Se fosse comigo levavam um murro de profissionalismo
Parece que ontem o presidente do comité olímpico português acusou os atletas portugueses de “falta de brio e profissionalismo”. Que curioso, para ele e para os outros elementos do comité que nunca se levantaram às 5 da manhã para treinar (porque a essa hora as perninhas deles também queriam era estar na caminha), que nunca vomitaram depois de um treino, que nunca treinaram sozinhos em dias onde apetece tudo menos treinar... Uma pergunta: por acaso, eles esforçam-se também para dar aos atletas as condições ideais para um bom desempenho? Não só as infra-estruturas necessárias à prática das modalidades, mas também apoio, quer psicológico quer financeiro, porque os atletas portugueses, na sua grande maioria, não são profissionais. Ah, é talvez por isso que os acusam de falta de profissionalismo! Deve ser.
Nunca ninguém se questionou qual a modalidade, em geral, onde os portugueses atingem um melhor desempenho? Atletismo, é claro, fundo e meio-fundo. Muito simples. Porque os atletas treinam na rua e em condições paupérrimas que dão um óptimo treino!
Hoje, o velejador Gustavo Lima, que terminou em 4º, a um ponto do pódio, afirmou que nestes últimos 4 anos, se não fosse outro atleta, tinha treinado sempre sozinho. E sem apoios entenda-se. Onde ficou o projecto Pequim para ele? Talvez tenha sido o vento que o levou.
Para melhorar ainda mais há os comentários de atletas acerca da prestação de outros atletas. Eles, mais do que ninguém, deviam estar cientes do sacrifício que é ser atleta de alta competição e pensar no que se abdica em detrimento da preparação para uns Jogos Olímpicos, por exemplo. Eu não acredito que nenhum atleta vá para uns Jogos e não queira fazer o seu melhor.
Os maus resultados, na grande maioria, não têm um culpado. Ninguém mais do que o próprio atleta quer que a prestação seja a melhor. E ninguém fica mais desiludido do que o atleta se tudo corre mal. Por isso, pensem (o que eu acho nitidamente complicado para pessoas que compram o jornal com o Yannick na capa depois de 2 golos quando o Phelps vem num quadradinho pequenino no canto depois de ter ganho 8 medalhas de ouro) no que dizem e em vez de culparem os atletas, fiquem calados e abstenham-se de comentários. E acho bem melhor admitir que as pernas tivessem querido a caminha do que criticar prestações alheias.
Num país adepto de futebol como Portugal (esses “atletas” que quando têm dois joguinhos de 90 minutos na mesma semana já os misters têm de fazer rodar o plantel), ninguém me explica então porque é que eu não vi a selecção portuguesa nos jogos olímpicos? E por que é que os comentadores desportivos de outras modalidades utilizam expressões futebolísticas para os comentários? Devem ter um complexo de inferioridade qualquer!
Só mais uma coisa. O meu especial apreço aos atletas, a todos sem excepção, pelos sacrifícios que têm de fazer todos os dias pela vossa modalidade. E não dediquem a um país que não vos apoia incondicionalmente os vossos feitos. Dediquem-nos a vocês, porque ninguém o merece mais.
"Acho que a minha vida, da forma como abdico, não é recompensada."
Gustavo Lima
Xana
Maceira, 19 de Agosto de 2008
É o texto que eu gostava de ter escrito, Xana. Subscrevo tudo. Obrigada.
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