Apontamentos fugazes 143

I wish I was
I wish I was

Still

A woman like a man
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Apontamentos fugazes 143

Hope there's someone

Hope there's someone
Who'll take care of me
When I die, will I go
Hope there's someone
Who'll set my heart free
Nice to hold when I'm tired
There's a ghost on the horizon
When I go to bed
How can I fall asleep at night
How will I rest my head
Oh I'm scared of the middle place
Between light and nowhere
I don't want to be the one
Left in there, left in there
There's a man on the horizon
Wish that I'd go to bed
If I fall to his feet tonight
Will allow rest my head
So here's hoping
I will not drown
Or paralyze in light
And godsend I don't want to go
To the seal's watershed
Hope there's someone
Who'll take care of me
When I die, Will I go
Hope there's someone
Who'll set my heart free
Nice to hold when I'm tired

from "I am a bird now", Antony and the Johnsons
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Diabólico

Até agora, tinha 666 posts publicados.
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Trivialidades 176

Som

No sítio onde agora trabalho não há música. Nem sequer “media player” instalado nos computadores. E não consigo pôr o meu Ipod a funcionar. Para mim este é um sítio difícil. Trabalho em condições precárias porque trabalho sem música.

A minha colega de gabinete foi-se embora; fiquei sozinha e decidi hoje utilizar um daqueles sites onde se pode ouvir música online. Criei a minha rádio e enchi-a de Antony and the Johnsons e fiquei contente porque subitamente podia trabalhar a ouvir música.

Mas tenho que ter muito cuidado porque o som tem que estar suficientemente baixinho (o suficiente para eu e mais ninguém ouvir). O que significa que tem que "passar" o som do ar condicionado que é altíssimo, mas não chegar à porta. Um equilíbrio difícil.

Passadas algumas horas percebi que havia um gemido dentro do meu gabinete. Um gemido constante. Um gemiiiidddooooo. O ar condicionado tinha abafado a minha música e o Antony só gemia. Um gemido doloroso.

Ainda assim. Prefiro ter o Antony a gemer baixinho algures perto das minhas pernas do que não ouvir nada para além do ar condicionado.
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Apontamentos fugazes 141

Possibilidades

Não são as possibilidades que tenho por estar no sítio onde estou, mas todas as que perco por não estar em todos os outros.

Poemas 34

Colo

Adoro-te mesmo quando duvido de mim,
enquanto me sinto fragmentos esparsos
porque sei que me sabes colar os bocados.

Adoro-te, ausente e presente nos meus dias
porque me acalmas a dor com palavras
que escreves em conversas de nadas.

Adoro-te nas horas em que me escondo
para partilhar minutos comigo, a sós,
porque me conforta saber que existes.

Adoro-te até à loucura da possibilidade
porque posso dormir no teu colo,
quando sou menos do que um espectro.

Adoro-te porque sei por que te adoro
quando sorrimos cúmplices, nas manhãs
em que acordamos ao mesmo tempo…

[Outubro de 2007]

Apontamentos fugazes 140

Kitchen for one – half a life

“He was standing in what the old man would have called his kitchen: the window-sill with the gas ring on it, the tiny home-made food-store with holes drilled for ventilation. We men who cook for ourselves are half-creatures, he thought as he scanned the two shelves, tugged out the saucepan and the frying-pan, poked among the cayenne and the paprika. Anywhere else in the house – even in bed – you can cut yourself off, read your books, deceive yourself that solitude is best. But in the kitchen the signs of incompleteness are too strident. Half of one black loaf. Half of one coarse sausage. Half an onion. Half a pint of milk. Half a lemon. Half a packet of black tea. Half a life.”

«Smiley’s people», John le Carré, Hodder & Stoughton, 2006, pp. 91
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Trivialidades 175

Eurovisão

Não imaginam como a Eurovisão é uma coisa com impacto na Alemanha.
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Trivialidades 174

Nadal

Isn’t he just lovely?





[Rafa Nadal – Djoko, semi Madrid, 2009]

Apontamentos fugazes 139

George Orwell

Lovely, lovely article about Eric Blair (para o público George Orwell)
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Apontamentos fugazes 138

Avulsos

Islândia na UE. Depois do que aconteceu... pois. Eles não se podem esquecer que um dos princípios da UE é a solidariedade.

