Apontamentos fugazes 50

Mais um bocadinho (delicioso) de Henry Miller…

«He was deader than dead because alive and empty, beyond all scope of resurrection in that he had travelled beyond the limits of light and space and securely nestled himself in the black hole of nothingness. He was more to be envied than pitied, for his sleep was not a lull or an interval but sleep itself which is the deep and hence sleeping ever deepening, deeper and deeper in sleep sleeping, the sleep of the deep in deepest sleep, at the nethermost depth full slept, the deepest and sleepest sleep of sleep’s sweet sleep. He was asleep. He is asleep. He will be asleep. Sleep. Sleep. Father, sleep, I beg you, for we who are awake are boiling in horror…»


Henry Miller, Tropic of Capricorn, Maio de 1939

Apontamentos fugazes 49

Sobremesa

Dada a sobremesa; será que as entradas, as sopas, os pratos principais deveriam ser comidos debaixo da mesa?
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Pensamentos líquidos 57

Incentivos à natalidade e o meu “probleminha” com o Darwin

João Miranda, neste artigo de opinião no DN, expressa aquilo que, desconfio, lhe parecerá acertado acerca da discussão dos incentivos à natalidade. Afirma existir um «(…) consenso em Portugal de que o Estado deve promover a natalidade». Desde já posso garantir que isto é mentira. Entre os (obviamente e correctamente) preocupados com a Segurança Social e as pessoas como ele, existo eu que não acho, de modo algum que o “Estado deva promover a natalidade”. O que, notem, é completamente diferente, de garantir que todas as pessoas que nascem tenham acesso inegável a cuidados de saúde ou a usufruir de educação até ao nível que desejarem, ainda que os seus progenitores, pais ou tutores não o consigam prover. Para mim isso é… indiscutível; ao jeito do véu de ignorância de Rawls, ninguém deve sofrer as consequências de coisas às quais é alheio e ninguém escolhe de quem nasce ou depende. Mas isto é tema para outro post.

Regressando ao artigo de opinião do tal investigador em biotecnologia. Ele refere «Os seres humanos são, por natureza, obcecados pelo sexo. Mas não se trata de uma obsessão fortuita. É uma consequência da selecção natural.», mas não se fica por aqui, garante que isto está ancorado numa obsessão pelo poder. E depois remata com «O poder é apenas um meio para conseguir sexo, mas não o sexo pelo sexo, mas o sexo que gera descendência.» O giro destas coisas é que podiam quase ser também ditas por fanáticos religiosos (ainda que de uma maneira “mascarada”); mas curiosamente são-nos ditas, muitas ou às vezes, por pessoas muito ligadas à biologia.

Para além de, a este tipo de argumentos, serem completamente alheios todos os motivos antropo-sociológicos, são também alheias aquelas a que eu chamaria razões individuais. Por vários motivos os seres gostam (e notem que não uso “são obcecados por”) de sexo e eu, muito sinceramente, acho que o prazer está acima de todas as outras. Porque mesmo que João Miranda argumentasse que estivesse a aplicar o seu argumento a todos os outros seres que não o Homem, continuaria a ser facílimo contrapô-lo, ou ele não se lembra que há imensos (mesmo imensos) casos documentados de animais com relações homossexuais só pela busca de prazer? Não vou sequer levar a discussão mais longe e dizer que, para além do prazer, pode haver outros factores muito individuais que o justifiquem. Porque não preciso e, bem, porque me entalaria em águas pantanosas… Mas o bottom line mantém-se. Utilizar argumentos biológicos evidentemente incompletos para justificar coisas relacionadas com os homens é muito falacioso.

Percebem agora o meu problema com o Darwin?

