A Nona Elegia
(…)
Mas porque aqui estar muito é, e porque aparentemente de nós
precisa tudo o que aqui está, este desvanecente que
estranhamente nos diz respeito. A nós, os mais desvanecentes.
Uma vez cada, só uma vez. Uma vez e nunca mais. E nós também
uma vez. Nunca de novo. Mas ter sido
este uma vez, ainda que só uma vez:
terrenamente ter sido parece não revogável.
(…)
(…) Ai, para a outra relação,
dor, o que se leva? Não o contemplar, o aqui
lentamente aprendido, e nenhum aqui acontecido. Nenhum.
Portanto, as dores. Portanto, sobretudo o ser pesado,
portanto, do amor longa experiência, — portanto,
Somente o indizível. (…)
(…)
Vê, vivo. De quê? Nem a infância nem o futuro
se tornam menos….. Existência para lá do contável
brota-me no coração.
Rainer Maria Rilke, Elegias de Duíno, tr. José Miranda Justo, Relógio d’Água, 2016