A Moon Shaped Pool
Referi há algum tempo que queria escrever sobre o último álbum dos Radiohead, A Moon Shaped Pool, quando partilhei uma versão antiga de uma música recuperada nesse álbum – True love waits.
Desde essa altura, várias coisas aconteceram. Em particular, vi o concerto dos Radiohead no Primavera Sound, em Barcelona. E se a reação esperada seria o embevecimento, o que aconteceu foi o oposto. Imaginem o que é estar a quilómetros de onde decorre um concerto e ouvir resquícios da música distorcida pela distância. Foi o que me aconteceu no concerto dos Radiohead no Primavera Sound. As condições de som foram paupérrimas e posso apenas acreditar – tendo em atenção as críticas que li – que os Radiohead deram um bom concerto. Mas, para uma fã, isto é pura mágoa. Já escrevi um email reprovador à organização do Primavera Sound porque as condições de som foram, em geral, bastante más e revelam pouco cuidado com os artistas. E um festival de música digno precisa de evidenciar o maior respeito pelos artistas e não se preocupar miopemente com a dimensão.
Mas A Moon Shaped Pool merece um post em êxtase. E comecei-o com comentários acerca do concerto apenas para provar que nem um concerto triste pode mudar a minha opinião.
Os álbuns anteriores, The King of Limbs e, mesmo, In Rainbows são álbuns difíceis, que demorei algum tempo a aprender a gostar e que, mesmo assim, conservaram sempre alguma distância, debalde as minhas tentativas de aproximação. Durante algum tempo, na sua torre de perfeição, os Radiohead começaram a criar algo tão imaculável, mas tão incrivelmente abstrato, que me senti ligeiramente perdida. Isto não quer dizer que me tenha afastado dos Radiohead. Os Radiohead serão sempre especiais. Os Radiohead serão sempre mais especiais.
Com A Moon Shaped Pool, os Radiohead regressam à abstração perfeita não hermética. A Moon Shaped Pool é um álbum despido de tudo o que não é necessário e cheio de Radiohead. É um álbum que me enche de imensidão, mesmo quando reconheço a minha pequenez; é um álbum maior.
Talvez sejam o meu calcanhar de Aquiles, onde escolho ser frágil, mas os Radiohead, neste álbum trouxeram-me uma perfeição deliciosamente humana. Enquanto procuro um sentido, reconheço que há momentos em que esse sentido maior pode não ser necessário:
In you I’m lost.
Decks dark, A Moon Shaped Pool, 2016, Radiohead
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