Contos 16

Ciclo S - Forças de combate

Explosão. Fluxos de energia rápidos no corpo. Excitação consumada. Depois. Depois de tanto tempo de contenção. Enquanto todos sabiam o que nós não. Sabíamos? Todos tinham sentido a vibração entre nós; desequilibrávamos qualquer sala com a tensão. Um embate de forças. Compreende?
Ainda não sei quem ganhava. Só via as baixas. Quando notava, todos estavam pasmados. Não, todos estavam siderados. Só não o sabiam. E era o nosso embate – combate? – que o provocava. Gladiadores de forças invisíveis.
Os nossos toques obscenos sem contacto. As palavras inocentes cheias de sexo. Nas nossas conversas, cadeira cheirava a sexo, almoço sabia a sexo, no azul sentia-se sexo, em rádios surdos via-se sexo; todas as palavras gritavam sexo. Nós não sabíamos. Compreende?
Sabíamos o embate de forças, conhecíamos o interesse. Discutíamo-lo em silêncio, no meio de todos. Todos sabiam. Conheciam as nossas palavras, o jogo de sedução. Mas nós éramos os únicos a ter noção dos limites. Qualquer toque era proibido, tudo o que fosse mais do que a insinuação era proibido. Qualquer iniciativa impensável. Uns inocentes.
Tínhamos a fama. Nenhum proveito, para além do que retirávamos da luta, para além do que nos ensinou, para além da competição. Compreende?
Posso garantir-lhe que me ensinou imenso, fez-me desenvolver capacidades que tinha ocultas ou subdesenvolvidas. Agradeço-lhe. E no entanto começo a duvidar, começo a achar que a competição não é suficiente. Pouco.
Agora. Agora? Agora já não é suficiente. Você, compreende?

Outubro de 2006

Pensamentos líquidos 56

Não esquecer Darfur

Esbarrei nisto – The devil came on horseback – num “movie review” do New York Times porque tinha a palavra Darfur. Não sei se é um bom documentário; no fundo, acho que nem sequer interessa. Interessa todos saberem o que se passa, serem obrigados a ver e a lidar com isso. Tem que ser impossível virar a cara para o outro lado e continuar a dormir descansado quando barbáries destas continuam a acontecer.

Baseia-se na experiência, relatos, fotografias de um ex-marine norte-americano que trabalhou como monitor em Darfur durante seis meses.

Sei, à partida, que é daqueles que provoca problemas de estômago e cria vontades de revolta, mas, ainda assim, vou pôr na minha lista de documentários a ir ver. Deve estrear, a tempo, em Portugal, ainda que eu não tenha localizado a sua calendarização nas minhas buscas.

Também sei que há outras iniciativas ainda em curso sobre Darfur. Parte das receitas do Ocean’s 13 reverteu para esta causa. E, com o agradecimento devido à Â pelo alerta, também um projecto da Amnistia Internacional – Make some noise for Darfur – com CDs à venda com música de John Lennon cantada por imensas pessoas, de entre as quais o Ben Harper!
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Pensamentos líquidos 55

Tour de France – addenda

O meu blogger decidiu dizer que publicava os meus posts, mas não os publicar, de facto, no site, ainda que os disponibilizasse individualmente. O curioso desta situação é que dada a inconstância das coisas no Tour, quando finalmente o post “Tour de France” foi publicado o que dizia lá já não era verdade! É que ontem à noite o Rasmussen foi expulso pela sua equipa – a Rabobank – e já não é detentor da maillot jaune.

Micro-teorias e falácias 2

Os miúdos não falam. Gritam.
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Pensamentos líquidos 54

Tour de France

Já escrevi demasiado sobre ciclismo por isso não me vou alongar muito. Já disse o importante, que mantenho. Há uma perseguição ao ciclismo e aos ciclistas. Que não é bem o mesmo que uma perseguição ao doping. Há também uma hipocrisia gritante nestes escândalos todos. Advogam um ciclismo “limpo” e continuam a insistir em provas desumanas.

Por isso tudo, não me venham dizer que estão no caminho certo nesta tentativa de incriminar todos os ciclistas… Sabem qual foi já o resultado, não sabem? O line-up deste tour era – sem desprimor para estes ciclistas –, mas era… patético. E só este line-up justifica que agora o camisola amarela seja Michael Rasmussen, um ciclista interessante mas que, novamente sem desprimor para ele, nunca ganharia um tour em condições normais. Dos primeiros dez, eu arriscaria dizer que só o Alberto Contador (2º) pode vir a ser um ciclista mais “excepcional” (e dos 24 anos que tem, só o futuro o poder provar); todos os outros são ciclistas interessantes mas não excepcionais. E só há uma razão para isto: conseguiram indiciar todos os ciclistas mais excepcionais que encontraram, enquanto vomitavam suspeitas de doping para todos os lados.

