Arquitetura, artes plásticas e design 17

Fugit Amor, por Auguste Rodin

O eco que uma peça de arte reverbera em cada um de nós é variável e depende da relação genuína que se cria entre nós e a peça. Evidentemente, essa relação depende de um conjunto enorme de fatores, de entre os quais tem de se destacar as características intrínsecas da peça e nossas. Outro factor de destaque é a forma de arte em si, que pode, de algum modo, ser vista como uma das características da peça de arte. 
O impacto de uma peça de arte num indivíduo é uma temática que me interessa sobremaneira, mas hoje não é o dia para dissertar sobre ela. Hoje é dia de falar de um caso específico.
Há algumas semanas atrás, no Museu Rodin, em Paris, voltei a ser assaltada por uma sensação de compreensão tão avassaladora que me trouxe lágrimas às comportas dos olhos. Sou uma fã assumida de Rodin há muitos anos porque há uma intensidade nas suas obras que me comove, que me causa um estremecimento de verdade. Causa-me uma sentimento maior. Um tipo único de sentimento maior que só na arte consigo sentir sem receio de desilusão. 
No percurso da sua casa-museu, aparece cedo uma obra que há muito me cativa, me comove, me enternece e me faz exaltar. Chama-se “Fugit Amor” e, como muitas das suas obras, é parte das Portas do Inferno. Vi uma versão em mármore no Museu Legion of Honor em São Francisco há muitos anos atrás e teve também esse impacto magnífico. Várias outras obras na casa-museu em Paris causaram efeito semelhante, mas Fugit Amor é um bocadinho mais especial. 

Como vos dizia, o impacto de uma peça de arte num indivíduo depende de muitos fatores. Em Fugit Amor eu vejo perfeição técnica, mas vejo muito mais, vejo a qualidade efémera de um sentimento que nunca poderá ser permanente, a não ser que seja congelado na morte. Em Fugit Amor eu vejo a impossibilidade de um amor eterno e, no entanto, vejo a intensidade e a dor da sua ausência. Sim, sei que não é essa a história por detrás da sua criação para as Portas do Inferno. Mas é assim que a sinto. E isso é tudo porque em Fugit Amor vejo-me a mim.

1 comentário:

Chef Janvier disse...

Vi uma série grande de bronzes de Rodin nos jardins da Universidade de Stanford e também fiquei muito impressionado e passei um tempo disparatadamente grande a olhar para o trabalho dele. Fico feliz por ver que mais alguém também fica pasmado a olhar para o trabalho de Rodin. Beijos.