Berlusconi não quer uma Itália multi-étnica. Eu gostava de ter um mundo sem Berlusconi.

Nobel da Paz possível presidente da república guatemalteca.

Artigo engraçado sobre o que pessoas famosas dizem e que normalmente é mentira
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Poemas 33

Pretend

Do I have to pretend again?
That I need to write
Whilst I have nothing to say?

Do I have to pretend again?
While I am so lost,
In this immense place
I can’t find my ways.

Do I have to pretend again?
There are still ways out
While all doors are closed
And I am in chains.

Do I have to pretend again?
Just for all other people
To feel better and in peace
While I am being torn apart.

Do I have to pretend again?
When my time is elapsing sand
Escaping of my hourglass destiny
Into my hole of despair.

Do I have to pretend again?
That I need to write
When I just want to escape.

[Maio de 2009]

Apontamentos fugazes 136

Educated migration

“I was probably the dumbest out of all guys at work, or at least the worst educated. We got African doctors, Albanian lawyers, Iraqi chemists… I was the only one who didn’t have a college degree. (I don’t understand how there isn’t more pizza-related violence in our society. Just imagine: you’re like the top whatever in Zimbabwe, brain surgeon or whatever, ant then you have to come to England because the fascist regime wants to nail your ass to a tree, and you end up being patronized at three in the morning by some stoned teenage motherfucker with the munchies… I mean, shouldn’t you be legally entitled to break his fucking jaw?)”

JJ in «A long way down», Nick Hornby, Penguin, pp. 23
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Trivialidades 173

A imagem do dia


[Drogba, depois da meia final Barcelona-Chelsea da Liga dos Campeões]

Trivialidades 172

Quero o meu acupunctor!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Não consigo pensar. Estou agitada. E tudo se resolvia com uma ida ao meu acupunctor. Bolas. Bolas. Bolas.
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Pensamentos líquidos 97

Exposição: pensamentos sobre activismo (social) e qualidade de vida individual

Estava a ver o Milk e comecei a ter um conjunto de pensamentos na minha cabeça que precisava de ser escrito. Um conjunto de pensamentos emaranhado que, no entanto, apresentava convicções muito fortes. E quando reparei tinha páginas de parágrafos desconexos, cheios de intensidade, mas pouca coerência. A incoerência devia-se provavelmente a duas coisas: primeiro, não conseguia parar de chorar enquanto escrevia e segundo, a minha mente não funciona linearmente.

Tentei uma depuração, mas precisava tanto de gritar estas ideias. Tanto. Se escrevesse este texto há alguns (poucos) anos atrás, escrevê-lo-ia certamente de um ponto de vista diferente. Mas não hoje, não agora, quando as minhas ideias estão mais inseguras, mas algumas das minhas convicções mais fortes do que nunca.

E por isso vou aproveitar para dedicar este texto a algumas pessoas. Primeiro e acima de tudo, às pessoas que nunca abdicaram de mim por nenhum bem maior ou por egoísmo e segundo às pessoas que conheço e para quem sei que a luta do Milk foi importante.



Começando pelo Milk. A jeito de “sinopsear” o filme, Harvey Milk é um activista dos direitos dos homossexuais e torna-se político, tendo os direitos dos homossexuais como a prioridade da sua “agenda”. E é assassinado. Enquanto Milk luta pela defesa dos direitos dos homossexuais negligencia a relação com o seu companheiro. Destrói a relação com a pessoa de quem gosta, que por acaso é um homem. E se, por um lado, a sua luta é tão meritória que não devia sequer existir, por outro, é tão triste que simultaneamente inviabilize a possibilidade de usufruir de eventuais ganhos dessa luta. A luta social que encetou prejudicou-o e prejudicou a outra pessoa que mais interesse também teria nessa luta – o seu companheiro 1.

Porquanto Milk não quis ser assassinado e não “escolheu” sê-lo, escolheu continuar a luta em favor da sociedade em detrimento de escolher o seu companheiro. E isto é uma merda. Muito sinceramente, da maneira como eu agora vejo isto, ele tinha as prioridades trocadas. E, no entanto, para as outras pessoas que beneficiaram da sua luta, do seu comportamento, a vida melhorou. E, no entanto, eu admiro a sua luta tremendamente. Mas só porque não sou o Scotty.


