A propósito da felicidade no Butão
«E lá está ela de novo: a morte. Um assunto que, estranhamente surge com terrível frequência na minha busca da felicidade. Talvez não possamos mesmo ser felizes sem primeiro aprendermos a conviver com a nossa mortalidade. »
«Linda explica que muitos homens butaneses fazem retiros de meditação que duram três anos, três meses e três dias, (…) Durante três anos três meses e três dias não fazem outra coisa senão meditar. Nem mesmo cortar o cabelo.
– Durante três anos não falam.
Isto para mim era logo um obstáculo intransponível. O máximo de tempo que estive sem falar foi nove horas. E na altura estava a dormir.
O governo manda estender linhas eléctricas até às pequenas cabanas de madeira, empoleiradas na beira de um penhasco, onde os homens fazem a sua meditação.
– Que outro país gastaria cem mil dólares para electrificar um lugar minúsculo nas montanhas? Diriam logo “não, não, se quiser vem cá a baixo.»
«O PDB [Produto Doméstico Bruto] não regista, como disse Robert Kennedy, “a beleza da nossa poesia ou a solidez dos nossos casamentos ou a inteligência do nosso debate público”. O PDB mede tudo, concluiu Kennedy, “excepto aquilo por que vale a pena viver.
(…)
A Felicidade Interna Bruta [FIB] é uma ideia inicialmente sugerida pelo rei Wangchuk do Butão, em 1973. No entanto, ela só se popularizou quando, em 1986, um jovem e inteligente jornalista de nome Michael Elliot entrevistou o rei para o Financial Times.
(…)
A FIB, explica-me Penjor [proprietário de um hotel no Butão], “significa conhecermos as nossas limitações; sabermos o quanto é suficiente”. (…) Como diz o economista renegado E. F. Schumacher: “Há sociedades pobres que têm muito pouco. Mas qual é a sociedade rica que diz ‘Chega! Já temos o suficiente?! Nenhuma. (…) Como diz Schumacher “quanto mais rica é uma sociedade, mais difícil se torna para ela realizar coisas válidas que não impliquem uma contrapartida imediata.
(…)
Estabelecendo ainda outro paralelo com Shangri-La, atentem neste diálogo entre Miss Brinklow, a missionária britânica, e Chang, o inescrutável anfitrião de Shangri-La.
– Que fazem os lamas? – pergunta ela.
– Dedicam-se, minha senhora, à contemplação e à busca da sabedoria.
– Mas isso é não fazer nada.
– Então não fazem nada, minha senhora.»
«O Butão não é Shangri-La, disso tenho a certeza, mas é um lugar estranho, peculiar, em pequena e larga medida. Aqui ficamos confusos e, quando isso acontece, abre-se uma brecha na nossa armadura. Uma brecha que, se tivermos sorte, pode ser suficientemente grande para deixar entrar alguns raios de luz.»
«E lá está ela de novo: a morte. Um assunto que, estranhamente surge com terrível frequência na minha busca da felicidade. Talvez não possamos mesmo ser felizes sem primeiro aprendermos a conviver com a nossa mortalidade. »
«Linda explica que muitos homens butaneses fazem retiros de meditação que duram três anos, três meses e três dias, (…) Durante três anos três meses e três dias não fazem outra coisa senão meditar. Nem mesmo cortar o cabelo.
– Durante três anos não falam.
Isto para mim era logo um obstáculo intransponível. O máximo de tempo que estive sem falar foi nove horas. E na altura estava a dormir.
O governo manda estender linhas eléctricas até às pequenas cabanas de madeira, empoleiradas na beira de um penhasco, onde os homens fazem a sua meditação.
– Que outro país gastaria cem mil dólares para electrificar um lugar minúsculo nas montanhas? Diriam logo “não, não, se quiser vem cá a baixo.»
«O PDB [Produto Doméstico Bruto] não regista, como disse Robert Kennedy, “a beleza da nossa poesia ou a solidez dos nossos casamentos ou a inteligência do nosso debate público”. O PDB mede tudo, concluiu Kennedy, “excepto aquilo por que vale a pena viver.
(…)
A Felicidade Interna Bruta [FIB] é uma ideia inicialmente sugerida pelo rei Wangchuk do Butão, em 1973. No entanto, ela só se popularizou quando, em 1986, um jovem e inteligente jornalista de nome Michael Elliot entrevistou o rei para o Financial Times.
(…)
A FIB, explica-me Penjor [proprietário de um hotel no Butão], “significa conhecermos as nossas limitações; sabermos o quanto é suficiente”. (…) Como diz o economista renegado E. F. Schumacher: “Há sociedades pobres que têm muito pouco. Mas qual é a sociedade rica que diz ‘Chega! Já temos o suficiente?! Nenhuma. (…) Como diz Schumacher “quanto mais rica é uma sociedade, mais difícil se torna para ela realizar coisas válidas que não impliquem uma contrapartida imediata.
(…)
Estabelecendo ainda outro paralelo com Shangri-La, atentem neste diálogo entre Miss Brinklow, a missionária britânica, e Chang, o inescrutável anfitrião de Shangri-La.
– Que fazem os lamas? – pergunta ela.
– Dedicam-se, minha senhora, à contemplação e à busca da sabedoria.
– Mas isso é não fazer nada.
– Então não fazem nada, minha senhora.»
«O Butão não é Shangri-La, disso tenho a certeza, mas é um lugar estranho, peculiar, em pequena e larga medida. Aqui ficamos confusos e, quando isso acontece, abre-se uma brecha na nossa armadura. Uma brecha que, se tivermos sorte, pode ser suficientemente grande para deixar entrar alguns raios de luz.»
Eric Weiner, «A geografia da felicidade», Lua de papel, pp. 92-93, 95-97, 116
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