Pontaria II
Não sei se já vos disse? Ah, pois, acho que talvez…tenho uma certa pontaria e maus timings.
Estou de volta aos dias em que me levanto muito cedo para chegar muito cedo ao Banco para depois ir para a faculdade, a correr, para chegar a casa, ainda a correr, tentar fazer qualquer coisa útil para a faculdade, sempre a correr, a esquecer o ginásio, mas a correr. Sempre a correr e, mesmo assim, sem tempo. Dói.
Ontem tive finalmente tempo para ir aos correios buscar uma carta registada. A notificação tinha, reconheço, chegado há mais de uma semana. Sempre a correr, falta de tempo. Reunião de condomínio nesse dia. Eu, idiota, com assignment de economia pública para entregar esta semana, decido ir. Sentido estúpido de obrigação.
Vou. Chego pontual. Poucas pessoas. Decido ir a casa buscar um capítulo do Stiglitz para deglutir enquanto espero, enquanto as pessoas se dispersam em diálogos semelhantes aos de elevador. Vou lendo. Pouco. Não é fácil: está frio.
Finalmente, quórum. Poucas pessoas, apesar de tudo. Eu a sentir-me perder tempo. Discute-se as contas de 2005 e a burla da empresa anterior de condomínio. Tempo. Discute-se as contas de 2006 e a rubrica a que as lâmpadas são afectadas. TEMPO. Custo de oportunidade. Ai. Perder tempo. O motivo pelo qual a rubrica é lâmpadas e ascensores. Eu, farta de estar em pé. Problemas diversos. Dívidas de condóminos. Eu. O meu assignment. O tempo, a passar. Passa rápido. Vou tentando ler: utilidade social Rawlsiana, Benthamite; lâmpadas? Véu de ignorância; portão da garagem? O gráfico a desfocar. É difícil, com os meus pés tão frios e uma dorzinha irritante na parte superior dos gémeos.
Tempo, tempo; aniquilei com isto a minha noite de economia pública. Tempo. Proposta de orçamento para 2007. Tempo, cada vez mais perto do dia seguinte. Penso em ir embora, sem a reunião ter acabado. Tempo custo de oportunidade. Tempo. Tenho vergonha de sair assim. Estado minimalista. Reeleição da empresa de condomínio. Nozick. Administradores residentes. Administradores residentes? Obrigatório? Critério para escolher administradores residentes. Não percebo. Saio? Critério: administradores residentes de entre os presentes, a começar do rés-do-chão. M****: vivo no primeiro andar. Dizem o meu nome. Digo ser eu, mas ser-me impossível qualquer cargo do género por pouquíssimo trabalho que implique. Esgrimo argumentos irrefutáveis, ataco o critério senseless; tenho um problema de vocabulário e só a palavra random passa na minha mente. Digo que o critério é random. Luto, argumento, quase me culpo publicamente por estar ali. Agora não é tanto o tempo que importa. É não ter mais uma preocupação que, mesmo insignificante porque a empresa de condomínio trata de tudo, numa função exponencial significa tudo. Ah, a função exponencial é a minha reacção a coisas que tenho que tratar. Cansada, peço para registarem a minha objecção, mas não consigo escapar-me à função.
Fiquei tão aborrecida. Comigo. Comigo. Comigo.
É muito, muito, difícil esta vida de adulta, com casa, emprego, graduation, e tentar manter uma vida mais que de sobrevivência…
Não sei se já vos disse? Ah, pois, acho que talvez…tenho uma certa pontaria e maus timings.
Estou de volta aos dias em que me levanto muito cedo para chegar muito cedo ao Banco para depois ir para a faculdade, a correr, para chegar a casa, ainda a correr, tentar fazer qualquer coisa útil para a faculdade, sempre a correr, a esquecer o ginásio, mas a correr. Sempre a correr e, mesmo assim, sem tempo. Dói.
Ontem tive finalmente tempo para ir aos correios buscar uma carta registada. A notificação tinha, reconheço, chegado há mais de uma semana. Sempre a correr, falta de tempo. Reunião de condomínio nesse dia. Eu, idiota, com assignment de economia pública para entregar esta semana, decido ir. Sentido estúpido de obrigação.
Vou. Chego pontual. Poucas pessoas. Decido ir a casa buscar um capítulo do Stiglitz para deglutir enquanto espero, enquanto as pessoas se dispersam em diálogos semelhantes aos de elevador. Vou lendo. Pouco. Não é fácil: está frio.
Finalmente, quórum. Poucas pessoas, apesar de tudo. Eu a sentir-me perder tempo. Discute-se as contas de 2005 e a burla da empresa anterior de condomínio. Tempo. Discute-se as contas de 2006 e a rubrica a que as lâmpadas são afectadas. TEMPO. Custo de oportunidade. Ai. Perder tempo. O motivo pelo qual a rubrica é lâmpadas e ascensores. Eu, farta de estar em pé. Problemas diversos. Dívidas de condóminos. Eu. O meu assignment. O tempo, a passar. Passa rápido. Vou tentando ler: utilidade social Rawlsiana, Benthamite; lâmpadas? Véu de ignorância; portão da garagem? O gráfico a desfocar. É difícil, com os meus pés tão frios e uma dorzinha irritante na parte superior dos gémeos.
Tempo, tempo; aniquilei com isto a minha noite de economia pública. Tempo. Proposta de orçamento para 2007. Tempo, cada vez mais perto do dia seguinte. Penso em ir embora, sem a reunião ter acabado. Tempo custo de oportunidade. Tempo. Tenho vergonha de sair assim. Estado minimalista. Reeleição da empresa de condomínio. Nozick. Administradores residentes. Administradores residentes? Obrigatório? Critério para escolher administradores residentes. Não percebo. Saio? Critério: administradores residentes de entre os presentes, a começar do rés-do-chão. M****: vivo no primeiro andar. Dizem o meu nome. Digo ser eu, mas ser-me impossível qualquer cargo do género por pouquíssimo trabalho que implique. Esgrimo argumentos irrefutáveis, ataco o critério senseless; tenho um problema de vocabulário e só a palavra random passa na minha mente. Digo que o critério é random. Luto, argumento, quase me culpo publicamente por estar ali. Agora não é tanto o tempo que importa. É não ter mais uma preocupação que, mesmo insignificante porque a empresa de condomínio trata de tudo, numa função exponencial significa tudo. Ah, a função exponencial é a minha reacção a coisas que tenho que tratar. Cansada, peço para registarem a minha objecção, mas não consigo escapar-me à função.
Fiquei tão aborrecida. Comigo. Comigo. Comigo.
É muito, muito, difícil esta vida de adulta, com casa, emprego, graduation, e tentar manter uma vida mais que de sobrevivência…
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