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Recomendações 88

Tamino

Já, por várias vezes, referi como adoro a sensação de descobrir um músico novo e de sentir aquele arrebatamento, que precisa de uma repetição que só questiona o seu término. Mas não é fácil encontrar este querer com traços de obsessão e não sentir medo. Medo de o exaurir, medo de descobrir que não é assim tão bom, medo de o perigar com a expectativa. Porém, esse medo é um privilégio. Só o que é especial pode provocar esse medo.
Descobri, incidentalmente, Tamino. Tamino é um jovem – muito jovem – que faz uma música muito antiga. Uma música de um ancião de elevada técnica e sabedoria. Uma música que parece ecoar a partir dos primórdios do tempo. Uma música que faz ressoar verdades imemoriais, naturalmente impossíveis de aceder se Tamino não existisse. 
Tamino vive na Bélgica, filho de mãe belga e pai egípcio, e processa na sua música uma síntese que assusta. Podia dizer-vos que nele ouço reverberar a intensidade do Jeff Buckley, a escuridão do Nick Cave, a elegância de Serge Gainsburg e a paixão árabe. Seria verdade. Mas escolho dizer-vos por que é que a síntese que ele consegue assusta. Assusta porque é improvável tanta maturidade musical em alguém tão jovem. E porque a síntese de componentes aparentemente díspares arrisca a ser um aglomerado disparatado. Mas o que Tamino nos traz, no EPs Tamino e Habibi, é uma síntese coerente. Pode haver ecos do passado, mas é na criação do que é seu que Tamino sobressai.
A criação de Tamino faz sentido. E num mundo que não o tem, a arte é todo o sentido que sabemos criar. Quando sabemos. Ele sabe.
Talvez este seja um post demasiado arrebatado. Mas é justo.


Cigar, Tamino

Recomendações 87

Sapiens - A brief history of humankind


É raro encontrar um livro que combine a clareza do discurso, a audácia das teses e a destreza das palavras. Mas é ainda mais raro encontrar alguém que não se deixe enredar nos pequenos fait-divers e na micro-análise. Por isso é particularmente bem-vindo um autor como Yuval Noah Harari, um historiador que escreve como um escritor, escava como um arqueólogo, analisa como um biólogo, não se coíbe das ingressões matemáticas como um economista e questiona como um filósofo. 

Pode ser importante compreender os desenvolvimentos geo-políticos no Médio Oriente na última década, mas é quando olhamos à escala de milhões de anos que conseguimos ver outros padrões. É pelo menos quando olhamos à escala de vários milénios que conseguimos ver padrões interessantes sobre o homo sapiens. E é isso que Harari nos traz, em Sapiens, com uma habilidade conectiva difícil de igualar. Nas, cerca de, 500 páginas que compõem o livro, Harari conta-nos uma história, a história do mundo, onde faz desenrolar a História em si. 

Mas talvez mais importante do que o que nos traz é onde Harari nos leva. E leva-nos, sem indecisão, às perguntas mais críticas da actualidade. Podia deixar-vos inúmeros excertos certeiros que vos fariam pensar “claro, por que é que eu nunca fiz esta conexão antes?” ou “exactamente, como é que as pessoas não percebem que quase tudo são realidades imaginadas?”, mas escolho deixar-vos com as perguntas do devir, porque é demasiado tarde para não sentirmos o estrépito do arauto da incerteza que nos chama do futuro.
«What we should take seriously is the idea that the next stage of history will include not only technological and organisational transformation, but also fundamental transformations in human consciousness and identity. And these could be transformations so fundamental that they will call the very term ‘human’ into question. (…)

If the curtain is indeed about to drop on the Sapiens history, we members of one of its final generations should devote some time to answering one last question: what do we want to become? This question, sometimes known as the Human Enhancement question, dwarfs the debates that currently preoccupy politicians, philosophers, scholars and ordinary people. (…)
And yet the great debates of history are important because at least the first generation of these gods would be shaped by the cultural ideas of their human designers.»  
«The only thing we can try to do is influence the direction scientists are taking. But since we might soon be able to engineer our desires too, the real question facing us is not ‘What do we want to become?’, but ‘What do we want to want?’ Those who are not spooked by this question probably haven't given it enough thought.» 

Yuval Noah Harari, Sapiens, A brief history of humankind, tr. autor, coadjuvado por John Purcell e Haim Watzman, Vintage Books, 2014 (p. 463 e p. 464)

Recomendações 86

Post Pop Depression e um concerto de Iggy Pop

O último álbum de Iggy Pop, Post Pop Depression, de 2016, é uma obra incrível, que muito rapidamente passei a recomendar. O que eu nunca pensei foi passar o concerto de Iggy, no Super Bock Super Rock, em perfeito êxtase, mesmo quando só cantou um tema deste álbum. Digo-vos, com toda a sinceridade, que foi dos concertos que mais me impressionou até agora em 2016. Não percam a oportunidade, se puderem ver um concerto de Iggy Pop ao vivo. Ele fará tudo para tornar o concerto memorável.



Gardenia, Post Pop Depression, Iggy Pop, 2016

Recomendações 86

The hope six demolition project, by PJ Harvey

A lovely album by PJ Harvey, one of the greatest.

