Pensamentos líquidos 25
Dúvidas linguísticas
Tenho imenso interesse em questões de linguística. E surgem-me muitas dúvidas. Designadamente sobre fonética. Talvez porque digo vermelho a ler o segundo “e” como [e], o “e” de pêra, enquanto a maior parte das pessoas que conheço utiliza a pronunciação [á] como em cama ou [áj], como em leite. Descobri muito (mas mesmo muito) recentemente que vários dicionários consideram as três pronúncias como correctas, ainda que considerem algumas como dialectais. Talvez um dia poste mais qualquer coisa sobre este assunto; por agora queria só deixar-vos, ou melhor, lembrar-vos que as “Dúvidas linguísticas” do site do Público são muito úteis para clarificarem questões que vão surgindo sobre a língua portuguesa.
Por curiosidade, deixo-vos esta dúvida sobre sintaxe que me faz uma confusão desgraçada: advém do uso da dupla negação e é atrozmente ilógica.
Apontamentos fugazes 30
Pensamentos líquidos 24
Só nessas alturas todos os meios de transporte me pertencem. Se for trabalhar de carro, tudo flui. No metro respira-se em hora de ponta. Nos autocarros? Bem, deixei de andar de autocarro. Só nestas alturas, as infraestruturas parecem dimensionadas para aquilo que devem suportar.
A maior diferença é talvez a andar de carro. Sim, eu sei, mea culpa. Deveria andar menos de carro. Mas sabem? Já andei (e continuo a andar) muito de transportes públicos em Lisboa. E se o metro, ainda que a diminuir visivelmente a qualidade do serviço que presta, ainda é tolerável; os autocarros são insuportáveis. E já nem quero falar sobre a possibilidade de andar a pé.
A rede de metro é manifestamente insuficiente. Tem a vantagem de andar lá por debaixo e de passar incólume às confusões da superfície. Mas pode ter que se andar demasiado para chegar a uma estação. Ora, isto traz-me ao problema de andar em Lisboa.
Andar em Lisboa é, para mim, um pesadelo. Vicissitudes de ser... Lisboa e portanto uma cidade de sobe e desce o que eu, francamente, destesto; mas também consequência do piso horroroso que tem. Não vou explorar o tema da calçada portuguesa novamente, é-me suficiente dizer que é manifestamente desconfortável, irritante e oneroso andar sobre aquelas pedras e saltar aqueles buracos [pergunta: se a CML é responsável por danos em automóveis causados pela degradação do asfalto, não deveria ser responsável e responsabilizada pelos estragos no calçado?]. Nem preciso entrar no tema dos passeios sujos e passar à questão do civismo: onde entronca a questão do mau estacionamento e passamos ao sr. ciclo vicioso: ora, se há mau estacionamento o tráfego de transportes públicos (e privados) flui mais devagar e se os transportes públicos não são suficientemente eficientes as pessoas preferem utilizar o seu carro e continua. Continua. Continua.
Depois os autocarros. São (eram?) feios e sujos. Pouco práticos numa cidade de ruas minúsculas. As pessoas teimam em utilizá-los à bruta: ao ponto da sardinha enlatada - deve ter qualquer coisa a ver com o calor humano. Atrasam e atrasam e atrasam. Novamente ciclo vicioso. E irritam.
E há ainda a insegurança. Lisboa é uma cidade muito morta. Eu não andaria de transportes públicos à noite em muitos locais da cidade. Já para não falar em sair da cidade de tranportes públicos à noite. Convite ao assalto.
E assim ando cada vez mais de carro. Sinto-me culpada e não me sinto culpada. Sinto-me culpada por causa do ambiente. Preferia andar mais de metro, mas não me podem pedir para fazer quilómetros a pé nesta cidade onde é tão difícil andar. Não me sinto culpada quando penso nalgumas pessoas ou na CML que gosta de exibir iniciativas de show-off porque as realmente importantes dão muito mais trabalho e implicam muitas mais coisas. Mudar, sabem?
Mas, de qualquer modo, nada como as férias das outras pessoas para andar em Lisboa.
Glimpse 11
foi mais ou menos assim que acabou a minha estadia, desta vez, em Londres.
E demorou mais de um dia a acabar...
