Pensamentos líquidos 79

A sétima (?) arte

Podem não ter reparado, mas não me debruço muito sobre o cinema no blog. Não por não gostar; apesar de não ser cinéfila, a sétima (?) arte tem todo o meu apreço. Falei-vos, por vezes, da minha simpatia natural pelo cinema francês (muito por motivos de estética, julgo eu), da minha simpatia construída pelo cinema espanhol…

E tudo faz sentido. O cinema europeu é, na generalidade, muito mais “cru” do que o cinema de Hollywood. E, para mim, avaliar um filme resume-se a muito pouco (comparado com o que Hollywood considera): argumento (peso enoooorme no argumento), performance dos actores (peso muito grande), realização (peso grande) e fotografia (peso médio). Tudo o resto provoca-me largos bocejos, principalmente os efeitos especiais.

Uma vez li que o Pedro Almodóvar se considerava um artesão do cinema. É desse cinema feito à mão de que gosto. É um cinema de pessoas e palavras. De relações e de frases. De imagens e de textos.

Por isso, agora penso. Não tenho bem a certeza porque chamam sétima à arte do cinema. Esta designação tornou-se comum apenas porque, em 1911, no “Manifesto das Sete Artes” Riccioto Canudo, a denominou assim. Supostamente porque compreende todos os elementos das outras artes e o sete é o número da completude(1) (e perfeição!). Mas a simbologia do número sete é tão forte, que me pergunto… não será por acharem que é a arte perfeita?

É que se for isso, quero deixar de utilizar a designação. Não só o cinema não é mais perfeito do que qualquer outra arte, como é muito mais a composição das outras artes do que uma arte nova. Juntem argumento (literatura) à representação (teatro) à banda sonora (música) ao movimento, à direcção (coreografia), façam acrescer coisas muito pouco artísticas (como os efeitos especiais) e temos o cinema.

Por isso não sei… acho mesmo que vou ter que deixar de dizer “sétima arte” quando me refiro ao cinema.

(1) Há uma dúvida que me assola… onde é que o cinema tem “a característica” de volume/tacto que vem da escultura? É que não me faz sentido. Nem sequer a da pintura. Vejo muito pouco de artes plásticas no cinema.

PS. Para não acharem que me estou a armar em intelectualoide elitista, posto a seguir a minha homenagem à diva da representação de Hollywood.
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