Tédio
Há uns dias atrás, algures ainda no ano passado, escrevi um texto não
muito bom sobre tédio. Já algum tempo que queria escrever sobre tédio. Mas o
texto que escrevi era, quando muito, medíocre. Curiosamente, não sei onde
gravei o texto. Por isso, hoje, decidi escrever novamente sobre tédio.
O tédio é um sentimento humano com o qual me identifico demasiado. Tenho
dele consciência nos dias de ligeiro menor stress ou nos dias de irritação com
o trabalho. É muito raro sentir tédio fora do local de trabalho. E quando o
sinto é normalmente associado a um cansaço excessivo que me leva a um estado
estranho de alienação, em que tento tudo para nada fazer.
O tédio é ubíquo. Quando se sente tédio, sente-se em todo o corpo, nos
poros; no espaço que nos rodeia. É como uma camada pegajosa dificílima de
ultrapassar sem um mind changer. Para mim, a arte pode vencer o
tédio. Mas, às vezes, não me permitem a arte. Às vezes, não me desobrigo do
tédio.
O tédio é paradoxal I. O conceito de tédio é interessantíssimo de um
ponto de vista filosófico. E, todavia, a sua existência, ou melhor, a sua
consciencialização é uma agressão ao mais humano que temos. Para mim, a
filosofia pode vencer o tédio.
O tédio é paradoxal II. Se, por um lado, é um sentimento muito sufocante
de perda de tempo, potencialmente útil para uma atividade ou pensamentos
interessantes e portanto não entediantes; é por, outro lado, um momento de
consciencialização. E um momento de consciencialização não deveria ser um
momento de tédio.
O tédio é angústia. Mas do conceito do tédio nasceu este texto. E eu com
tantas saudades de escrever, criei-o. E na escrita, talvez só na escrita, crio
autenticidade, crio verdades. E nessa autenticidade da auto-compreensão não há
tédio. Nessa autenticidade da escrita – que tanto me foge – eu sou mais eu.
Pois. Talvez não tenha sido mau esquecer-me onde coloquei o texto
inicial.