Sobre as verdades
«Existe o que quero dizer e existe a minha voz. Nem sempre o tom da minha voz corresponde ao que quero dizer e, mesmo assim, molda-o tanto como as palavras que escolho. Sou menos dono da minha própria voz do que destas palavras, indexadas em dicionários que já estavam impressos antes de eu nascer. (…) O que quero dizer também é como este livro: mundo subjectivo, existente e inexistente, sugerido pelo significado das palavras.»
«Ao longo da escrita deste livro que estás a ler, tenho sentido que gostaria de poder fazer o mesmo com o que eu sei. No campo, num fim de tarde, estender esse conhecimento no ar, em pazadas, e assim separar aquilo que apenas presumo daquilo que foi mesmo. Por mais efeito que possa ter aquilo que presumo, é aquilo que foi mesmo que chega ao lagar, que alimenta. Aquilo que foi mesmo não é necessariamente aquilo que aconteceu. É algo muito mais importante, é a verdade. Sim, já sei, o que é a verdade? Sim, já sei, não sei.
Peço-te desculpa por este comentário, folhinha. Sem tristeza, por favor. Não o leves a mal, folha de oliveira. Precisei de fazê-lo para, depois, ser capaz de o esquecer.»
«Existe o que quero dizer e existe a minha voz. Nem sempre o tom da minha voz corresponde ao que quero dizer e, mesmo assim, molda-o tanto como as palavras que escolho. Sou menos dono da minha própria voz do que destas palavras, indexadas em dicionários que já estavam impressos antes de eu nascer. (…) O que quero dizer também é como este livro: mundo subjectivo, existente e inexistente, sugerido pelo significado das palavras.»
«Ao longo da escrita deste livro que estás a ler, tenho sentido que gostaria de poder fazer o mesmo com o que eu sei. No campo, num fim de tarde, estender esse conhecimento no ar, em pazadas, e assim separar aquilo que apenas presumo daquilo que foi mesmo. Por mais efeito que possa ter aquilo que presumo, é aquilo que foi mesmo que chega ao lagar, que alimenta. Aquilo que foi mesmo não é necessariamente aquilo que aconteceu. É algo muito mais importante, é a verdade. Sim, já sei, o que é a verdade? Sim, já sei, não sei.
Peço-te desculpa por este comentário, folhinha. Sem tristeza, por favor. Não o leves a mal, folha de oliveira. Precisei de fazê-lo para, depois, ser capaz de o esquecer.»
José Luís Peixoto, «Livro», Quetzal, pp. 235 e 241
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