Muitos ciclistas continuam a defender a sua inocência (muito renitente em utilizar esta palavra porque provavelmente nem é disso que se trata) e muitos vieram afirmar que já se doparam durante a sua carreira. Agora tirem as vossas ilações…. o que me parece inegável é que não podem ser só os ciclistas a agir mal…

Apontamentos fugazes 48

Lembra-vos alguma coisa?

«And when he got through I felt for the first time that there had really been a war and that the man I was listening to had been in it and that despite his bravery the war had made him a coward and that if he did any more killing it would be wide-awake and in cold blood, and nobody would have the guts to send him to the electric chair because he had performed his duty towards his fellow men, which was to deny his own sacred instincts and so everything was just and fair because one crime washes away the other in the name of God, country and humanity, peace will be with you all.»

Henry Miller, Tropic of Capricorn, Maio de 1939

Há tanto tempo e tudo igual…

Trivialidades 76

Ilusionismo, magia, mindfreak

Seja o que for. Ilusionismo e brincar com as nossas falhas de observação. Magia, independentemente de ser “verdade” ou não. Jogos com a mente. As palavras são importantes, mas aqui deixemos o nome para segundo plano. O que me parece transversal a todas estas abordagens (?) é a elegância. Um savoir faire. Para uns suficiente, para outros não. Eu acho notável. Ardiloso, mas hábil. E elegante. Não posso (nem quero) negar que gosto de pensar que nalgumas destas coisas há uma mente muito bem trabalhada a funcionar.

Seja o que for. É normalmente interessante ver. Nem que seja pelo desafio. Ou para admirar a elegância. Seja o que for, mas importa quem é. E este senhor é muito elegante e perfeitinho a fazer o que faz. O Mindfreak Criss Angel

…a andar sobre água numa piscina.


PS. Se vos interessar, procurem mais vídeos no youtube. Há imensos. Notem que o Criss já quebrou o record do Houdini em sair de um colete-de-forças.
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Trivialidades 75

TUDO MENOS PERDER ASSIM!

Eu achava que o Nadal ia perder. E aceitei isso desde logo. Mas começo a ver o jogo e ele está a jogar mais ténis de relva do que eu espero e o Federer a cometer erros estúpidos que eu não espero. E eu comecei a achar que assim o Rafa não devia perder. E irritou-me. Irritou-me muito. Porque uma pessoa que falha tanto como o Federer falhou ontem não merecer ganhar aquela final de Wimbledon.

Por isso, eu que tinha assumido, à partida, uma derrota do Nadal. Eu que reconheço que o Federer é o jogador de ténis mais interessante que me lembro de ver, ainda que o ache irritantezinho. Eu que vi o jogo ontem. Eu, fiquei irritadíssima. Porque o Federer ganhar quando se sai com aquelas pancadas de classe que tem e, sim, eu sei, tem as pancadas todas, eu aceito. Mas quando erra assim. NÃO.

Trivialidades 74

Concertos

Não vos vou falar do concerto dos Arcade Fire. Há coisas que não se dizem. Mas deixo-vos o que me alegrou uma noite de um dia estafante.

Scissors Sisters – Take your mama

Apontamentos fugazes 47

É hoje

que vou começar uma revolução. For freedom. Querem juntar-se a mim?



[Arcade Fire - My body is a cage]

Trivialidades 73

Overbooking

Informa-se todos os frequentadores assíduos da minha agenda, que a mesma está com overbooking até ao final da semana. Não serão aceites novas marcações e não se garantem as já efectuadas. Mais se divulga que não está prevista qualquer forma de compensação ou indemnização.
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Trivialidades 72

Ciclo tipos de pessoas

Há dois tipos de pessoas: as vulgares e as outras.