Pensamentos líquidos 53

Metallica e o SBSR

Se os Metallica tivessem tocado mas não no SBSR, este seria um post apoteótico. Assim vou ter que escrever sobre o festival. E o festival, digo-vos, está uma vergonha. A organização e a segurança (digo, não segurança) são piores que más. Um recinto de 60 000 pessoas com uma entrada/uma saída parece-vos suficiente?!? Os controlos à entrada são demorados, mas nada eficientes. A informação divulgada no site é, no mínimo, enganadora: supostamente não seria necessário trocar passes de 4 dias por pulseiras. O que eles se esqueceram de dizer foi que, não era necessário trocar por pulseiras, mas era necessário trocar por bilhetes (e, não, não havia informação sobre isto no recinto)!!! E é sempre bom saber isto quando passados talvez 45 minutos se chega finalmente ao primeiro controlo… em consequência, Satriani, para mim, reduziu-se a 2/5 da parte final do concerto. A saída do recinto (recinto no sentido estrito) demorou talvez uma hora mesmo sem acontecer nenhum percalço. Só por ter só uma saída e, ainda por cima, afunilada. Em suma, se eu não tivesse uma vontade louca de ver os Arcade Fire, não punha lá os meus pezinhos outra vez. Deveria conseguir fazê-lo. Por princípio. Mas desta vez, cobarde, irei. Mas não é por isso que vou abdicar de criticar o festival.

Agora, o que interessa, a música, os Metallica. Se a organização e a segurança são piores que más; a música e a actuação dos Metallica foram melhores que boas! Eles estão brutalíssimos. O concerto focou-se nos primeiros álbuns, nas origens. Muito Master of Puppets. E muitos momentos altos.

O fantástico dos concertos das bandas de culto é que quando correm bem, criam uma simbiose perfeita entre o público e a banda e, a determinada altura, que é normalmente no início (!), todos passam para o estado de êxtase. E foi isso que aconteceu quando os Metallica começaram a tocar. E foi isso que continuou a acontecer até ao fim. E fez sentido.

Deixo-vos o “One”.



[Sejam compreensivos. Havia várias dezenas de milhar de pessoas no recinto. Conseguir filmar qualquer coisa foi já notável.]

PS. O concerto foi gravado e vai ficar disponível este fim-de-semana. Pelo que li, todos os concertos desta tournée vão ser disponibilizados também.

Recomendações 17

Metallica no SBSR



[Master of Puppets]

Trivialidades 71

Produtividade
[revisto]

Às vezes acho que se trabalhasse sempre em viagem – aviões e aeroportos – conseguiria duplicar a minha produtividade. Mas isto teria obrigatoriamente que excluir hotéis, que fazem a minha produtividade descer a pique.

PS1. Fica aqui prometido um texto cliché, cliché, sobre Paris. Eu cliché, envergonhada, confesso: adoro Paris até à célula mais pequenina.
PS2. Fica também prometida uma revisão ao post da Notre-Dame. É vergonhoso. Prometo vasculhar as minhas fotografias para um post decente.
PS3. E um palmier da Ladurée para a G. e uma tartelette aux framboises para mim! ;-)
a

Pensamentos líquidos 52

Orçamento para a cultura em Portugal

In Portugal, for 2005, the last year for which figures are available, computations show that the overall budget for culture amounted to 230 million euro and represented less than 0.34 per cent of the overall public administration’s expenditures and around 0.38 per cent of the overall public administration’s receipts.

[dados da DGO e MC, cálculos meus]

Apontamentos fugazes 46

One band revolution

O único motivo para Sartre defender «l’engagement de l’art» era conhecer já as músicas dos Arcade Fire.
a

Trivialidades 70


OH! [de espanto] Ninguém imaginaria uma coisa destas. Outra vez. Outra vez. Outra vez. Outra vez.
a

Trivialidades 69

Porquê, porquê?

Quem disse ao blogger que eu queria passá-lo para português? Ler blogue em vez de blog ou modelo em vez de template… Quem? Não fui eu, pois não. É que não queria. NÃO QUERO!

Da mesma maneira que não gosto que o google me passe para o “google.pt” quando eu digito “google.com”, também não gosto que o blogger me faça isto à revelia do que eu penso. NÃO GOSTEI. NÃO GOSTEI.