Contos 12
Sabes. Talvez se eu começasse a juntar letras. Teria palavras em pouco tempo e, com um pouco de rapidez, uns movimentos de dedos, e talvez frases. Preciso de frases, semântica coerente que me permita realizar o que é pré-verdade, pré-existência. Mas ainda ninguém. As palavras conhecem-nos antes dos outros. As frases a seguir. A coerência de um texto então conhece tudo, permite tudo. Só o que as palavras expressam é criado, ainda que sejam palavras mentais, ainda que não tenham ainda saído. Assim, presas, agrilhoadas nas dificuldades de expressão. Mas já se conhecem a elas e pré-conhecem as verdades que vão habitar. São o veículo maior. As palavras. Sabes. Só elas permitem que existamos. Se não pudesse dizer o teu nome, continuarias a existir? Acho que não, eras menos, eras diferente. Eras? Serias. Porque já és porque o estou a escrever. As palavras já te habitaram e tu habitaste as palavras. Cada palavra é única mesmo que igual a anterior; já quer dizer outra coisa quando repetida, quer dizer outra coisa quando deslocalizada, quer dizer outra coisa noutra boca, noutros dedos, noutra caneta.
Por isso só preciso achar as palavras, construir as frases, ter o texto. E dizer tudo. E tudo ser verdade. Inexoravelmente, nos segundos variáveis que depois cada pessoa demora a ler.
Pensamentos líquidos 23
Chego a Heathrow atempadamente por causa da segurança. Aquilo que eu já sabia inevitável, mas sobre o qual há sempre uma esperança escondida que não aconteça. O voo atrasado uma hora. Jantar combinado em Lisboa. Começo a duvidar conseguir aparecer. Começo a ficar irritada. Com pouca paciência. Engulo a irritação e continuo.
Fila para passar a segurança. Verificação dos líquidos and so on. Enorme. Não, não estão a perceber. Enorme é mesmo enorme. Monstruosa. Um conjunto grande de staff a tentar organizar a fila. O meu lip gloss quase vazio num saquinho de plástico. Moving on. Pessoas aflitas porque a hand luggage não cabe nas estruturas metálicas por meio milímetro e eles são inflexíveis com a possibilidade de continuarem.
Mme, you should put your luggage one inside of the other. You are allowed only one. E as pessoas tentam. Dizem-me que para os homens este problema é menos grave. Acredito. Mas quando eu levo o meu portátil (não era o caso desta vez), é mais do que óbvio que preciso de levar dois volumes. A mala do computador e a minha mala pessoal. Onde é que querem que eu ponha a minha carteira? Os meus óculos? Os meus lenços de papel? A minha bolsinha das canetas? As minhas chaves de casa? Os meus batons? A minha agenda? O meu fio dentário? O meu bloquinho de apontamentos rápidos? Não sei se repararam, já nem pedi espaço para o meu livro. And gosh, that is also fundamental. Ou acham que devo mandar o meu portátil para o porão? Dear me.
Depois, tirar os casacos. Todos. Esqueci-me, algures na fila, da delicadeza e perguntei à segurança se queria que eu morresse congelada. Mais à frente, uma bebé chorava porque não queria tirar os sapatos e não estava obviamente a perceber por que é que aquela mulher a queria agarrar. E depois, muito à americana, faziam todas as pessoas tirar os sapatos e manter os pés descalços naquele chão frio. Já estava muito irritada, o meu voo atrasado, nessa altura, mais de uma hora. E depois aqueles seguranças. Mas, sem casacos, descalça, eu tentei não ser mal-educada com as pessoas. E o que é que recebo em troca? As minhas botas LO a serem tratadas como uma porcaria qualquer. Tive que me controlar brutalmente para não descer abaixo do nível mínimo de civismo.
Eu tento ser compreensiva. A sério que tento. Mas irrita-me muito por causa de fundamentalistas dos dois lados (os dos atentados e os da segurança) ter que suportar este tipo de coisas. E já nem quero entrar nas questões de privacidade.
O voo atrasou mais de 2 horas. Cheguei estupidamente cansada de uma viagem de duas horas e meia.
…Lisboa…
Regresso a Londres. Sem atrasos. Tudo a correr bastante bem. Durmo na viagem e o que não dormi, li ávida o que há muito queria ler. Chego a Londres, bem disposta, e o que é que acontece? A minha bagagem tinha sido revistada e o fecho e o cadeado destruídos. Resultado: a minha mala de viagem fica inutilizada para a viagem de regresso na quarta-feira. E ainda tenho que a levar assim. Ggrrrr…
A sério. Eu tento ser compreensiva, mas um dia destes passo-me e mando alguém f*** himself.
