Trivialidades 241


Ainda a propósito de Les Misérables

Estou convencida que retiraram os vídeos do 25º aniversário de Les Misérables, na O2 Arena, para as pessoas não poderem comparar com o filme. É que a direção e a direção musical do filme são miseráveis.


[One Day More, encore, 25º aniversário de Les Misérables]

Trivialidades 240


A propósito de ver Les Misérables na Alemanha

Um filme cantado em inglês (original) e dobrado em alemão nas partes faladas. É difícil conceber coisa mais idiota em termos artísticos. A quem é que se pode apresentar uma queixa?

Apontamentos fugazes 212


Tipos de pessoas

Há dois tipos de pessoas: aquelas que preferem Beethoven e as outras.

Momentos de poesia 17


A cena do ódio

(…)
Tu, que te dizes Homem!
Tu, que te alfaiatas em modas
e fazes cartazes dos fatos que vestes
p’ra que se não vejam as nódoas de baixo!
Tu, qu’inventaste as Ciências e as Filosofias,
as Políticas, as Artes e as Leis,
e outros quebra-cabeças de sala
e outros dramas de grande espectáculo…
Tu, que aperfeiçoaste a arte de matar…
Tu, que descobriste o cabo da Boa-Esperança
e o Caminho Marítimo para a Índia
e as duas Grandes Américas,
e que levaste a chatice a estas terras,
e que trouxeste de lá mais Chatos práqui
e qu’inda por cima cantaste esses Feitos…
Tu, qu’inventaste a chatice e o balão,
e que farto de te chateares no chão
te foste chatear no ar,
e qu’inda foste inventar submarinos
pr’a te chateares também por debaixo de água…
Tu, que tens a mania das Invenções e das Descobertas
e que nunca descobriste que eras bruto,
e que nunca inventaste a maneira de o não seres…
Tu consegues ser cada vez mais Besta
e a este progresso chamas Civilização!
(…)

«A cena do ódio», Orpheu 3, Almada Negreiros, em Antologia de poesia portuguesa erótica e satírica, selecção por Natália Correia, Antígona e Frenesi, 2008

Arquitetura, artes plásticas e design 16

Building of the year 2012, by ArchDaily

Há paisagens que podem ser lindíssimas e impressionantes e que tiveram nenhuma ou pouca intervenção do homem. Podem dizer-se naturalmente bonitas ou, na verdade, circunstancialmente bonitas. E depois há a arte, tudo aquilo que foi intencionalmente criado pelo homem para ser bonito, funcional, impressionante.
Hoje escrevo sobre uma área – arquitetura – que acabo por negligenciar nos meus textos mais frequentes. Não porque ocupe um lugar menor na minha lista de preferências, mas porque está mais distante da minha prática quotidiana.
Mas não hoje. Hoje quero mostrar-vos alguns dos edifícios mais fantásticos que foram terminados no ano passado e aproveitar para vos dizer que o ArchDailyjá distinguiu os 14 vencedores de 2012. Estes 14 vencedores, em áreas como habitação, arquitetura do desporto, institucional, religiosa ou da saúde, são verdadeiramente fantásticos e contam com uma dupla de arquitetos portugueses na área de hotéis e restaurantes: Luís Rebelo de Andrade e Diogo Aguiar, os criadores de Pedras Salgadas Eco Resort.
Mas gostava de mencionar alguns dos edifícios finalistas (é um bocadinho difícil identificar os finalistas de 2012, pelo que espero não estar a fazer referências incorretas) que não foram vencedores e que eu simplesmente adorei.
Mosteiro “Water-moon”, Taipei, Taiwan, by Artech Architects
 (c) Artech Architects 

 Centro cultural de tecnologia do espaço da EU, Vitanje, Eslovénia, Dekleca Gregoric Arhitekti + SADAR + VUGA + OFIS architects + Bevk Perovic Arhitekti

(c) OFIS architekti

Complexo de escritórios, comércio e entretenimento Galaxy Soho, Pequim, China
(c) Iwan Baan

