A cena do ódio
(…)
Tu, que te dizes
Homem!
Tu, que te
alfaiatas em modas
e fazes cartazes
dos fatos que vestes
p’ra que se não
vejam as nódoas de baixo!
Tu,
qu’inventaste as Ciências e as Filosofias,
as Políticas, as
Artes e as Leis,
e outros
quebra-cabeças de sala
e outros dramas
de grande espectáculo…
Tu, que
aperfeiçoaste a arte de matar…
Tu, que
descobriste o cabo da Boa-Esperança
e o Caminho
Marítimo para a Índia
e as duas
Grandes Américas,
e que levaste a
chatice a estas terras,
e que trouxeste
de lá mais Chatos práqui
e qu’inda por
cima cantaste esses Feitos…
Tu,
qu’inventaste a chatice e o balão,
e que farto de
te chateares no chão
te foste chatear
no ar,
e qu’inda foste
inventar submarinos
pr’a te
chateares também por debaixo de água…
Tu, que tens a
mania das Invenções e das Descobertas
e que nunca
descobriste que eras bruto,
e que nunca
inventaste a maneira de o não seres…
Tu consegues ser
cada vez mais Besta
e a este
progresso chamas Civilização!
(…)
«A cena do ódio», Orpheu 3, Almada Negreiros, em Antologia de poesia
portuguesa erótica e satírica, selecção por Natália Correia, Antígona e
Frenesi, 2008
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