Pensamentos líquidos 22
Fim-de-semana em Lisboa. Levar parte da bagagem de volta. Encontros sociais. Voltinhas em Lisboa. Voltar a Londres para os dias finais.
É estranho.
É estranho não ter sido para mim nada estranho regressar. Como se não tivesse estado sequer uma semana fora. Todas as estradas normais. A minha casa igual. Tudo comum, tudo quotidiano. Nenhuma sensação de diferença, de estranheza.
Mas depois.
Converso sobre uma coisa que comprei em Londres e ofereço-me para comprar uma igual. Quando reparo, estava a pensar que, se saísse de casa (em Lisboa) e andasse um bocadinho, poderia ir ao Whiteleys comprar.
Acho que estou a começar a misturar tudo…
Regresso a Londres. Tudo igual. Como se não tivesse ido de fim-de-semana a Portugal. Como se Londres fosse a minha cidade de nascença. Tudo quotidiano.
Não sei, esta minha flexibilidade pode ser boa ou má, mas não me tranquiliza.
Momentos de poesia 2
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Assombro ou paz? Em vão… Tudo esvaído
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
De tudo houve um começo … e tudo errou…
Momentos de alma que,desbaratei…
Se me vagueio, encontro só indícios…
Num ímpeto difuso de quebranto,
Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Mário de Sá Carneiro, Paris, 1913
Já vos disse que ele é o meu favorito, não já?
Trivialidades 32
Damn it. I will miss this. The after-hours drinks. The Saturday theatre matinees. The in-hours drinks. The buzz at Covent Garden. The drinks while decorating the Christmas tree. The punks, the goths, the freaks, all the tribes. Tate Modern. Pedestrian bridges. The English accent (whenever I do find an English person). The lovely markets. The nice pubs. The music events. Should I repeat it? The music events.
But I surely won’t miss mice at the tube stations…
Apontamentos fugazes 28
Por que é que não se pode ter tudo o que se quer no mesmo lugar?
Por que é que não se pode ter tudo o que se quer ao mesmo tempo?
Trivialidades 30
Sobre elegância
Não há nada como escrever ao computador de unhas grandes e bem pintadas. Pode ser ligeiramente desafiante, mas é muito elegante. Os dedos mais direitos, mais móveis.
Tudo o que não se deve fazer quando se toca um instrumento de teclas...
Glimpse 10
Posso mostrar-vos um dos meus sítios (agora) preferidos em Londres?
É pena ser assim tão crowded, mas...
... a animação vale, sem dúvida, a pena...
... e é o melhor sítio em Londres para fazer tatuagens ou comprar roupa gótica.
Trivialidades 29
Mas voltando àquela marca de que tinha falado. É uma marca com orgulho no seu nome. Tem umas camisolas giras com "coisas" giras - desenhos, palavras, frases. Costumam ser vistosas. Mas eu gosto. Para terem uma ideia mais visual - há, por exemplo, uma muito engraçada com um desenho de uma boneca toda jeitosa e que diz "Sexo Hispanico". E claro, também, a marca DE PUTA MADRE.
Não sei. O que acham? Será que indo assim vestida para o Banco teria mais sucesso do que quando fui de trancinhas?
Pensamentos líquidos 21
Ah. Se quiserem que o vosso blog seja adicionado à lista de blogs que apoiam o "sim" no referendo da IVG, vão a http://arrastao.weblog.com.pt/arquivo/2006/12/pelo_sim uma vez que o Arrastão está a fazer a compilação.
Chamo a atenção para a lista dos movimentos cívicos que também se encontra na página. Tinha-vos dado notícia de um deles; não conhecia os outros. Fico contente em sabê-los.
Apontamentos fugazes 27
Imo protegido.
P.S. Parece-me bastante legítimo criar o verbo hermetizar. Não acham?
Trivialidades 28
Ficar na cama depois de acordar
Pensamentos líquidos 20
SIM
à liberdade individual de cada pessoa.
Contos 11
Desculpa. Roubei-te.
Trivialidades 27
Ando a fraquejar. Hoje vieram-me lágrimas aos olhos ao mascar pastilhas de menta. Era só p’raí o terceiro par de pastilhas consecutivas que punha na boca. Brincadeira de crianças…