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Tamino

Já, por várias vezes, referi como adoro a sensação de descobrir um músico novo e de sentir aquele arrebatamento, que precisa de uma repetição que só questiona o seu término. Mas não é fácil encontrar este querer com traços de obsessão e não sentir medo. Medo de o exaurir, medo de descobrir que não é assim tão bom, medo de o perigar com a expectativa. Porém, esse medo é um privilégio. Só o que é especial pode provocar esse medo.
Descobri, incidentalmente, Tamino. Tamino é um jovem – muito jovem – que faz uma música muito antiga. Uma música de um ancião de elevada técnica e sabedoria. Uma música que parece ecoar a partir dos primórdios do tempo. Uma música que faz ressoar verdades imemoriais, naturalmente impossíveis de aceder se Tamino não existisse. 
Tamino vive na Bélgica, filho de mãe belga e pai egípcio, e processa na sua música uma síntese que assusta. Podia dizer-vos que nele ouço reverberar a intensidade do Jeff Buckley, a escuridão do Nick Cave, a elegância de Serge Gainsburg e a paixão árabe. Seria verdade. Mas escolho dizer-vos por que é que a síntese que ele consegue assusta. Assusta porque é improvável tanta maturidade musical em alguém tão jovem. E porque a síntese de componentes aparentemente díspares arrisca a ser um aglomerado disparatado. Mas o que Tamino nos traz, no EPs Tamino e Habibi, é uma síntese coerente. Pode haver ecos do passado, mas é na criação do que é seu que Tamino sobressai.
A criação de Tamino faz sentido. E num mundo que não o tem, a arte é todo o sentido que sabemos criar. Quando sabemos. Ele sabe.
Talvez este seja um post demasiado arrebatado. Mas é justo.


Cigar, Tamino

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