um estado estranho de alienação, em que tento tudo para nada fazer.
O tédio é ubíquo. Quando se sente tédio, sente-se em todo o corpo, nos poros; no espaço que nos rodeia. É como uma camada pegajosa dificílima de ultrapassar sem um mind changer. Para mim, a arte pode vencer o tédio. Mas, às vezes, não me permitem a arte. Às vezes, não me desobrigo do tédio.
O tédio é paradoxal I. O conceito de tédio é interessantíssimo de um ponto de vista filosófico. E, todavia, a sua existência, ou melhor, a sua consciencialização é uma agressão ao mais humano que temos. Para mim, a filosofia pode vencer o tédio.
O tédio é paradoxal II. Se, por um lado, é um sentimento muito sufocante de perda de tempo, potencialmente útil para uma atividade ou pensamentos interessantes e portanto não entediantes; é por, outro lado, um momento de consciencialização. E um momento de consciencialização não deveria ser um momento de tédio.
O tédio é angústia. Mas do conceito do tédio nasceu este texto. E eu com tantas saudades de escrever, criei-o. E na escrita, talvez só na escrita, crio autenticidade, crio verdades. E nessa autenticidade da auto-compreensão não há tédio. Nessa autenticidade da escrita – que tanto me foge – eu sou mais eu.
Pois. Talvez não tenha sido mau esquecer-me onde coloquei o texto inicial.