Adolescente
I
Venham ver a
maravilha
do seu corpo
juvenil.
O sol encharca-o
de luz,
e o mar de rojo
tem rasgos
de luxúria
provocante.
Avanço, procuro
olhá-lo
mais de perto… A
luz é tanta
que tudo em
volta cintila
num clarão largo
e difuso…
Anda nu –
saltando e rindo,
e sobre a areia
da praia
parece um astro
fugindo.
Procuro olhá-lo;
‑ e os seus olhos,
amedrontados,
recusam
fixar os meus… ‑
Entristeço…
Mas nesse olhar
fugidio –
pude ver a
eternidade
do beijo que eu
não mereço.
IX
Não. Continua o
teu caminho.
‑ Abraça e beija
aqueles que tu quiseres
porque fico na
certeza
de que fui eu
quem deu alma
a todos os
movimentos
da tua
sensualidade!
Carícias
intermináveis,
comprou-as o meu
dinheiro!
Inútil!...
Guarda os teus braços,
guarda-os, sim,
ara o primeiro!...
Deste-me tudo o
que eu quis!
Fiz do teu corpo
bandeira
na guerra do meu
anseio!
Mas sinto que me
apeteces
por entre
náuseas profundas.
Cheio de lama e
de sonho,
ando a ver se
encontro a origem
das nossas vidas
imundas.
«Ciúme», Canções, António Botto, em Antologia de poesia portuguesa
erótica e satírica, selecção por Natália Correia, Antígona e Frenesi, 2008