Residência CORMAC; Corona del Mar, Califórnia, Laidlaw Schultz Architects

(c) Larry Falke

Residência H3, Atenas, Grécia, 314 Architecture studio
(c) 314 Architecture studio

Shoffice (shed+office), St. John’s Woods, London, Platform 5 architects
(c) Alan Williams Photography

Momentos de poesia 16


Hermaphrodita

De Hermes e Afrodite o filho esbelto e amado,
de Salmacis oscula o corpo melodioso,
e a ninfa treme e enleia o moço deslumbrado
com um prazer que até chega a ser doloroso…
(…)
Num doido frenesi, entrar parecem querer
ela – no corpo dele, ele – no corpo dela!
Choram, gemem, dão ais… e no auge do prazer,
começam a gritar para o céu que se estrela:

«Ó deuses! Atendei nossa súplica ardente:
se é verdade que vós ouvis as vozes que vos chamam,
os nossos corações fundi-os num somente,
fundi num corpo só, nossos corpos que se amam!»

Ao Olimpo chegou essa súplica louca,
e Zeus, o grande Zeus, cuja foça é infinita,
as duas bocas transformou numa só boca
e dos dois corpos fez um só: HERMAPHRODITA!
[…]
Brumoso ser! Milhões de mágoas o consomem,
são dois céus a chorar suas tristes pupilas:
tem as ânsias sensuais da mulher e do homem
mas para as satisfazer não pode desuni-las!

A boca feminil abre-se doida, ansiosa
por belos deuses nus, mas sem os encontrar;
e os braços, procurando uma cintura airosa
abrem-se, mas em vão! Dão abraços no ar!
[…]
Sobe aos altos faróis, desce aos subterrâneos,
nada abranda, porém, seu íntimo alvoroço:
com uma só boca quer dois beijos simultâneos,
ao mesmo tempo busca uma mulher e um moço!

Se um efebo procura, as mulheres o fascinam
se uma mulher possui, de um efebo carece,
de desejar em vão, cem mágoas o dominam:
nada, nada o contenta e tudo lhe apetece!

Sem poder sofrer mais desespero tamanho,
Hermaphrodita um dia, enfim crispando as mãos,
enforcou-se e morreu… Mas do seu corpo estranho
saíram, sempre hostis, os dois feros irmãos.

Chovia… E procurando uma guarida calma,
que os livrasse da chuva, uma torre ou uma gruta,
viram minha alma aberta, entraram na minha alma
e na minha alma estão continuando a luta!

«Hermaphrodita», Salomé e outros poemas, Eugénio de Castro, em Antologia de poesia portuguesa erótica e satírica, selecção por Natália Correia, Antígona e Frenesi, 2008

Trivialidades 239


Por que é que me calha sempre a mim lidar com pessoas irritadas e com vontade de culpar quem não tem culpa? Porquê? Porquê?

Homenagens 62


Berlinale. 

Aonde eu gostaria de estar agora.

Recomendações 65


Django Unchained


Django Unchained’s trailer, movie by Quentin Tarantino

Apontamentos fugazes 211


Crime e castigo

«Eu penso que é totalmente por acaso que os erros que já cometi não são puníveis com pena de prisão. Foram e são puníveis de outras maneiras. E penso que, ao longo de uma vida, todas as pessoas tomam decisões erradas. Algumas dessas decisões magoam outros, causam-lhes sofrimento verdadeiro. No entanto, a grande maioria desses erros não são citados pelo código penal. Na verdade, só estão citados aqueles que são concebíveis pelos espíritos práticos: os que são quantificáveis, claramente observáveis, indiscutivelmente concretos. Só é pena que a vida não seja assim: indiscutivelmente concreta.»

 José Luís Peixoto, ‘Fevereiro no estabelecimento prisional’, em «Abraço», Quetzal, p. 588

Recomendações 64


Steve von Till

A grave is a grim horse, álbum homónimo, Steve von Till