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Recomendações 84

Our man in Tehran

Um conjunto de vídeos informativos, esclarecedores, elegantes e jornalisticamente neutros sobre situações na vida de pessoas no Irão, da autoria de Thomas Erdbrink e Roel Van Broekhove, que recomendo vivamente. Desde uma percepção de grupo pouco inquisitiva sobre a escassez de água no caudal de um rio à possibilidade de uma “justiça” assente numa premissa de “olho por olho”, mas só quando não há mulheres envolvidas, os vídeos exploram episodicamente a visão de pessoas iranianas numa sociedade que querem, ou não, mudar. 
Obrigada, L., pela partilha!

Pensamentos líquidos 119

A crueldade dos seres I - A coragem de alguns 

Sinto-me culpada sempre que há algo que merece a minha atenção e não lhe dispenso as linhas necessárias. Mas, muitas vezes, não consigo reconciliar-me com a crueldade que vemos, com a pluralidade de lutas que temos que lutar. E escondo-me, minimizo-me sem lutar, sem escolher algumas das lutas que me são mais próximas. Mas não o faço sem me recriminar…
Desde a última vez que vos escrevi, a propósito da greve de fome de Luaty Beirão, que tenho sido pejada de culpa por não fazer mais. Desde esse dia, aconteceram tantas coisas. Foi tanta a crueldade que prevaleceu. E eu devia fazer mais.
O julgamento dos ativistas angolanos, acusados de atos preparatórios a uma rebelião e de atentado contra José Eduardo dos Santos, começou no dia 16 de novembro. Um dos atos terríveis que alegadamente cometeram foi discutir o livro “Ferramentas para destruir o ditador e evitar nova ditadura — Filosofia Política da Libertação para Angola” de Domingos da Cruz, baseado no livro de Gene Sharp “From Dictatorship to Democracy, a conceptual framework for liberation”. Aliás, houve uma leitura pública do livro em Lisboa, no dia em que o julgamento começou, que quero aplaudir. Um livro crítico é uma coisa perigosíssima para um ditador. Porque, para um ditador, o conhecimento é terrível; equipa o povo com uma arma imensa de luta: a razão crítica. E os ditadores não se dão muito bem com a razão ou com a crítica… 
Para além do acusação ser ridícula, no pressuposto de alguma liberdade de expressão e num estado de direito (bem sei, bem sei, pouco estados são verdadeiramente estados de direito), os advogados de defesa não terão tido acesso aos processos e, com o atrasar das audições, chegou a temer-se não haver decisão antes das férias judiciais. Espero que os desenvolvimentos a relatar, no futuro, sobre o julgamento não envergonhem ninguém que defenda os direitos e as liberdades individuais. 
E espero que o mundo se mantenha atento ao que se passa em Angola. Como já disse antes, o mundo não tem o direito de os desiludir.

