Ecos
«A vida era uma corrida constante,
cheia de deveres. Todas as relações eram difíceis, forçadas. Não tinha – ou
julgava não ter – um momento para retomar o fôlego; nunca um instante em que
não me sentisse culpado por alguma coisa que devia ter feito. Quando me
levantava de manhã parecia-me ter o fardo do mundo às costas. (…)
A depressão transforma-se num
direito, quando olhamos à nossa volta e não vemos nada nem ninguém que nos
inspire, quando o mundo parece resvalar para um pântano de inépcia e de
tacanhez materialista. (…)
A política, mais do que qualquer
outro sector da sociedade, está entregue aos medíocres, (…) Hoje, para a
maioria, democracia significa ir, de quatro em quatro ou de cinco em cinco
anos, pôr uma cruz num bocado de papel e eleger alguém que, justamente por ter
de agradar a muitos, tem necessariamente de ser mediano, medíocre e banal como
são sempre todas as maiorias. Se alguma vez existisse uma pessoa excepcional,
alguém com ideias fora do comum, com um projecto que não fosse apenas o de
convencer toda a gente com promessas de felicidade, essa pessoa nunca seria
eleita. Jamais teria o voto da maioria.»
Tiziano
Terzani, Disse-me um adivinho, 2ª
ed., Tinta-da-china, 2010, pp. 359 e 360
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