Ciclo P - Procuro palavras
Às vezes procuro palavras. Para te dizer. Mas há correntes a prender-me, as palavras não são soltas; tudo permanece num sítio intermédio e há forças dos dois lados: nasce uma vontade envergonhada de chutar as palavras num impulso de vocabulário enquanto os músculos se contraem para reabsorver a audácia da tentativa.
E então quero – e não quero – desbloquear a indecisão: rendo-me à inércia, a um silêncio que não comprometa, como se isso continuasse a permitir tudo no futuro. Permitisse as palavras. Evitar os lugares-comuns, não quero debitar-te banalidades; não quero dizer-te aquilo que qualquer outra pessoa poderia dizer.
E, no entanto, às vezes, surge aquela vontade estranha de te dizer aquelas palavras. Talvez chamar-te. Uma daquelas palavras. Sem ser ridícula, sem precisar de o repetir se não me apetecer. Uma vez. E esgotá-las. Mas há uma incoerência. Como é que posso utilizar, em ti, as palavras que gasto noutras pessoas?
Às vezes procuro palavras. Para te dizer. Mas há palavras que não sei falar. Talvez desconheça o seu significado. E calo-me. Não te posso chamar significados que desconheço.
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