Coisas agradáveis na vida
«como pudeste imaginar que te entregava o que ganhei a roer ossos, o notário decidiu-se por fim chamando o ajudante, a quem prometi o lameiro também, para servir de testemunha e aplicou os carimbos comigo a invejá-lo porque se existem três coisas agradáveis na vida são cortar folhas pelo picotado, esmagar entre o polegar e o indicador num estalinho cujo som me exalta as bolhas de plástico com que se protegem os cálices nos caixotes e o acto de carimbar, volúpia sublime por se decompor em diversas fases, primeira humedecer o carimbo na almofada de tinta, segunda esmurrá-lo contra o papel numa energia feroz e por último a contemplação, ia escrever feliz e escrevo feliz, a contemplação feliz da obra acabada, o pedaço de carne que sobrar depois das hipotecas e das dívidas(…)»
«Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar», António Lobo Antunes, D. Quixote, pp. 37
«como pudeste imaginar que te entregava o que ganhei a roer ossos, o notário decidiu-se por fim chamando o ajudante, a quem prometi o lameiro também, para servir de testemunha e aplicou os carimbos comigo a invejá-lo porque se existem três coisas agradáveis na vida são cortar folhas pelo picotado, esmagar entre o polegar e o indicador num estalinho cujo som me exalta as bolhas de plástico com que se protegem os cálices nos caixotes e o acto de carimbar, volúpia sublime por se decompor em diversas fases, primeira humedecer o carimbo na almofada de tinta, segunda esmurrá-lo contra o papel numa energia feroz e por último a contemplação, ia escrever feliz e escrevo feliz, a contemplação feliz da obra acabada, o pedaço de carne que sobrar depois das hipotecas e das dívidas(…)»
«Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar», António Lobo Antunes, D. Quixote, pp. 37
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