Apontamentos fugazes 94

Lleyton Hewitt

Mais um bocadinho e o Lleyton fazia a lágrima do canto do olho cair.

Ferrer 6 3 3 6 6
Hewitt 2 6 6 3 4
a

Trivialidades 149

Recordações dos American Gladiators



E agora de volta

Apontamento fugazes 93

Está-se certo ou tem-se razão?
a

Trivialidades 148

Ciclo guilty pleasures

Vingança
a

Trivialidades 147

Quero partilhar convosco umas palavras sábias de uma amiga minha

«Shit happens.»
a

Pensamentos líquidos 86

Há alturas em que a revolta é positiva

Vinha, de Frankfurt para Lisboa, a ler a Economist de há umas semanas atrás. E fiquei boquiaberta de choque, de revolta, de despeito durante minutos que não soube contar. Mas dentro da minha revolta houve um contentamento por eu não ser (não ser ainda, talvez) indiferente. Enquanto não se é indiferente, pode fazer-se muito. Coisas pequenas, talvez, mas fazer-se ainda. Se nada do que vou transcrever aqui é novo, a revolta a cada vez que episódios deste acontecem devia ser nova. E maior. Ruidosa.

Exactamente por não me sentir indiferente, decidi transcrever o artigo todo. À mão. Para não me esquecer do que li tão depressa. E para indignar todas as pessoas que visitarem este post. Devo avisar que o artigo é chocante. Nada de novo, é certo. Mas não sejam indiferentes.

«Atrocities beyond words

A barbarous campaign of rape

Everything in the Democratic Republic of Congo, a country almost the size of western Europe, is on a scarcely imaginable scale – including the violence. Among the most beautiful mountain vistas, terraced hillsides and lush tropical greens of eastern Congo, a bitter, decade-long civil war that officially ended in the rest of the country in 2003, and that has claimed several million lives as a result of fighting and disease, burns on in the eastern border provinces of Ituri, North Kivu and South Kivu. A ceasefire signed in the town of Goma in January between the government and more than a score of militias has so far done little to ease the plight of civilians in the east. All sides – government troops, says the United Nations, as well as the militias – continue to use rape as a weapon of war on a barbarous scale.

Most victims, as ever, are women and girls, some no more than toddlers, though men and boys have sometimes been targeted too. Local aid workers and UN reporters tell of gang rapes, leaving victims with appalling physical and psychological injuries; rapes committed in front of families or whole communities; male relatives forced at gunpoint to rape their own daughters, mothers or sisters; women used as sex slaves forced to eat excrement or the flesh of murdered relatives. Some women victims have themselves been murdered by bullets fired from a gun barrel shoved into their vagina. Some men, says a worker for the UNs Children Fund (Unicef), have been forced to simulate having sex in holes dug in the ground, with razor blades stuck inside.

Sometimes the motive is revenge for attacks by rival militias, sometimes it is ethnic cleansing and on other occasions an effort to undermine the morale of the enemy by spreading shame, injury and disease. The trauma and appalling injury suffered by women and men who survive such assaults cripple families and whole villages. Is eastern Congo up to 80% of reported fistula cases in women are thought to result from rape attacks. The epidemic of violence also spreads HIV/AIDS.

According to a report published in October by the UN secretary-general in an effort to get governments to do more to protect civilians caught up in this and another conflicts, in the first six months of 2007 there were 4 500 cases of sexual violence reported in South Kivu alone. As a rule of thumb in such situations, says the UN, for every rape that is reported, as many as ten or 20 cases may go unreported.

Rape in warfare is nothing new. Congo has long had a culture of violence and an almost non-existent judicial system. Though rape is supposedly illegal, often it is the victim who is shunned. Neither army nor militia commanders seem to see rape as a serious offence and so take no action against their marauding soldiers. Some fighters are said to believe that the rape of a virgin bestows invincibility in combat. But these are not random acts by misguided or crazed individuals, says the UN; they are a deliberate attempt to dehumanise and destroy entire communities.

(…)

The idea is to draw world attention to the plight of civilians, whose suffering is at least as extreme as anything witnessed in the better-publicised conflict in Sudan’s western region of Darfur. The hope is that outside governments, the African Union, the European Union and the United States may offer political and financial support. Since all UN members have promised to observe a fundamental “responsibility to protect” their citizens from war crimes and crimes against humanity, focusing world attention on such crimes in eastern Congo is perhaps the least outsiders can do.»