He's saying dollar dollar
I can't look through or past
A face saying dollar dollar
A face pock-marked and hollow
Staring from the glass


Dollar, dollar, from “The hope six demolition project”, PJ Harvey, 2016

Recomendações 85


Para colocar alguns filmes em Watchlist. 

Recomendações 84

Our man in Tehran

Um conjunto de vídeos informativos, esclarecedores, elegantes e jornalisticamente neutros sobre situações na vida de pessoas no Irão, da autoria de Thomas Erdbrink e Roel Van Broekhove, que recomendo vivamente. Desde uma percepção de grupo pouco inquisitiva sobre a escassez de água no caudal de um rio à possibilidade de uma “justiça” assente numa premissa de “olho por olho”, mas só quando não há mulheres envolvidas, os vídeos exploram episodicamente a visão de pessoas iranianas numa sociedade que querem, ou não, mudar. 
Obrigada, L., pela partilha!

Recomendações 83

True love waits

Um dia destes quero escrever sobre o último álbum dos Radiohead, A Moon Shaped Pool. Mas hoje quero ficar por uma das suas faixas, na verdade, um tema já antigo. Lindíssimo. Lindíssimo. Sobre as ironias da vida.

I’ll drown my beliefs
To have your babies 


True love waits, now in A Moon Shaped Pool, Radiohead

Recomendações 82

Brainpickings

Brainpickings, a wonderful website, written by Maria Popova, which touches upon a variety of interesting topics, ranging from philosophy to neuroscience.

Recomendações 81

“Are you serious”, o novo álbum de Andrew Bird


Left handed kisses, ft. Fiona Apple; o meu vício reconhecido da semana passada.

Recomendações 80

I love you, honey bear



I love you, honeybear, 2015, by Father John Misty

Recomendações 79

While we’re young



While we’re young, Noah Baumbach

Recomendações 78

Je suis à vous tout de suite”, quando também a tolerância leva ao excesso

Todos nós recorremos a mecanismos de compensação para lidar com dificuldades. Alguns destes mecanismos são mais saudáveis do que outros, mas a necessidade deles é quase inexorável. 
A sequência natural da identidade humana é que estes mecanismos de compensação sejam únicos, ainda que frequentemente categorizáveis. Em “Je suis à vous tout de suite”, Baya Kasmi explora estes mecanismos na busca da identidade, numa comédia dramática provocadora. 
Há duas dimensões particularmente fascinantes no filme de Baya. A primeira está relacionada com o isolamento dos fatores sociais no desenvolvimento da personalidade. Ela mostra como, não obstante a importância do meio em que cada indivíduo se insere, as características individuais são determinantes para a constituição da sua personalidade. E mostra isto ao sujeitar dois irmãos, que vivem na mesma família, ao mesmo choque. A segunda alicerça-se na procura destes mecanismos de compensação, que acabam por ser relativamente perniciosos, num contexto de imensa tolerância. Mesmo numa família imensamente tolerante em que nada era repudiado, houve também a necessidade de procurar mecanismos de compensação extremos. 
O filme de Baya é terrivelmente complexo e parece querer conter mais do que poderia caber num filme comum. Mas dificilmente poderia ser mais verosímil. Também a vida não é organizada em pequenos compartimentos para podermos gerir cada bocadinho com tempo e em isolamento. A vida é multidimensional a cada segundo. Enquanto alguém sofre, outro ri. Enquanto alguém rejubila, outro definha.
Tenho, porém, que confessar que senti algum desconforto durante o filme. Há um pudor que não consigo afastar quando se mistura comédia num contexto de extrema dor. Mas haverá algo mais realista?
Enquanto alguém sofre, outro ri. Enquanto alguém sofre, pode também rir, exatamente como mecanismo de compensação. E eu não tenho o direito de o criticar.
Sim, vejam o filme. E fiquem a pensar sobre ele durante vários dias. Há muito em que pensar.



Je suis a vous tout de suite, de Baya Kasmi

Recomendações 77

Festa do cinema francês

Podem consultar o cartaz aqui

Recomendações 76

Benjamin Clementine

Há momentos especiais em que se encontra alguém que cria verdades inexoráveis. E estas verdades servem todos os entendimentos. São verdades perfeitas porque são arte que ecoa cá dentro. Benjamin Clementine é o artista que conheci hoje e que me deixou embevecida. Obrigada.



Benjamin Clementine, Cornerstone, in At least for now (2015)

Recomendações 75

Alt-J

Ouvi Alt-J duas vezes ao vivo antes de perceber que gostava deles. Curiosamente, percebi como aprecio a sua música quando precisei de concentração para trabalhar em algo para o qual, pouco surpreendentemente, não tinha vontade. E encontrei na música de Alt-J uma pureza incomum, um som de uma verdade inicial que ninguém parecia estar a procurar. Mas eu também quero procurar verdades assim.

Deixo-vos com Taro.



Taro, from An Awesome Wave (2012), Alt-J

Recomendações 74

Ex-machina, realizado e escrito por Alex Garland

Recomendações 73

Interstellar, realizado por Christopher Nolan


Recomendações 72

Curtis Harding



Cast away, from Soul power

Recomendações 71

Disconnect, by Henry Alex Rubin



Um filme sobre dificuldade de comunicação, inclusivamente a mais primária, a de aceitação das conclusões próprias.

Recomendações 70

Shelter, by Jonah Markowitz