Pensamentos líquidos 115

Je suis Charlie aussi

Nos últimos dias, após o ataque às pessoas que trabalhavam para o Charlie Hebdo e a sequência posterior de eventos, houve uma indignação generalizada do mundo. Houve uma indignação contra a violência e contra o ataque à liberdade de expressão. E esta é, para mim, uma indignação válida. Pode não ser indignação suficiente, mas é válida.
Muito se tem falado e escrito sobre o ataque. Mas no meio de tanta tinta, parece-me ter sido um pouco negligenciado o que estes ataques significam, para além de pura e malevolente crueldade. Estes ataques significam medo de quem questiona. Medo do esclarecimento. Medo da consciência. Não quero, como pessoa convictamente ateia que sou, fazer uma crítica generalizada à religião. Até porque isso seria, naturalmente, idiota. Também não quero entrar nas questões filosoficamente relevantes porque, bem... tiraria o foco deste texto. Quero apenas dizer que a religião míope praticada por essas pessoas que se dizem fieis, mas andam por aí a matar outros, cresce e prolifera muito mais facilmente na ignorância. Na ausência de sentido crítico. E os cartoons significavam essa necessidade de não aceitar sem questionar. Eu espero que com esta indignação (re-)nasça um novo movimento pelo esclarecimento, pelo conhecimento. Que, na verdade, já tem uma madrinha tão nobre na Malala.
Muito se tem falado e escrito sobre o ataque. E no meio de tanta tinta, parece-me haver alguns excessos. Para algumas pessoas, a indignação tem sido desproporcionada porque não encontrou igual noutros casos igualmente repudiáveis. Eu acho que não devemos ficar indignados com a indignação legítima contra a crueldade, contra a violência gratuita, contra a ignorância. Devemos, sim, ficar muito, mas mesmo muito, indignados quando Assad e o Estado Islâmico continuam a matar pessoas, mais ou menos indiscriminadamente, e ninguém se indigna. Devemos ficar indignados quando a Rússia mata ucranianos na Crimeia e meio mundo olha para o lado. Devemos ficar indignados quando violam mulheres na Índia e saem impunes. Devemos ficar indignados com os ataques israelitas aos palestinianos em Gaza. Devemos ficar indignados com os raptos do Boko Haram. Devemos ficar indignados. As pessoas sofrem. As pessoas morrem.
As pessoas morrem... E muitos esquecem. Sim, devemos ficar indignados com isso. Não com a indignação do que indigna.

Pela indignação


Eddie Vedder e Paulo Furtado, cover de Masters of War, de Bob Dylan

Homenagens 63

Objector de consciência

Jovem, que se recusa participar na exército israelita devido aos seus actos violentos contra o povo palestiniano, é sistematicamente preso pelas autoridades israelitas. São pessoas assim que me lembram por que é que é preciso lutar.

Conscript facing jail again for refusing to go against his conscience | Amnesty International

Apontamentos fugazes 167

Fundamentalismo religioso mascarado de simpatia

A idiotice em vídeo: aparentemente este senhor acha que a fé cristã salvará Tiger Woods. Um must see que dá simultaneamente vontade de rir e chorar.

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Recomendações 45

Ágora

Um filme muito interessante de um realizador de quem gosto.


Hypatia: “You cannot question what you believe. I must”.



Ágora de Alejandro Amenábar, trailer
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Apontamentos fugazes 152

One of the reasons why I think communism is dreadful

«’You are very clever,’ Liz observed approaching her.
‘I am a worker,’ the woman replied acidly. ‘The concept of brain workers must be destroyed. There are no categories, only workers; no antithesis between physical and mental labour. Haven’t you read Lenin?’
‘Then the people in this prison are intellectuals?’
The woman smiled. ‘Yes,’ she said ‘they are reactionaries who call themselves progressive: they defend the individual against the state. Do you know what Khrushchev said about the counter-revolution in Hungary?’
(...)
‘He said it would never have happened if a couple of writers had been shot in time.’»

«The spy who came in from the cold», John le Carré, Hooder, pp. 210

Pensamentos líquidos 100

Outrageous

Mais uma activista russa assassinada: Natalya Estemirova. Eu acho que é altura de se fazer qualquer coisa nestes regimes totalitaristas nos quais se assassina todas as pessoas que dizem coisas que são inconvenientes.

It’s time for the UN to really step up.
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Pensamentos líquidos 98

Obama’s speech in Cairo

Pode ser um discurso cheio de Deus, de deuses, de religião, de religiões. Pode ser um discurso que, como já li, não faz a verdadeira separação entre o Estado e a religião. Pode ser um discurso cheio de citações de textos religiosos.

Podia ser um discurso falhado. Mas não foi. Foi um discurso brilhante.

O que o tornou um discurso brilhante (claro, é uma opinião pessoal) foram as regras básicas do discurso e uma capacidade notável de as pôr em prática, de escolher as palavras certas, as frases apelativas, a retórica apropriada.

Este tornou-se um discurso muito esperado, o discurso “decisivo”. Não podia ser um discurso agressivo, intolerante, mas também não podia ser cobarde, escamoteado. E o Obama e a sua equipa conseguiram um equilíbrio admirável no texto.

