Apontamentos fugazes 242
Apontamentos fugazes 237
— E tu? — perguntou o anjo, e voltei a reconhecer a sua voz severa e muito distante, — nunca quiseste morrer? Porque é que pensas nisso?
— Penso apenas que nos resta sempre essa saída!
— Dás assim tão pouco valor à morte? Serve apenas para fugires de ti própria?
— Não para fugir de mim, para escapar à vida. A vida dói-me. Até um estranho me pode fazer mal. Um obstáculo tão pequeno pode precipitar-me na queda.
Apontamentos fugazes 236
19. O artista exprime o instinto espiritual da humanidade, traduz a tensão do homem em direcção ao eterno ou a uma qualquer forma de transcendência. A arte transporta em si uma nostalgia do ideal e exprime sempre a sua procura. (…) O artista, no seu movimento para o Ideal, perturba a estabilidade de uma sociedade. A sociedade aspira à estabilidade, o artista aspira ao infinito. É essa a responsabilidade do artista e o sacrifício espiritual que lhe é exigido: com a sua consciência especial e a sua rigorosa demanda da momentânea verdade absoluta, ele vê as coisas antes dos outros e oferece-as ao Mundo mesmo se, por vezes, possam parecer apenas feridas abertas e vulneráveis. A arte coloca questões e dúvidas, instaura perturbações. Ela é a consciência da memória e da estrutura emocional de um espaço.
Apontamentos fugazes 234
É que essa é a função mais natural, para os seres vivos perfeitos — os não mutilados, nem de geração espontânea —, produzir um outro da mesma qualidade da sua: o animal, um animal; a planta, uma planta. Isto para que possam participar do eterno e do divino do modo que for possível; todas as coisas aspiram a isso, e tudo quanto fazem de acordo com a natureza, fazem tendo em vista isso.
Aristóteles, Sobre a Alma, tr. Ana Maria Lóio, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2010, 415a, 25 a 415b
Apontamentos fugazes 233
Henrik Ibsen, A dama do mar em Peças Escolhidas - vol 2, Cotovia, 2008, 4º Acto, p. 194.
Apontamentos fugazes 232
Quando se prova um chá bom, não se quer voltar a beber qualquer outro. O mesmo acontece com a arte, com a poesia, com a filosofia. É difícil aguentar coisas fraquinhas.
Não se pode levantar o véu de uma obra de arte, deixá-la despida. Como as pessoas não sabem ver, estão sempre à espera de referentes e palavras, para tentarem lá ver o que lhe disserem que «é».
(…) não há arte sem pensamento, porque sem este é apenas artesanato. (…) a arte, se o é, tem de questionar, inquietar, e perturbar o mundo. Como disse, a arte é para se «ficar mal».
Apontamentos fugazes 231
Defendo que o artista tem de saber criar um espaço de pureza intransigente para o seu trabalho. A arte, quando é maior do que a vida, assusta. Nesse sentido, os grandes artistas são uns monstros, com o seu radical fanatismo de perfeição (dos sentimentos, das ideias, da execução) completamente separado da «razoabilidade da vida», acima de qualquer hipótese de negociação. As pessoas costumam chamar-lhes loucos, eu não chamo…
Recomendações 87
Sapiens - A brief history of humankind
«What we should take seriously is the idea that the next stage of history will include not only technological and organisational transformation, but also fundamental transformations in human consciousness and identity. And these could be transformations so fundamental that they will call the very term ‘human’ into question. (…)
If the curtain is indeed about to drop on the Sapiens history, we members of one of its final generations should devote some time to answering one last question: what do we want to become? This question, sometimes known as the Human Enhancement question, dwarfs the debates that currently preoccupy politicians, philosophers, scholars and ordinary people. (…)And yet the great debates of history are important because at least the first generation of these gods would be shaped by the cultural ideas of their human designers.»
«The only thing we can try to do is influence the direction scientists are taking. But since we might soon be able to engineer our desires too, the real question facing us is not ‘What do we want to become?’, but ‘What do we want to want?’ Those who are not spooked by this question probably haven't given it enough thought.»
Yuval Noah Harari, Sapiens, A brief history of humankind, tr. autor, coadjuvado por John Purcell e Haim Watzman, Vintage Books, 2014 (p. 463 e p. 464)
Apontamentos fugazes 230
Apontamentos fugazes 223
Apontamentos fugazes 220
Apontamentos fugazes 217
Apontamentos fugazes 216
Apontamentos fugazes 213
Apontamentos fugazes 211
Apontamentos fugazes 209
Apontamentos fugazes 208
Apontamento fugazes 207
Amor
«Não havia comida para bebés em Malanje e a nossa filha tornou a Portugal magra e pálida, com a cor amarelada dos brancos de Angola, ferrugenta de febre, um ano a dormir em cama de bordão de palmeira junto das nossas camas de quartel, estava a fazer uma autópsia ao ar livre por via do cheiro quando me chamaram porque desmaiaras, encontrei-te exausta numa cadeira feita de tábuas de barrica, fechei a porta, acocorei-me a chorar ao pé de ti repetindo Até ao fim do mundo, até ao fim do mundo, até ao fim do mundo, certo da certeza de que nada nos podia separar, como uma onda para a praia na tua direcção vai o meu corpo, exclamou o Neruda e era assim connosco, e é assim comigo só que não sou capaz de to dizer ou digo-to se não estás, digo-to sozinho tonto do amor que te tenho, demais nos ferimos, nos magoámos, nos tentámos matar dentro de cada um, e apesar disso, subterrânea e imensa, a onda continua e como para a praia na tua direcção o trigo do meu corpo se inclina, espigas de dedos que te buscam, tentam tocar-te, se prendem na tua pele com força de unhas, as tuas pernas estreitas apertam-me a cintura, subo a escada, bato ao trinco, entro, o colchão conhece ainda o jeito do meu sono, penduro a roupa na cadeira, como uma onda para a praia como uma onda para a praia como uma onda para a praia na tua direcção vai o meu corpo.»
«Talvez mesmo, meu amor, que compre uma tapeçaria de tigres como a do Senhor Ferreira: podes achar idiota mas preciso de qualquer coisa que me ajude a existir.»
António Lobo Antunes, «Memória de elefante», edição comemorativa 1979-2009 D. Quixote 2009, pp. 92 e 156
Apontamento fugazes 206
Names and adjectives
Katharine: l wanted to meet the man who could write a long paper with so few adjectives.
Almasy: Well, a thing is still a thing, no matter what you place in front of it.Big car, slow car, chauffeur-driven car.
Madox: Broken car.
Almasy: lt’s still a car.
Geoffrey Clifton: Not much use, though.
Katharine: Love ? Romantic love, plutonic love, filial love. Quite different things, surely.
Geoffrey Clifton: Uxoriousness. That’s my favourite kind of love. Excessive love of one’s wife.
Almasy: Now there you have me.
[From the English Patient, d. Anthony Minghella]
So, a broken car is still a car. And I say, a charming asshole is still an asshole.
Apontamentos fugazes 205
Desconhecido