P.S. E um post não é uma mensagem. Não é!
a

Micro-teorias e falácias 1

Tudo tem motivo(s). Se não tivesse, não existia.
a

Trivialidades 68

Ciclo convicções – homens e latas

Quem acha que os homens são úteis só para abrir latas nunca dobrou um edredon sozinha.
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Trivialidades 67

The one who needs no justification - Brad Pitt
[revised]



Eu sei que exagerei um bocadinho, mas pareceu-me egoísta ter achado isto e não partilhar convosco…

Momentos de poesia 6

Lua adversa

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

Cecília Meireles [1901-1964]

Apontamentos fugazes 45



Dizem que gosto de estar sozinha. Mentem. Gosto de estar só comigo.

Trivialidades 66

Insanidade de último grau

Acabei de abrir o site da Priberam e em vez de digitar a palavra que queria procurar, procurei o significado de “Priberam”.

Apontamentos fugazes 44

Um texto visceral

Sento-me a estruturar um trabalho para economia pública que pedi à professora para ser sobre “economia da cultura”. A maior parte das pessoas acha esotérico, mas ela, sem preconceitos, aceitou. Eu já sabia que tinha entrado numa bela embrulhada. Mas agora que me sento aqui a tentar escrever sobre o assunto, sei mais.

Alguns economistas que li até dizem coisas interessantes, pelo menos quando deixam a economia ser permeada por outras ciências. Outros, nem tanto. Não conseguem perceber o que está em causa. O Sr. Mas-Colell tem dificuldade em perceber a diferença de uma obra de arte, como “bem”, de um par de sapatos. Não compreende também como é que uma obra original tem um preço tão mais elevado do que uma reprodução. Acha que isso é um problema. Comecei a detectar alguma dificuldade da economia em justificar a diferença que a arte inevitavelmente carrega. E pensei, brilhantemente, que uma ajudinha da filosofia viria que nem ginjas.

Sobre a mesa, os livros de pesquisa são de Vergílio Ferreira e Sartre, as palavras de Heidegger e Duffrenne. Há qualquer coisa mal aqui. E acho que sou eu. Quando dei por mim estava em excitação. Mas não era com o meu trabalho. Era com a filosofia. E com o Vergílio Ferreira. Sempre com o Vergílio Ferreira.

Começo a ter a sensação que mais facilmente me sairia um ensaio filosófico sobre a “arte-verdade” do que uma survey sobre o motivational crowding-out dos artistas

Homenagens 14

Blasted Mechanism



[Battle of Tribes]

Trivialidades 65

Ciclo convicções – Val Kilmer

O Val Kilmer nasceu para poder encarnar o Jim Morrison num filme do Oliver Stone.

Trivialidades 64

Parabéns, Rafa, parabéns

Só uma perguntinha… já pensaste em mudar de marca de roupa interior?


Trivialidades 63

Se ouvirem alguém gritar, sou eu.

VAMOS RAFA!!!


PS. Ninguém nota que os comentários da Eurosport são tendenciosos, pois não?

Trivialidades 62

Ciclo convicções - Pearl Jam

Os Pearl Jam não sabem fazer maus concertos.

Depois de um concerto muito simpático dos Blasted Mechanism (I am a Blasted person!!), e de outro de Linkin Park que independentemente do esforço, só serviu para aumentar as dorzinhas nas minhas pernas e a diminuição do tempo entre cada bocejo [e isto apesar da rapariga ao meu lado amar o Chester (creio que é um dos vocalistas)],


os PEARL JAM.

Ontem, no Passeio Marítimo de Algés, noutro muito bom concerto [este é o melhor vídeo que encontrei até agora no youtube].


PJ - Better man – Oeiras Alive 2007 [08 de Junho]


Já os vi duas vezes depois do lançamento do último álbum e insistem em não tocar a minha música preferida do “Pearl Jam”. Mas deixo-a à mesma aqui, ao vivo em Camdem.



PJ – Marker in the sand


Já agora, fui só eu que achei ou ontem o Mike esteve completamente fantástico?

Pronto. Podia escrever muito sobre o concerto, mas vou ser concisa desta vez. Se o Eddie pôde dizer «que se foda Madrid», eu posso dizer «it was so fucking awesome».

PS. Só para não haver aqui confusões. Primeiro o Eddie não disse “que se foda Madrid” out of the blue, disse-o porque antes tinha dito que os PJ teriam que ir embora por, no dia seguinte, tocarem em Madrid. Portanto, o “que se foda Madrid” quer por isso dizer “não interessa o cansaço de amanhã, hoje estamos aqui convosco e ainda vamos ficar mais um bocado”. Segundo, ele disse que uns amigos portugueses dele lhe pediram para ele o dizer… uhm ,espero que eles lhe tenham explicado o que estavam a pedir.

Trivialidades 61

Cá vou eu

Trivialidades 60

Pedido de desculpas público à Jelena Jankovic

Eu já sei que indicar alguém como favorito é um caminho andado em direcção à má-sorte.