Um discurso serve para transmitir ideias. Mas só produz efeitos se a audiência tiver interesse na mensagem. Por isso é que Obama citou com frequência textos religiosos: porque ele precisava de conseguir o interesse da audiência na mensagem. E a audiência era composta fundamentalmente de pessoas religiosas. Quer me agrade ou não, quer partilhe os princípios ou não, eu não vou falar dos glaciares às pessoas do Sahara quando quero que elas embarquem comigo numa viagem por um objectivo comum. Vou falar-lhe dos interesses e preocupações comuns. Vou tentar criar afinidade.

Acho que todos temos que nos lembrar que Obama estava em território hostil. Hostil porque, depois dos últimos anos, é demasiado fácil criticar os EUA. Hostil por causa da relação dos EUA e de Israel. Hostil pela dificuldade que é limpar uma imagem.

E, na minha opinião, Obama conseguiu ultrapassar isso sem abdicar dos pontos fundamentais. Não é por suportar a causa de um Estado palestiniano que deixou de condenar os ataques suicidas. Não é porque o que aconteceu a seguir foi errado, que deixou de relembrar a tragédia do 11 de Setembro. E o fundamental aqui foi (e será sempre) o respeito pelos direitos humanos. E ele conseguiu transmitir isso, seja na maneira subtil como introduziu o respeito pela escolha, seja no modo como falou do direito a viver sem ter um alvo na testa.

Eu sei. Eu sei. Tenho uma simpatia grande por ele. E pelo rapaz que escreve os discursos, se bem que dizem que o próprio Obama trabalhou bastante neste. Mas leiam o discurso. Leiam-no, tendo em mente o objectivo, tendo em mente o passado pesado que os EUA têm em relação ao mundo árabe. Leiam-no e deixem-se inebriar se for esse o caso. Eu li-o assim e se o Obama me aparecesse aqui enquanto o lia e me dissesse que o mundo ia mesmo ser um mundo melhor, eu achava que o Alberto Caeiro estava errado e que feliz seria eu e todos os que vivem a vida a querer inventar a máquina de fazer felicidade.


Uns excertos

«Of course, recognising our common humanity is only the beginning of our task. Words alone cannot meet the needs of our people. These needs will be met only if we act boldly in the years ahead; and if we understand that the challenges we face are shared, and our failure to meet them will hurt us all.

For we have learned from recent experience that when a financial system weakens in one country, prosperity is hurt everywhere. When a new flu infects one human being, all are at risk. When one nation pursues a nuclear weapon, the risk of nuclear attack rises for all nations. When violent extremists operate in one stretch of mountains, people are endangered across an ocean. And when innocents in Bosnia and Darfur are slaughtered, that is a stain on our collective conscience. That is what it means to share this world in the 21st century. That is the responsibility we have to one another as human beings.

This is a difficult responsibility to embrace. For human history has often been a record of nations and tribes subjugating one another to serve their own interests. Yet in this new age, such attitudes are self-defeating. Given our interdependence, any world order that elevates one nation or group of people over another will inevitably fail. So whatever we think of the past, we must not be prisoners of it. Our problems must be dealt with through partnership; progress must be shared.

That does not mean we should ignore sources of tension. Indeed, it suggests the opposite: we must face these tensions squarely.
(…)
The issues that I have described will not be easy to address. But we have a responsibility to join together on behalf of the world we seek – a world where extremists no longer threaten our people, and American troops have come home; a world where Israelis and Palestinians are each secure in a state of their own, and nuclear energy is used for peaceful purposes; a world where governments serve their citizens, and the rights of all God's children are respected. Those are mutual interests. That is the world we seek. But we can only achieve it together.

I know there are many – Muslim and non-Muslim – who question whether we can forge this new beginning. Some are eager to stoke the flames of division, and to stand in the way of progress. Some suggest that it isn't worth the effort – that we are fated to disagree, and civilisations are doomed to clash. Many more are simply skeptical that real change can occur. There is so much fear, so much mistrust. But if we choose to be bound by the past, we will never move forward. And I want to particularly say this to young people of every faith, in every country – you, more than anyone, have the ability to remake this world.