Versão impressa da Economist, 3 Maio

Trivialidades 147

Do que os alemaes dizem em alemao so percebo numeros. Snif. Snif. Snif.
a

Trivialidades 146

Rafa

Posso estar enganada, mas estou convencida que o Nadal já se habituou a jogar com dores. Muitas.
a

Momentos de poesia 12

Crise lamentável

Gostava tanto de mexer na vida,
De ser quem sou – mas de poder tocar-lhe…
E não há forma: cada vez perdida
Mais a destreza de saber pegar-lhe.

Viver em casa como toda a gente.
Não ter juízo nos meus livros – mas
Chegar ao fim do mês sempre com as
Despesas pagas religiosamente.

Não ter receio de seguir pequenas
E convidá-las para me pôr nelas –
À minha torre ebúrnea abrir janelas,
Numa palavra, e não fazer mais cenas.

Ter força num dia pra quebrar as roscas
Desta engrenagem que empenando vai:
– Não mandar telegramas ao meu Pai,
– Não andar por Paris, como ando, às moscas.

Levantar-se e sair – não precisar
De hora e meia antes de vir prà rua.
– Pôr termo a isto de viver na lua,
– Perder a «frousse» das correntes de ar.

Não estar sempre a bulir, a quebrar coisas
Por casa dos amigos que frequento –
Não me embrenhar por histórias melindrosas
Que em fantasia apenas argumento.

Que tudo é mim é fantasia alada,
Um crime ou bem que nunca se comete:
E sempre o Oiro em chumbo se derrete
Por meu azar ou minha Zoina suada…

Mário se Sá Carneiro, 1916, Paris

Pensamentos líquidos 85

“Black America”

Felizmente nem todos têm uma mente tão pré-concebida como o Sr. Watson. Vejam aqui um artigo giríssimo sobre as diferenças (e seus motivos) entre os African-American e os Latinos ou American. E como essas (não) diferenças se reflectem, por exemplo, nas remunerações.


[via Economist]

Trivialidades 145

Ciclo guilty pleasures

Adaptações, da BBC, em formato “série”, dos romances da Jane Austen.

a

Momentos de poesia 11

O pajem

Sozinho de brancura, eu vago – Asa
De rendas que entre cardos só flutua…
– Triste de mim, que vim de Alma p’rà rua,
E nunca a poderei deixar em casa…

Mário se Sá Carneiro, 1914, Barcelona

Apontamentos fugazes 92

Um mundo perfeito é aquele onde há sempre um culpado… e nunca sou eu.
a

Momentos de poesia 10

Ângulo

Aonde irei neste sem-fim perdido,
Neste mar oco de certezas mortas? –
Fingidas, afinal, todas as portas
Que no dique julguei ter construído…

– Barcaças dos meus ímpetos tigrados,
Que oceano vos dormiram de Segredo?
Partiste-vos, transportes encantados,
De embate, em alma ao roxo, a que rochedo?...

Ó nau de festa, ó ruiva de aventura
Onde, em Champanhe, a minha ânsia ia,
Quebraste-vos também ou, porventura,
Fundeaste a Ouro em portos de alquimia?...

………………………………………
………………………………………

Chegaram à baía os galeões
Com as sete Princesas que morreram.
Regatas de luar não se correram…
As bandeiras velaram-se, orações…

Detive-me na ponte, debruçado,
Mas a ponte era falsa – e derradeira.
Segui no cais. O cais era abaulado,
Cais fingido sem mar à sua beira…

– Por sobre o que Eu não sou há grandes pontes
Que um outro, só metade, quer passar
Em miragens de falsos horizontes ­
Um Outro que eu não posso acorrentar…

Mário se Sá Carneiro, 1914, Barcelona

Apontamentos fugazes 91

O escravo e o mestre

– O que é que um escravo imprescindível faz, Mr. Holmes?
– Negoceia, meu caro Watson, negoceia.
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Recomendações 26

Maio de 68 no IFP

Começou ontem e vai acabar na próxima 6ªfeira, no Instituto Franco-Português, o ciclo «Maio de 68 no Cinema». Aconselho e chamo a atenção para dois filmes em concreto “Les Amants Réguliers” de Philippe Garrell e “Un film comme les autres” de Godard.
a

Trivialidades 144

O'Sullivan



Digam-me. Digam-me. Como é que eu posso gostar de um jogador de snooker que faz esta careta?
a

Pensamentos líquidos 84

Petição contra o Acordo Ortográfico

Tenho tantos motivos para me opor ao Acordo Ortográfico que nem me apetece explicar nenhum… mas, só para mostrar que tenho argumentos, e argumentos linguisticamente racionais, escolho um dos motivos: fonologia.

