Poemas 25

Existência

Há uma melancolia que me traz de volta a mim
e me agarra na impossibilidade de soltar um uivo
de prazer, de raiva, de excitação, de dor...
É uma melancolia solene num quotidiano indiferente
de robots desinteressados da sua vida coerente
de processos e métodos e objectivos e hábitos.

Há uma angústia na existência que me habita
e que sou eu a habitar-me a mim própria
numa causalidade que não identifica causa e efeito.
É uma angústia existencial nos dias em que não durmo
enquanto vivo e sou mais do que o que vêem
quando olham para tudo o que faço sem vontade.

Há um desassossego que me trespassa sem cuidado
e me deixa em farrapos alternados e disjuntos
para nunca me fazer encontrar comigo própria.
É um desassossego ridículo, inconstante e lúcido
que não sabe a imensa importância que tem
quando é a única verdade de que é feita a vida.

[Março de 2005]

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