Ciclo M - Objectivo forjado
Quando ele se debruçou inevitavelmente para a frente do carro daquela mulher, tinha a esperança secreta? de finalmente morrer naquele dia. O sofrimento havia deixado de ser suportável, ou nunca o fora? Não era muito corajoso envolver outra pessoa, era só um modo, uma desculpa, um instrumento de morte, mesmo que isso implicasse afectar tão inexoravelmente a vida de alguém, mesmo que isso criasse pesadelos constantes na vida de alguém que não queria morrer. Mesmo assim, naquele segundo, morrer às mãos de alguém, foi a única solução possível. Foi a única solução que ele estava disposto a assumir, cobarde consciente e consciencioso pelos que conhecia, os que sofreriam mais se o vissem esvaído em sangue após um tiro finalmente certeiro ou bamboleante numa corda enlaçada ao pescoço…
Quando o carro dela chegava tão perto de um homem que não medira os passos, o susto imediato não compreendeu o decisivo que poderia ter sido; a adrenalina que empurrou o pé direito do acelerador até ao travão em segundos instantâneos era alheia ao momento que separa a vida da morte. Ela não soube como parou o carro antes de bater naquele homem, foi uma reacção instintiva que salvou aquela vida, pensou… não foi uma condução particularmente atenta ou virtuosa, foi um reflexo feliz.
O momento em que os seus olhares se cruzaram pôs todavia em dúvida todas estas reflexões. Ela, apesar da escuridão de uma noite brumosa, viu nos olhos dele encandeados pelos faróis do seu carro uma necessidade não concretizada, uma infelicidade, uma… desilusão. Uma oportunidade não aproveitada. Ele viu nos olhos dela o espanto de ter reconhecido que a sua proeza admirável tinha provocado uma tristeza maior do que a sua vida.
Nos caminhos para casa pensaram se tudo tivesse sido diferente. Ele tentou imaginar-se morto e sentiu pena daquela mulher que sofreria por dias infinitos uma morte não evitada. Ela tentou imaginar que o tinha matado, como ele parecia querer, e pensou quão egoísta estaria a ser por desejar não o ter matado. Pensou como conseguiria suportar aquela morte se o tivesse feito, ainda que nunca a pudesse vir a saber intencional.
No final da noite, ela desejou havê-lo matado e ele ficou contente por ela ter evitado o acidente.
Quando ele se debruçou inevitavelmente para a frente do carro daquela mulher, tinha a esperança secreta? de finalmente morrer naquele dia. O sofrimento havia deixado de ser suportável, ou nunca o fora? Não era muito corajoso envolver outra pessoa, era só um modo, uma desculpa, um instrumento de morte, mesmo que isso implicasse afectar tão inexoravelmente a vida de alguém, mesmo que isso criasse pesadelos constantes na vida de alguém que não queria morrer. Mesmo assim, naquele segundo, morrer às mãos de alguém, foi a única solução possível. Foi a única solução que ele estava disposto a assumir, cobarde consciente e consciencioso pelos que conhecia, os que sofreriam mais se o vissem esvaído em sangue após um tiro finalmente certeiro ou bamboleante numa corda enlaçada ao pescoço…
Quando o carro dela chegava tão perto de um homem que não medira os passos, o susto imediato não compreendeu o decisivo que poderia ter sido; a adrenalina que empurrou o pé direito do acelerador até ao travão em segundos instantâneos era alheia ao momento que separa a vida da morte. Ela não soube como parou o carro antes de bater naquele homem, foi uma reacção instintiva que salvou aquela vida, pensou… não foi uma condução particularmente atenta ou virtuosa, foi um reflexo feliz.
O momento em que os seus olhares se cruzaram pôs todavia em dúvida todas estas reflexões. Ela, apesar da escuridão de uma noite brumosa, viu nos olhos dele encandeados pelos faróis do seu carro uma necessidade não concretizada, uma infelicidade, uma… desilusão. Uma oportunidade não aproveitada. Ele viu nos olhos dela o espanto de ter reconhecido que a sua proeza admirável tinha provocado uma tristeza maior do que a sua vida.
Nos caminhos para casa pensaram se tudo tivesse sido diferente. Ele tentou imaginar-se morto e sentiu pena daquela mulher que sofreria por dias infinitos uma morte não evitada. Ela tentou imaginar que o tinha matado, como ele parecia querer, e pensou quão egoísta estaria a ser por desejar não o ter matado. Pensou como conseguiria suportar aquela morte se o tivesse feito, ainda que nunca a pudesse vir a saber intencional.
No final da noite, ela desejou havê-lo matado e ele ficou contente por ela ter evitado o acidente.
[Março de 2006]
Sem comentários:
Enviar um comentário