Escolhamos um exemplo: “acção”.

Em termos fonológicos, “acção” e “ação” são palavras diferentes. O fonema “a mais” na primeira palavra [c] existe para abrir a vogal anterior. As duplas consoantes, muito comuns no italiano (1), servem para isso. No português, isso é conseguido não só com duplas consoantes mas também com sucessões de consoantes, como [pt] (como em “baptizado”) ou [cç] (também como em “facção”). Ora, quando o [c] cai na palavra “acção” implica que o primeiro [a] passe a ser um [a] fechado como o segundo [a] de “faca”…

Foi fácil provar que não só fonologicamente as palavras “acção” e “ação” são diferentes como também o são foneticamente. E não me apetece muito dizer “ação”…

Com isto não quero dizer que a Língua portuguesa está perfeita e não deve sofrer evoluções. Isso seria idiota. Quero exactamente dizer o contrário. Provavelmente a palavra “inflação” foi um lapso e a palavra “correcta” deveria ser “inflacção” porque esta sim seria fonologicamente o que é foneticamente.

Decidi, propositadamente, não falar da etimologia aqui. É que, até um certo ponto no tempo, etimologicamente, o português de Portugal e o português do Brasil tiveram obrigatoriamente que ser iguais e depois as influências que sofreram foram necessariamente diferentes e, por isso, devem seguir rumos diferentes. Mas ao contrário do que algumas pessoas parecem achar, eu não acho isso nada negativo.

Por isso (e se ficaram sensibilizados com a minha argumentação), se quiserem, assinem a petição (Manifesto em Defesa da Língua Portuguesa, Contra o Acordo Ortográfico).

(1) A evolução da Língua Italiana para uma língua sem acentos não foi extemporânea: para o fazerem de uma forma lógica, em termos fonológicos, tiverem que dobrar consoantes para manter a equivalência fonética.
a

Trivialidades 143

– Como é que se chamam os habitantes de Quebradas?
(silêncio)
– Quebradiços!

Xana

Poemas 24

Até ao fim

Como se enchesse um balão
até ao fim.
Naqueles instantes intermináveis
em que está quase a rebentar
mas aguenta.
Até ao fim.

Já pensaram que o balão pode sufocar com tanto ar?

[Janeiro de 2007]

Trivialidades 142

Penso, a cada vez que nado bruços, que na minha vida anterior fui uma rã.
a

Pensamentos líquidos 83

Sobre o preço dos cereais

«In Haiti, protesters chanting “We’re hungry” forced the prime minister to resign; 24 people were killed in riots in Cameroon; Egypt’s president ordered the army to start baking bread; the Philippines made hoarding rice punishable by life imprisonment.
(…)
The prices mainly reflect changes in demand – not problems of supply, such as harvest failure. The changes include the gentle upward pressure from people in China and India eating more grain and meat as they grow rich and the sudden voracious appetites of western biofuels, which convert cereals into fuel. This year the share of the maize (corn) crop going into ethanol in America has risen and the European Union is implementing its own biofuels targets. To make matters worse, more febrile behaviour seems to be influencing markets: export quotas by large grain producers, money from hedge funds looking for new markets.
(…)
Usually, a food crisis is clear and localised. The harvest fails, often because of war or strife, and the burden in the affected region falls heavily on the poorest. This crisis is different. It is occurring in many countries simultaneously, the first time that has happened since the early 1970s. And it is affecting people usually not hit by famines.
(…)
But by almost any measure, the human suffering is likely to be vast. In El Salvador the poor are eating only half as much food as they were a year ago. Afghans are now appending half their income on food, up from a tenth in 2006.»

From Economist’s briefing “Food and the poor”, April 19th
a