All of us share this world for but a brief moment in time. The question is whether we spend that time focused on what pushes us apart, or whether we commit ourselves to an effort – a sustained effort _ to find common ground, to focus on the future we seek for our children, and to respect the dignity of all human beings.

It is easier to start wars than to end them. It is easier to blame others than to look inward; to see what is different about someone than to find the things we share. But we should choose the right path, not just the easy path. There is also one rule that lies at the heart of every religion – that we do unto others as we would have them do unto us. This truth transcends nations and peoples – a belief that isn't new; that isn't black or white or brown; that isn't Christian, or Muslim or Jew. It's a belief that pulsed in the cradle of civilisation, and that still beats in the heart of billions. It's a faith in other people, and it's what brought me here today.

We have the power to make the world we seek, but only if we have the courage to make a new beginning, keeping in mind what has been written.»
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Pensamentos líquidos 97

Exposição: pensamentos sobre activismo (social) e qualidade de vida individual

Estava a ver o Milk e comecei a ter um conjunto de pensamentos na minha cabeça que precisava de ser escrito. Um conjunto de pensamentos emaranhado que, no entanto, apresentava convicções muito fortes. E quando reparei tinha páginas de parágrafos desconexos, cheios de intensidade, mas pouca coerência. A incoerência devia-se provavelmente a duas coisas: primeiro, não conseguia parar de chorar enquanto escrevia e segundo, a minha mente não funciona linearmente.

Tentei uma depuração, mas precisava tanto de gritar estas ideias. Tanto. Se escrevesse este texto há alguns (poucos) anos atrás, escrevê-lo-ia certamente de um ponto de vista diferente. Mas não hoje, não agora, quando as minhas ideias estão mais inseguras, mas algumas das minhas convicções mais fortes do que nunca.

E por isso vou aproveitar para dedicar este texto a algumas pessoas. Primeiro e acima de tudo, às pessoas que nunca abdicaram de mim por nenhum bem maior ou por egoísmo e segundo às pessoas que conheço e para quem sei que a luta do Milk foi importante.



Começando pelo Milk. A jeito de “sinopsear” o filme, Harvey Milk é um activista dos direitos dos homossexuais e torna-se político, tendo os direitos dos homossexuais como a prioridade da sua “agenda”. E é assassinado. Enquanto Milk luta pela defesa dos direitos dos homossexuais negligencia a relação com o seu companheiro. Destrói a relação com a pessoa de quem gosta, que por acaso é um homem. E se, por um lado, a sua luta é tão meritória que não devia sequer existir, por outro, é tão triste que simultaneamente inviabilize a possibilidade de usufruir de eventuais ganhos dessa luta. A luta social que encetou prejudicou-o e prejudicou a outra pessoa que mais interesse também teria nessa luta – o seu companheiro 1.

Porquanto Milk não quis ser assassinado e não “escolheu” sê-lo, escolheu continuar a luta em favor da sociedade em detrimento de escolher o seu companheiro. E isto é uma merda. Muito sinceramente, da maneira como eu agora vejo isto, ele tinha as prioridades trocadas. E, no entanto, para as outras pessoas que beneficiaram da sua luta, do seu comportamento, a vida melhorou. E, no entanto, eu admiro a sua luta tremendamente. Mas só porque não sou o Scotty.


Em geral, viver uma vida é uma coisa complicada e difícil. Pelo menos quando se pensa um bocadinho nela. E tudo piora muito quando as pessoas de quem se gosta abdicam de nós por um “bem maior”. Pois bem, a minha tese é que não há bem maior.

A “sociedade” impacta a vida de cada indivíduo de maneiras que, por vezes, parecem indiciar que não é sequer composta também por esses indivíduos. De facto, em “sociedades ideais”, não deveria haver impactos em liberdades individuais pela força “externa” da sociedade. Como não deveria haver violações de direitos humanos. Mas há. E são estes impactos que requerem que se continue a lutar. A lutar por direitos e a lutar por liberdades. E portanto a promover este activismo social.