Pensamentos líquidos 51

A língua na arte

Prefácio

Isto anda a atormentar-me a mente há muito tempo. O Sam the kid decidiu (?), no tema «Poetas de karaoke» criticar veementemente todos os portugueses que fazem arte noutra língua. Ora, o que é que ele diz? Coisas como as que transcrevo abaixo…

Dizem que cantam hip hop, mas não dizem nada,
Vêm com poesia mas é só fachada
O português não ‘tá cansado eles vêm com o inglês,
Eu pratico praticando a nossa língua outra vez
(…)
Isto é pa tugas que nunca escrevem na língua raiz
Querem ser internacionais mas ‘tão cá no país
(…)
Eu nunca precisei de ouvir hip hop tuga pró fazer
Isso é que dá mais prazer, o meu idioma exploração
Vocês tentam outra língua pra tentar exportação
Querem ser os "moonspell" querem novos horizontes
Mas aqui o samuel é madredeus é dulce pontes
Porque há uma identidade, vocês são todos idênticos

E o que é que eu tenho para dizer sobre isto?

1. Duvido sempre de quem acha que a arte é pura construção. Eu não escrevo em português só porque quero. Escrevo em português quando quero e quando tenho que. Escrevo em inglês quando quero e quando tenho que. E o facto de não dominar outras línguas do mesmo modo que domino estas não me impediu de já ter escrito noutras línguas também. Porquê? Porque precisei e porque quis;
2. Mesmo supondo que a arte é pura construção, que motivos existem para alguém escrever na sua língua de origem? Nenhum que eu veja racional. A arte é uma forma de expressão aliada a um exercício estético, nunca deveria ser entendida como uma bandeira. Imagino que o Sam também critique pintores, artistas plásticos, aliás todos aqueles que não usem a sua língua original para expressarem a arte;
3.Ele assume, toma como dado ou acredita mesmo, que uma nacionalidade ou uma língua confere ou, pelo menos, compõe uma identidade. Eu acho isto, no mínimo, espúrio. Acho que podemos estar muito mais perto de pessoas cujo BI é muito diferente do nosso, mas que partilham connosco características intrínsecas e criadas; ou seja, a identidade pode ser completamente díspar dos factores que não podemos influenciar à partida (e.g., sexo, nacionalidade, cor de pele,…);
4. Critica directamente pessoas que decidem (?) fazer / fazem arte noutras línguas e utiliza os Moonspell como bode expiatório e chega a avançar motivos oportunistas para eles o fazerem. Julgo mesmo ter havido uma discussão entre ele e os Moonspell a este propósito.

Carta aberta ao Sam the kid e demais

Sam, m’man

Ouço hip hop há muito. Por acaso, até ouço muito hip hop português. Por ser português? Não. Porque gosto. Esta tua letra só fez com que eu tivesse perdido toda a vontade de te ouvir. Detesto nacionalismos. Perdeste uma pessoa que até podia comprar os teus álbuns, a tua obra. Agora vou achar sempre que, para além da tua arte não ser suficientemente “pura”, o importante para ti não é a arte, mas o acessório, a maneira de a fazer e que, por isso, a tua obra é pouca… artística.

Acho muito desagradável que critiques quem quer fazer/faz arte de outro modo. Considero que, acima de tudo, não tens nada a ver com isso. E, se calhar, até mordias a língua antes de falar dos Moonspell. É que começo a ficar com a sensação que a qualidade para ti não é relevante, só a língua e essa, meu caro, é só uma característica.

Falo de barriga cheia. Gosto imenso de trabalhar o português. Podia não gostar, mas acho o português uma língua muito interessante – dá trabalho, mas tem uma potencialidade enorme. Mas já dizia o senhor Wittgenstein que só existe aquilo que sabemos dizer e, quando o português não me permite dizer o que sei existir, fico muito orgulhosa em poder utilizar outras línguas. As complementares de uma língua são aquilo que lhe quebra as correntes e, digo-te, todas as línguas têm correntes. Eu? Detesto estar presa; talvez tu gostes de estar agrilhoado.

Felizmente a minha arte é a minha liberdade, a minha catarse, a minha certeza de perfeição. A tua pode ser a prisão e eu respeito, é tua. Mas nunca te atrevas a criticar a maneira como eu vejo a minha.

Got the point?

Rita

Momentos de poesia 5

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.


