Ciclo F – Auto-perfídia
Houve uma inocência qualquer que me fugiu quando te conheci. A inocência da esperança. A esperança sempre me havia sido alheia, mas a inocência…transportei-a dentro de mim por alguns anos contínuos. Inocência infantil de esperança.
Roubaste-me essa inocência sem o saberes. Depois de ti, tenho noção dos limites da possibilidade, quando o exequível permanece nas minhas acções.
Talvez possa ainda mudar o mundo e, tal como Alberto Caeiro escreveu, reconhecer-me infeliz na tentativa. Mas defini-me tanto que já não posso mudar-me a mim!
E és tu o culpado deste realismo que me estilhaça para no futuro não me destruir de vez. A força que finjo é só mais uma manobra de diversão. De mim. Não olhes para mim. Não me vejas. Não percebes que assim me fazes inocente outra vez? A inocente que acredita ser possível. E eu? Eu sei que não é. Por isso não me faças mentir-me só porque me olhas assim. E não digas essas palavras que podem significar pouco mas me encantam tanto. Por favor, não o faças. Só se o não fizeres poderei ultrapassar a barreira, sentir a dor, mas continuar; assim, se o fizeres a dúvida habitar-me-á sempre e a serenidade habitará o vazio. E mesmo assim quereria ainda alguma certeza, alguma paz ou tranquilidade.
Queria saber. Principalmente saber que não me querias ou não me queres. Saber que esta angústia que me corrói se justifica pelo que sabes e eu não sei e saber que não te causo angústia semelhante. Saber que mesmo existindo um para o outro, não existiremos para nós dois. Queria só saber isso. Não é assim tanto pedir a verdade. Pedir a verdade que reconheço diariamente e matar definitivamente a esperança que teima em renascer. Queria só que me magoasses contundentemente…definitivamente, mas sem eu te pedir, sem te dizer que preciso disso como da água que me compõe o corpo. A dor da verdade e da certeza, mas a paz. Preferia, porém, sabê-lo num sonho para continuar a viver a mentira. A nossa mentira, as brincadeiras inocentes e as provocações indecentes num analgésico interesseiro…
E apesar de saber tudo isto, vejo-te dentro do meu teatro da mente, a representar a nossa mentira. E consigo imaginar-nos, não, na verdade consigo ver-nos num abraço perfeito, numa cumplicidade obscena, num beijo em uníssono, numa realidade paralela em que só a mentira é verdade.
Houve uma inocência qualquer que me fugiu quando te conheci. A inocência da esperança. A esperança sempre me havia sido alheia, mas a inocência…transportei-a dentro de mim por alguns anos contínuos. Inocência infantil de esperança.
Roubaste-me essa inocência sem o saberes. Depois de ti, tenho noção dos limites da possibilidade, quando o exequível permanece nas minhas acções.
Talvez possa ainda mudar o mundo e, tal como Alberto Caeiro escreveu, reconhecer-me infeliz na tentativa. Mas defini-me tanto que já não posso mudar-me a mim!
E és tu o culpado deste realismo que me estilhaça para no futuro não me destruir de vez. A força que finjo é só mais uma manobra de diversão. De mim. Não olhes para mim. Não me vejas. Não percebes que assim me fazes inocente outra vez? A inocente que acredita ser possível. E eu? Eu sei que não é. Por isso não me faças mentir-me só porque me olhas assim. E não digas essas palavras que podem significar pouco mas me encantam tanto. Por favor, não o faças. Só se o não fizeres poderei ultrapassar a barreira, sentir a dor, mas continuar; assim, se o fizeres a dúvida habitar-me-á sempre e a serenidade habitará o vazio. E mesmo assim quereria ainda alguma certeza, alguma paz ou tranquilidade.
Queria saber. Principalmente saber que não me querias ou não me queres. Saber que esta angústia que me corrói se justifica pelo que sabes e eu não sei e saber que não te causo angústia semelhante. Saber que mesmo existindo um para o outro, não existiremos para nós dois. Queria só saber isso. Não é assim tanto pedir a verdade. Pedir a verdade que reconheço diariamente e matar definitivamente a esperança que teima em renascer. Queria só que me magoasses contundentemente…definitivamente, mas sem eu te pedir, sem te dizer que preciso disso como da água que me compõe o corpo. A dor da verdade e da certeza, mas a paz. Preferia, porém, sabê-lo num sonho para continuar a viver a mentira. A nossa mentira, as brincadeiras inocentes e as provocações indecentes num analgésico interesseiro…
E apesar de saber tudo isto, vejo-te dentro do meu teatro da mente, a representar a nossa mentira. E consigo imaginar-nos, não, na verdade consigo ver-nos num abraço perfeito, numa cumplicidade obscena, num beijo em uníssono, numa realidade paralela em que só a mentira é verdade.
[Dezembro de 2005]
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