Mas pelo bem de cada indivíduo activista e de todos os que lhes são próximos, não se deve achar que há um bem maior que merece todos os sacrifícios. A maior parte dos activistas de que me lembro, mesmo garantindo a melhoria de condições de vida para alguns indivíduos, tiveram a sua vida pessoal arruinada. E não me refiro só aos que foram assassinados.

Por isso e só para evitar equívocos: eu não estou a dizer que não se deve lutar. Pelo contrário: deve lutar-se até ao limite possível, mas não se deve chegar à “martirização” da luta ou da causa, mesmo quando válida. E por isso é que é importante ter grupos civis que funcionem como lobbies ao poder político. Por isso é que é importante garantir que as pessoas têm liberdade para promover essa luta. Por isso é que é importante que todas as pessoas que acreditam que algumas coisas estão mal façam qualquer coisa. Porque se fizerem, haverá menos mártires não intencionais.

A garantia da prevalência de direitos humanos e de liberdades individuais é tão importante como a garantia do respeito pela vida. E isto porque viver uma vida é muito mais do que sobrevivê-la. É saber que se pode gostar de um rapaz ou de uma rapariga e não haver nada de errado nisso. É saber que não há KKKs a incendiarem casas e a matarem pessoas. É saber que um muçulmano aceita um cristão, um cristão aceita um muçulmano e que ambos aceitam ateus.

De cada vez que, em Portugal, me encontro com amigos homossexuais em sítios públicos e percebo que não se sentem sequer confortáveis em ter manifestações normais de afecto, tenho vontade de bater às pessoas que estão por perto. Porque não devia ser assim. E por isto, sim, eu devo lutar. Todos vocês devem lutar. Quando uma coisa ridícula como casar não é permitido a alguém só pelo sexo das pessoas; sim, deve lutar-se.

Esta é a minha pequena tentativa activista. Um dos meus gritos como os banners ali na barra de lado. Mas é também a minha tentativa de dizer que o activismo só vale a pena porquanto permite viver melhor. E ser morto por isso (à excepção de quem, legitimamente, acha que essa também é uma via) em geral não vale a pena.

Porque se o activismo normalmente tem inerente características sociais (pelo menos no que eu me quero referir aqui), é sempre verdade que a sociedade é composta por indivíduos. E por muito que às vezes me digam que o todo é maior do que a soma das partes, eu vou continuar a achar que o todo será sempre menor do que um indivíduo que seja. E eu não acho que haja um bem maior na sociedade, per se. Mas há um bem muito maior em cada indivíduo de cada sociedade.

Por isso deixa-me muito contente sempre que cada pessoa dentro “da sociedade” pode fazer algo que a deixa um bocadinho, um bocadinho que seja, mais feliz por causa de um objectivo atingido na luta pela garantia de direitos humanos e de liberdades individuais.

E ainda assim. Há uma angústia terrível que não me abandona. Há uma angústia terrível porque penso em todos os activistas mortos. Em todos os activistas que, ainda que garantindo a melhoria de condições de vida para alguns indivíduos, tiveram a sua vida pessoal arruinada.

Choro. Choro pela injustiça. De todos os casos que aconteceram. E porque sei que vai continuar a acontecer.


1 Para garantir a veracidade das coisas, note-se que esta visão só é abordada no filme na segunda relação de Milk. E eu escrevi o texto antes de ver essa parte do filme, portanto refiro-me à primeira relação retratada no filme.
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Pensamentos líquidos 78

UK vs USA

Posso começar com o famoso «as sondagens valem o que valem», mas se se tiver em atenção as limitações que lhes são inerentes, podem sempre resultar em análises interessantes. E neste caso, o que é que temos? Uma avaliação das semelhanças e das diferenças entre Britânicos e Norte-Americanos em relação a temas-base, como os valores, a religião ou as acções militares. Se a hipótese nula for que a ligação que une estes dois conjuntos de estados é forte então, com esta sondagem, temos uma notável rejeição de H0.

Convido-vos a ler o artigo da Economist e a enlarge the [other] picture que contém o detalhe das perguntas feitas e das respostas recebidas. É interessantíssimo.




