Pensamentos líquidos 24

Férias

Férias. Adoro férias. Não pensem que estou a dizê-lo no sentido egoísta: as minhas férias. Não. Gosto que as outras pessoas estejam de férias. Mesmo enquanto trabalho...

Só nessas alturas todos os meios de transporte me pertencem. Se for trabalhar de carro, tudo flui. No metro respira-se em hora de ponta. Nos autocarros? Bem, deixei de andar de autocarro. Só nestas alturas, as infraestruturas parecem dimensionadas para aquilo que devem suportar.

A maior diferença é talvez a andar de carro. Sim, eu sei, mea culpa. Deveria andar menos de carro. Mas sabem? Já andei (e continuo a andar) muito de transportes públicos em Lisboa. E se o metro, ainda que a diminuir visivelmente a qualidade do serviço que presta, ainda é tolerável; os autocarros são insuportáveis. E já nem quero falar sobre a possibilidade de andar a pé.

A rede de metro é manifestamente insuficiente. Tem a vantagem de andar lá por debaixo e de passar incólume às confusões da superfície. Mas pode ter que se andar demasiado para chegar a uma estação. Ora, isto traz-me ao problema de andar em Lisboa.

Andar em Lisboa é, para mim, um pesadelo. Vicissitudes de ser... Lisboa e portanto uma cidade de sobe e desce o que eu, francamente, destesto; mas também consequência do piso horroroso que tem. Não vou explorar o tema da calçada portuguesa novamente, é-me suficiente dizer que é manifestamente desconfortável, irritante e oneroso andar sobre aquelas pedras e saltar aqueles buracos [pergunta: se a CML é responsável por danos em automóveis causados pela degradação do asfalto, não deveria ser responsável e responsabilizada pelos estragos no calçado?]. Nem preciso entrar no tema dos passeios sujos e passar à questão do civismo: onde entronca a questão do mau estacionamento e passamos ao sr. ciclo vicioso: ora, se há mau estacionamento o tráfego de transportes públicos (e privados) flui mais devagar e se os transportes públicos não são suficientemente eficientes as pessoas preferem utilizar o seu carro e continua. Continua. Continua.

Depois os autocarros. São (eram?) feios e sujos. Pouco práticos numa cidade de ruas minúsculas. As pessoas teimam em utilizá-los à bruta: ao ponto da sardinha enlatada - deve ter qualquer coisa a ver com o calor humano. Atrasam e atrasam e atrasam. Novamente ciclo vicioso. E irritam.

E há ainda a insegurança. Lisboa é uma cidade muito morta. Eu não andaria de transportes públicos à noite em muitos locais da cidade. Já para não falar em sair da cidade de tranportes públicos à noite. Convite ao assalto.

E assim ando cada vez mais de carro. Sinto-me culpada e não me sinto culpada. Sinto-me culpada por causa do ambiente. Preferia andar mais de metro, mas não me podem pedir para fazer quilómetros a pé nesta cidade onde é tão difícil andar. Não me sinto culpada quando penso nalgumas pessoas ou na CML que gosta de exibir iniciativas de show-off porque as realmente importantes dão muito mais trabalho e implicam muitas mais coisas. Mudar, sabem?

Mas, de qualquer modo, nada como as férias das outras pessoas para andar em Lisboa.

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