Momentos de poesia 24

A Nona Elegia

(…)
Mas porque aqui estar muito é, e porque aparentemente de nós 
precisa tudo o que aqui está, este desvanecente que 
estranhamente nos diz respeito. A nós, os mais desvanecentes.
Uma vez cada, só uma vez. Uma vez e nunca mais. E nós também 
uma vez. Nunca de novo. Mas ter sido 
este uma vez, ainda que só uma vez
terrenamente ter sido parece não revogável.
(…)
(…) Ai, para a outra relação, 
dor, o que se leva? Não o contemplar, o aqui 
lentamente aprendido, e nenhum aqui acontecido. Nenhum.
Portanto, as dores. Portanto, sobretudo o ser pesado, 
portanto, do amor longa experiência, — portanto, 
Somente o indizível. (…)
(…)
Vê, vivo. De quê? Nem a infância nem o futuro 
se tornam menos….. Existência para lá do contável 
brota-me no coração.

Rainer Maria Rilke, Elegias de Duíno, tr. José Miranda Justo, Relógio d’Água, 2016

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