Agora, do que a minha experiência pode comentar, digo-vos que não há cidade alguma em que me sinta tão “livre” como em Londres. Londres é o verdadeiro melting pot dos livros de inglês do 5º ano; onde a diferença interessa pouco e muito, simultaneamente. Pouco porque, na generalidade, não levanta questões; mas muito porque as diferenças são aceites e respeitadas. Em Londres, um casal homo ou heterossexual de mão dada é só um casal de mão dada, não há mais nada a comentar (nem em São Francisco é assim, onde a sensação de ghettos, mais ou menos chiques, prevalece). Em Londres, um punk de cabelo rosa e 25 piercings é só mais uma pessoa.

Se, em Londres, confesso nem sequer ser ateia porque o ateísmo já é uma negação e eu nem sequer tenho um deus para negar, dizem talvez ser uma discussão filosófica interessante. Nos EUA, dir-me-iam «oh, my poor girl, your soul will burn in hell for that heresy».

Quando chego a Londres, apesar dos apertados controlos de segurança que roçam muitas vezes o insuportável, não me sinto uma terrorista. À entrada nos EUA, consigo imaginar pessoas a confessarem horrores que nunca cometeram só para não se sentirem tão mal por serem “estrangeiros”.

É curiosíssimo, de uma sociedade que se julga “tradicionalista”, a Inglaterra representada em Londres é do mais liberal (não gosto nada de utilizar esta palavra, mas sinceramente não me lembrei de uma melhor) que se possa conceber.

E por aqui me fico. Já escrevi demais quando, na verdade, só vos queria dar a conhecer o artigo. Mas as palavras brotam. Nestas coisas. Nestas coisas.
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Pensamentos líquidos 69

Mundo de pernas para o ar

«Miúdos de treze anos que provocam.» Quem? Perguntais vós? Aos pobres padres adultos. Diz o bispo de Tenerife sobre o abuso sexual a menores. E diz mais, muito mais, como se isto, por si só, não fosse suficiente. Di-lo aqui.

[via Renas]

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Pensamentos líquidos 63

Ironia

No fundo, no fundo, Milan Kundera foi “auto-expulso” da Checoslováquia quando achou ser insuportável continuar a viver num país que o desiludiu, o renegou. Na década de 70, os seus livros foram banidos da Checoslováquia, perdeu o emprego e mais tarde a nacionalidade checoslovaca pelo envolvimento na Primavera de Praga e pelo conteúdo dos seus livros. Passou a residir numa França que o acolheu. Passou a escrever em francês.

É-lhe agora atribuído o Prémio Checo da Literatura. E pelos vistos «(…) o escritor suscita alguma reserva no seu país, devido a ter decidido abandonar a sua língua para passar a escrever em francês e a nunca ter dado prioridade à edição em checo»

Poupem-me. Se fosse eu, faria muito pior.

Apontamentos fugazes 60

Quem foi o maroto que disse que havia homossexuais no Irão?

Apontamentos fugazes 47

É hoje

que vou começar uma revolução. For freedom. Querem juntar-se a mim?



[Arcade Fire - My body is a cage]

Pensamentos líquidos 51

A língua na arte

Prefácio

Isto anda a atormentar-me a mente há muito tempo. O Sam the kid decidiu (?), no tema «Poetas de karaoke» criticar veementemente todos os portugueses que fazem arte noutra língua. Ora, o que é que ele diz? Coisas como as que transcrevo abaixo…

Dizem que cantam hip hop, mas não dizem nada,
Vêm com poesia mas é só fachada
O português não ‘tá cansado eles vêm com o inglês,
Eu pratico praticando a nossa língua outra vez
(…)
Isto é pa tugas que nunca escrevem na língua raiz
Querem ser internacionais mas ‘tão cá no país
(…)
Eu nunca precisei de ouvir hip hop tuga pró fazer
Isso é que dá mais prazer, o meu idioma exploração
Vocês tentam outra língua pra tentar exportação
Querem ser os "moonspell" querem novos horizontes
Mas aqui o samuel é madredeus é dulce pontes
Porque há uma identidade, vocês são todos idênticos

E o que é que eu tenho para dizer sobre isto?