Eugénio de Andrade, «Os amantes sem dinheiro», 1950

Recomendações 16

Arraial Pride 2007

Lésbico, gay, bissexual, transgénero e hetero


Homenagens 13

Inevitavelmente

Com a ressalva devida por ter visto este filme há talvez uma década atrás, ficou a memória de ser um dos meus filmes preferidos. Não sei o que os meus olhos de hoje diriam de Bridges of Madison County, estou convicta que ajudariam a minha mente a cristalizar esta opinião.

Não sei porque me lembrei disto agora. Talvez porque há muito não veja um filme realmente bom. Talvez porque não goste da sensação de inevitabilidade. Torna-se difícil dissociá-la de um conceito de destino e detesto o conceito. Num filme, curiosamente, há poucas coisas que resultem tão bem com uma boa inevitabilidade, não uma previsibilidade, isso não, mas inevitabilidade. Perdoem-me, mas vou deixar-vos um dos maiores spoilers da história. Uma cena fantástica, um sotaque delicioso da actriz das actrizes e o peso, a densidade da inevitabilidade.

Se alguém ainda quer ver o filme, não clique em play


Pensamentos líquidos 50

Cavaco Silva considera que o envelhecimento na Europa e a regressão demográfica devem fazer considerar políticas de natalidade.

Eu? Discordo. Porquê? Primeiro, temos um planeta sobrepovoado, não faz sentido incentivar à natalidade. Acredito que, a tempo, os movimentos migratórios (se os países não se cerrassem dentro de muros de xenofobia) equilibrariam estas tendências, reconheço, pouco sustentáveis. Segundo, há coisas nas quais não se deve mexer nos incentivos. Este tipo de decisão não deveria ser socializada; é uma decisão de uma ou de duas pessoas, em consciência.

Trivialidades 59

Congratulazioni

O meu (antigo) ortodontista vai ganhar o Giro.


[Estou farta destas histórias de doping no ciclismo. Deixem-se de hipocrisias: ou estão preocupados com a saúde deles e deixa de haver voltas de 3 semanas ou subidas com 20% de inclinação ou aceitam que eles são humanos e deixam que tomem o que quiserem. ]

Contos 15

Ciclo S - Liaison

Sabe, essa sua maneira de me intimidar está a esgotar a capacidade. Estou a readquirir o auto-controlo e depois de o fazer será impossível voltar a desconcentrar-me. Foi um início diferente, este que tivemos; surpreendente. Desconcertante. Mas fico contente, por despertar estas reacções, por instigar estas necessidades. E confesso, sim admito, que o acho interessante, principalmente por me afectar daquela maneira, me desconcentrar ao nível da insensatez. Mas só enquanto isso não for perceptível para outras pessoas, só enquanto eu mantiver esta inquietude sozinha dentro de mim, do meu corpo; só enquanto a minha pele a suster.
Sabe, esta situação agrada-me. Gosto que saiba que me inquieta, como gosto que saiba que eu sei que o inquieto. Gosto dos olhares de receio; a nossa indiscrição não pode ser descoberta, demasiado inverosímil para ser verdade. E gosto da auto-estima. Gosto que perceba que estamos ambos em cima de uma corda, muito longe do chão, a rede é a nossa discrição; tudo o resto é audácia.
Sabe, essa maneira de olhar para mim como se o seu sorriso fosse mentiroso, atrai-me ainda mais, porque há qualquer coisa que o trai, acho que o movimento dos olhos, o eye-smiling; só para mim. Talvez seja essa revelação, felizmente sóbria; não suportaria que se denunciasse; que me faz baixar a guarda. É só mais um, espero que saiba também, mas um que há muito não aparecia. Torna-se aborrecido quando ninguém nos afecta; um marasmo de possibilidades.
Sabe, você é a iniciativa que eu queria construir com alguém que fosse suficientemente interessante. Deve ser daqueles que cozinha o jantar indicado, escolhe o vinho certo e ainda se lembra que exposição devemos ir ver. A uma hora própria, que a sua mulher pode estar lá também. Daqueles que fala comigo de todos os interesses de que me lembre; daqueles que estaria calado se me visse escrever, há momentos que não se partilha.
Sabe, a indecência de tudo isto é-me indiferente. Somos adultos e sabê-mo-lo. Somos adultos no meio de adultos; adultos em reunião, adultos ao jantar, adultos no teatro, adultos na cama. Sabe, orgulha-me ser uma escolhida. Por si; é um elogio. Somos cúmplices durante o período suficiente e não queremos mais daí; é mais do que suficiente; não somos apaixonados, nem sequer amantes; só cúmplices. Cúmplices de afinidades.
Sabe, não interessa quando isto acabe. Esta nossa liaison é uma elegância inatingível; uma pena estar escondida…

Outubro de 2006