Em geral, viver uma vida é uma coisa complicada e difícil. Pelo menos quando se pensa um bocadinho nela. E tudo piora muito quando as pessoas de quem se gosta abdicam de nós por um “bem maior”. Pois bem, a minha tese é que não há bem maior.

A “sociedade” impacta a vida de cada indivíduo de maneiras que, por vezes, parecem indiciar que não é sequer composta também por esses indivíduos. De facto, em “sociedades ideais”, não deveria haver impactos em liberdades individuais pela força “externa” da sociedade. Como não deveria haver violações de direitos humanos. Mas há. E são estes impactos que requerem que se continue a lutar. A lutar por direitos e a lutar por liberdades. E portanto a promover este activismo social.

Mas pelo bem de cada indivíduo activista e de todos os que lhes são próximos, não se deve achar que há um bem maior que merece todos os sacrifícios. A maior parte dos activistas de que me lembro, mesmo garantindo a melhoria de condições de vida para alguns indivíduos, tiveram a sua vida pessoal arruinada. E não me refiro só aos que foram assassinados.

Por isso e só para evitar equívocos: eu não estou a dizer que não se deve lutar. Pelo contrário: deve lutar-se até ao limite possível, mas não se deve chegar à “martirização” da luta ou da causa, mesmo quando válida. E por isso é que é importante ter grupos civis que funcionem como lobbies ao poder político. Por isso é que é importante garantir que as pessoas têm liberdade para promover essa luta. Por isso é que é importante que todas as pessoas que acreditam que algumas coisas estão mal façam qualquer coisa. Porque se fizerem, haverá menos mártires não intencionais.

A garantia da prevalência de direitos humanos e de liberdades individuais é tão importante como a garantia do respeito pela vida. E isto porque viver uma vida é muito mais do que sobrevivê-la. É saber que se pode gostar de um rapaz ou de uma rapariga e não haver nada de errado nisso. É saber que não há KKKs a incendiarem casas e a matarem pessoas. É saber que um muçulmano aceita um cristão, um cristão aceita um muçulmano e que ambos aceitam ateus.

De cada vez que, em Portugal, me encontro com amigos homossexuais em sítios públicos e percebo que não se sentem sequer confortáveis em ter manifestações normais de afecto, tenho vontade de bater às pessoas que estão por perto. Porque não devia ser assim. E por isto, sim, eu devo lutar. Todos vocês devem lutar. Quando uma coisa ridícula como casar não é permitido a alguém só pelo sexo das pessoas; sim, deve lutar-se.

Esta é a minha pequena tentativa activista. Um dos meus gritos como os banners ali na barra de lado. Mas é também a minha tentativa de dizer que o activismo só vale a pena porquanto permite viver melhor. E ser morto por isso (à excepção de quem, legitimamente, acha que essa também é uma via) em geral não vale a pena.

Porque se o activismo normalmente tem inerente características sociais (pelo menos no que eu me quero referir aqui), é sempre verdade que a sociedade é composta por indivíduos. E por muito que às vezes me digam que o todo é maior do que a soma das partes, eu vou continuar a achar que o todo será sempre menor do que um indivíduo que seja. E eu não acho que haja um bem maior na sociedade, per se. Mas há um bem muito maior em cada indivíduo de cada sociedade.

Por isso deixa-me muito contente sempre que cada pessoa dentro “da sociedade” pode fazer algo que a deixa um bocadinho, um bocadinho que seja, mais feliz por causa de um objectivo atingido na luta pela garantia de direitos humanos e de liberdades individuais.

E ainda assim. Há uma angústia terrível que não me abandona. Há uma angústia terrível porque penso em todos os activistas mortos. Em todos os activistas que, ainda que garantindo a melhoria de condições de vida para alguns indivíduos, tiveram a sua vida pessoal arruinada.

Choro. Choro pela injustiça. De todos os casos que aconteceram. E porque sei que vai continuar a acontecer.


1 Para garantir a veracidade das coisas, note-se que esta visão só é abordada no filme na segunda relação de Milk. E eu escrevi o texto antes de ver essa parte do filme, portanto refiro-me à primeira relação retratada no filme.
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