1. Duvido sempre de quem acha que a arte é pura construção. Eu não escrevo em português só porque quero. Escrevo em português quando quero e quando tenho que. Escrevo em inglês quando quero e quando tenho que. E o facto de não dominar outras línguas do mesmo modo que domino estas não me impediu de já ter escrito noutras línguas também. Porquê? Porque precisei e porque quis;
2. Mesmo supondo que a arte é pura construção, que motivos existem para alguém escrever na sua língua de origem? Nenhum que eu veja racional. A arte é uma forma de expressão aliada a um exercício estético, nunca deveria ser entendida como uma bandeira. Imagino que o Sam também critique pintores, artistas plásticos, aliás todos aqueles que não usem a sua língua original para expressarem a arte;
3.Ele assume, toma como dado ou acredita mesmo, que uma nacionalidade ou uma língua confere ou, pelo menos, compõe uma identidade. Eu acho isto, no mínimo, espúrio. Acho que podemos estar muito mais perto de pessoas cujo BI é muito diferente do nosso, mas que partilham connosco características intrínsecas e criadas; ou seja, a identidade pode ser completamente díspar dos factores que não podemos influenciar à partida (e.g., sexo, nacionalidade, cor de pele,…);
4. Critica directamente pessoas que decidem (?) fazer / fazem arte noutras línguas e utiliza os Moonspell como bode expiatório e chega a avançar motivos oportunistas para eles o fazerem. Julgo mesmo ter havido uma discussão entre ele e os Moonspell a este propósito.

Carta aberta ao Sam the kid e demais

Sam, m’man

Ouço hip hop há muito. Por acaso, até ouço muito hip hop português. Por ser português? Não. Porque gosto. Esta tua letra só fez com que eu tivesse perdido toda a vontade de te ouvir. Detesto nacionalismos. Perdeste uma pessoa que até podia comprar os teus álbuns, a tua obra. Agora vou achar sempre que, para além da tua arte não ser suficientemente “pura”, o importante para ti não é a arte, mas o acessório, a maneira de a fazer e que, por isso, a tua obra é pouca… artística.

Acho muito desagradável que critiques quem quer fazer/faz arte de outro modo. Considero que, acima de tudo, não tens nada a ver com isso. E, se calhar, até mordias a língua antes de falar dos Moonspell. É que começo a ficar com a sensação que a qualidade para ti não é relevante, só a língua e essa, meu caro, é só uma característica.

Falo de barriga cheia. Gosto imenso de trabalhar o português. Podia não gostar, mas acho o português uma língua muito interessante – dá trabalho, mas tem uma potencialidade enorme. Mas já dizia o senhor Wittgenstein que só existe aquilo que sabemos dizer e, quando o português não me permite dizer o que sei existir, fico muito orgulhosa em poder utilizar outras línguas. As complementares de uma língua são aquilo que lhe quebra as correntes e, digo-te, todas as línguas têm correntes. Eu? Detesto estar presa; talvez tu gostes de estar agrilhoado.

Felizmente a minha arte é a minha liberdade, a minha catarse, a minha certeza de perfeição. A tua pode ser a prisão e eu respeito, é tua. Mas nunca te atrevas a criticar a maneira como eu vejo a minha.

Got the point?

Rita

Recomendações 16

Arraial Pride 2007

Lésbico, gay, bissexual, transgénero e hetero


Pensamentos líquidos 49

Cuidado com o voto!

Ainda estou boquiaberta com o que ouvi do Sr. José Pinto Coelho – candidato do PNR à CML – mesmo agora, no Jornal da 2. Nem consigo dizer nada. De xenofobia a homofobia, ele em poucas frases atentou contra toda a sensatez humana. Quer fechar as lojas de produtos chineses, acabar com todas as associações homossexuais, utiliza expressões como comportamento desviante e anormalidade para se referir a relações homossexuais.

Não sabia que ainda se faziam espécimes destes. Ah, já sei, não deve vir da China.

Repto: Cuidado com estes senhores! Eu não sobrevivo sem a minha medicina chinesa. Nem quero deixar de ver o Queer as Folk.
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