Camus em Vergílio
«Ser eu em
ti, que um filho nos fosse a nós, que alguém nos existisse, não apenas na
memória, mas na força total de sermos – tudo isto é verdade e não tem sentido
nenhum. Tudo isto é verdade, porque a solidão é tão estúpida… Alucina-me o
absurdo como um labirinto, como ser eu
nos outros? Ser irredutível e múltiplo? Mas só assim a solidão
deixaria de existir. Que me importa transmitir aos outros que dois e dois são
quatro ou mesmo o que se passa no fundo de mim? O que eu queria era ser
eles quando estão pensando que dois e dois são quatro. O que eu queria é que
eles sentissem o que eu sinto e não o que eles sentem. O que eu queria é que
eles fossem eu e eu eles, porque só assim é que a “comunicação” tem sentido.
Decerto, tudo isto é absurdo – estou farto de o saber. Mas o mais absurdo é o
mais humano….»
Vergílio Ferreira, Estrela Polar,
5ª ed., Quetzal, 2011, p. 34
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