Ciclo S - Liaison
Sabe, essa sua maneira de me intimidar está a esgotar a capacidade. Estou a readquirir o auto-controlo e depois de o fazer será impossível voltar a desconcentrar-me. Foi um início diferente, este que tivemos; surpreendente. Desconcertante. Mas fico contente, por despertar estas reacções, por instigar estas necessidades. E confesso, sim admito, que o acho interessante, principalmente por me afectar daquela maneira, me desconcentrar ao nível da insensatez. Mas só enquanto isso não for perceptível para outras pessoas, só enquanto eu mantiver esta inquietude sozinha dentro de mim, do meu corpo; só enquanto a minha pele a suster.
Sabe, esta situação agrada-me. Gosto que saiba que me inquieta, como gosto que saiba que eu sei que o inquieto. Gosto dos olhares de receio; a nossa indiscrição não pode ser descoberta, demasiado inverosímil para ser verdade. E gosto da auto-estima. Gosto que perceba que estamos ambos em cima de uma corda, muito longe do chão, a rede é a nossa discrição; tudo o resto é audácia.
Sabe, essa maneira de olhar para mim como se o seu sorriso fosse mentiroso, atrai-me ainda mais, porque há qualquer coisa que o trai, acho que o movimento dos olhos, o eye-smiling; só para mim. Talvez seja essa revelação, felizmente sóbria; não suportaria que se denunciasse; que me faz baixar a guarda. É só mais um, espero que saiba também, mas um que há muito não aparecia. Torna-se aborrecido quando ninguém nos afecta; um marasmo de possibilidades.
Sabe, você é a iniciativa que eu queria construir com alguém que fosse suficientemente interessante. Deve ser daqueles que cozinha o jantar indicado, escolhe o vinho certo e ainda se lembra que exposição devemos ir ver. A uma hora própria, que a sua mulher pode estar lá também. Daqueles que fala comigo de todos os interesses de que me lembre; daqueles que estaria calado se me visse escrever, há momentos que não se partilha.
Sabe, a indecência de tudo isto é-me indiferente. Somos adultos e sabê-mo-lo. Somos adultos no meio de adultos; adultos em reunião, adultos ao jantar, adultos no teatro, adultos na cama. Sabe, orgulha-me ser uma escolhida. Por si; é um elogio. Somos cúmplices durante o período suficiente e não queremos mais daí; é mais do que suficiente; não somos apaixonados, nem sequer amantes; só cúmplices. Cúmplices de afinidades.
Sabe, não interessa quando isto acabe. Esta nossa liaison é uma elegância inatingível; uma pena estar escondida…
Sabe, essa sua maneira de me intimidar está a esgotar a capacidade. Estou a readquirir o auto-controlo e depois de o fazer será impossível voltar a desconcentrar-me. Foi um início diferente, este que tivemos; surpreendente. Desconcertante. Mas fico contente, por despertar estas reacções, por instigar estas necessidades. E confesso, sim admito, que o acho interessante, principalmente por me afectar daquela maneira, me desconcentrar ao nível da insensatez. Mas só enquanto isso não for perceptível para outras pessoas, só enquanto eu mantiver esta inquietude sozinha dentro de mim, do meu corpo; só enquanto a minha pele a suster.
Sabe, esta situação agrada-me. Gosto que saiba que me inquieta, como gosto que saiba que eu sei que o inquieto. Gosto dos olhares de receio; a nossa indiscrição não pode ser descoberta, demasiado inverosímil para ser verdade. E gosto da auto-estima. Gosto que perceba que estamos ambos em cima de uma corda, muito longe do chão, a rede é a nossa discrição; tudo o resto é audácia.
Sabe, essa maneira de olhar para mim como se o seu sorriso fosse mentiroso, atrai-me ainda mais, porque há qualquer coisa que o trai, acho que o movimento dos olhos, o eye-smiling; só para mim. Talvez seja essa revelação, felizmente sóbria; não suportaria que se denunciasse; que me faz baixar a guarda. É só mais um, espero que saiba também, mas um que há muito não aparecia. Torna-se aborrecido quando ninguém nos afecta; um marasmo de possibilidades.
Sabe, você é a iniciativa que eu queria construir com alguém que fosse suficientemente interessante. Deve ser daqueles que cozinha o jantar indicado, escolhe o vinho certo e ainda se lembra que exposição devemos ir ver. A uma hora própria, que a sua mulher pode estar lá também. Daqueles que fala comigo de todos os interesses de que me lembre; daqueles que estaria calado se me visse escrever, há momentos que não se partilha.
Sabe, a indecência de tudo isto é-me indiferente. Somos adultos e sabê-mo-lo. Somos adultos no meio de adultos; adultos em reunião, adultos ao jantar, adultos no teatro, adultos na cama. Sabe, orgulha-me ser uma escolhida. Por si; é um elogio. Somos cúmplices durante o período suficiente e não queremos mais daí; é mais do que suficiente; não somos apaixonados, nem sequer amantes; só cúmplices. Cúmplices de afinidades.
Sabe, não interessa quando isto acabe. Esta nossa liaison é uma elegância inatingível; uma pena estar escondida…
Outubro de 2006
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