Trivialidades 15
Provocações inconscientes
Apontamentos fugazes 17
Apontamentos fugazes 16
- Hey sweetie, remember me?
Poemas 6
We are the phantoms of ghosts.
We are the dream to live for.
Where nothing exists for sure,
we are the nightingale of sour.
We are some sort of inexistence,
we are the fact of reality,
Deep, light, done or thought
we are a fight waiting to be fought.
We are the anxious in serenity.
We are hidden in the dark
but in the light, black starts to gleam:
we are the spots of surprising steam.
We are so scared, as all the others,
we are as frightened as being here
Faith, distrust or believe unsure:
We just don’t really exist for sure.
[Julho de 2002]
Contos 7
E a dúvida, novamente. Aquela que constantemente me atormenta. A incerteza. Aquela que me condiciona as acções. E tu. A fonte, destas dúvidas, de tantas incertezas. Mesmo que esconda ou disfarce os condicionalismos que me provocas. Se negasse, enganar-me-ia a mim. Se assentisse, enganar-me-ia também. E tu. Indiferente.
Julgava que se te deixasse dissipar de mim, restabeleceria uma qualquer tranquilidade possível, mas ganhei só uma tristeza. Uma tristeza sem densidade. Um vazio cheio de saudade. Uma falta de sentir falta. De ti. A necessidade da tua presença, da tua existência, diminuiu, desvaneceu com o decorrer anónimo de dias difusos. Dias em que não te vi, excepto quando te recriei inteiro no meu palco de dentro. Dias em que preferiste não me ver, enquanto ainda precisava tanto de ti. Dias que passaram lentos, intensos em sofrimento. Dias que me trouxeram a hoje. O dia em que já não sinto falta. De ti.
E, todavia. Sinto falta da dor. Do sofrimento de necessitar tanto de ti e não te poder ter perto. Sinto falta da necessidade obsidiante que tinha de te imaginar. De criar uma realidade etérea em que nos conseguia ver, aos dois. Via-nos próximos, conseguia imaginar a minha mão direita a tocar a tua face. Expectante. Sinto falta da angústia. Quando saída dessa realidade paralela. E ainda assim. Nesses momentos em que via o meu corpo chegar perto do teu e sentia a tua pele por debaixo da roupa de frio e criava uma possibilidade impossível. Sinto falta de ti? Não. Sinto saudade de sentir uma dor incomensurável enquanto sentia falta de ti. O meu masoquismo indecente.
Inevitavelmente. Coerentemente. Como sempre. Terei, desta vez, deixado passar a possibilidade de lutar por uma felicidade indiscreta que acredito não existir? Ou tê-la-ás negado? Por não a quereres, por não ser tua. Não ser nossa. Sei que, novamente, tudo será igual ao que sempre foi. Destino criado por mim. Inexoravelmente.
Sim, julgava que se te deixasse dissipar de mim, restabeleceria um equilíbrio. Mas como restabelecer algo que nunca possuí? Em mim. Agora, uns dias mais e a tristeza transforma-se em indiferença. Aquela. A minha companheira dos momentos constantes.
Mas, entretanto. Esta falta de sentir falta de ti é tão dolorosa como a necessidade que antes tinha da tua existência. Este é o dia em que sei. Sim, sei. É o dia em que já não sinto falta. De ti.
Adeus.
Trivialidades 13
Duas aulas de Body Combat. Duas espectaculares quedas. Ou melhor, para ser sincera, sincera, eu não caí, eu escaqueirei-me no chão. Das duas vezes. E das duas vezes o mesmo professor olhou para mim com uma cara assustada que vocês não imaginam. Uma cara de pânico. Um olhar que perguntava “Estás bem?” enquanto eu, qual Speedy Gonzalez a levantar-se, rapidamente acenava afirmativamente. E a vergonha. Porque cair uma vez é aceitável. Duas, com o mesmo professor, mais ou menos as mesmas pessoas, é embaraçoso. Mas posso garantir uma coisa: quem não estava a olhar para mim enquanto caía nem sequer soube que caí, tal foi a velocidade a que me levantei.
Entretanto, se alguém me quiser encontrar no ginásio, perguntem pela “gaja que cai nas aulas de combat”. Deve ser assim que sou conhecida…
Trivialidades 12
Arquictetura, artes plásticas e design 2
Andy Warhol, "Marilyn Orange", 1967
Apontamentos fugazes 15
Trivialidades 11
Entertainment wrestling
Contos 6
Tive a certeza ao finalmente agarrar a tua mão que precisava tanto de ti. Esta noite. Mesmo depois do mundo à beira do precipício do fim. Das bombas e das tragédias. Da tristeza obsidiante à minha volta. Mesmo depois da tua tristeza.
Tinhas sido despedido, ou talvez tivesse deixado de existir o teu emprego, os teus empregos. Qual? Estavas triste e gostei que o tivesses partilhado comigo. Ainda antes da tragédia, já havia uma proximidade tão grande entre nós, já havia novamente as brincadeiras não inocentes das quais gostava tanto, já havia a cumplicidade que entretanto nos tinha abandonado, havia de novo os olhares, havia a consciência agradável da presença um do outro. E havia algo novo. O toque. Pela primeira vez, tocava-te intencionalmente e aceitava-lo intencionalmente. O toque entre as nossas peles, primeiro o toque entre as nossas mãos, em perfeito uníssono, quando olhei para trás, para ti, e estiquei o meu braço em busca e voluntariamente dirigiste a tua mão em direcção à minha para finalmente. Unidas. As nossas mãos. Unidas. Ainda antes da tragédia. Das bombas. Da destruição.
Pela primeira vez, o entendimento tácito tornou-se explícito nas nossas mãos. Só os polegares intercalados. Os outros dedos juntos e a cobrirem docemente parte da mão oposta. Os dedos sentem tanto. Puxei-te para veres qualquer coisa. Não sei o quê. Não importa, porque vieste. E durante todo o percurso, não sei se longo se curto, as nossas mãos juntas. Finalmente.
A tragédia veio depois. As bombas, a catástrofe, a destruição do mundo próximo. O teu emprego que desapareceu. A tua tristeza calada. O teu recolhimento. Mas quando saí de dentro da sala escura, estavas cá fora, à espera com essa dor espelhada na cara e pude, apesar da mágoa, tocar-te com a proximidade de quem quer estar junto. Eu de ti. E tu de mim.
E agora há uma angústia tão densa em mim como se o corpo fosse um granito, inimpermeável; por dentro só a dor o sofrimento, ubíquo infindável. Por fora, a minha máscara de sempre, o sorriso de sempre, a gargalhada de sempre, como se a dor fosse mentira e eu uma marioneta de felicidade. Verdadeira. Se antes me conseguias levar à exultação pelo som de duas palavras escondidas, agora, só a ideia da tua existência esquarteja-me aos pedaços por saber que estarás sempre demasiado longe de mim.
Depois do sonho, físico, a realidade, física e com ela a certeza hipotética de estares longe, afastado porque queres assim. E a dor, a tristeza, a infelicidade. Dentro de mim. Mesmo com o sorriso que minto a todos. Mesmo com a determinação que avaliam em mim. Mesmo. Já o tinha pensado antes, com outro alguém, mas agora possuo a certeza possível de que poderias ser um daqueles que faria a diferença, que me inverteria a tendência para gostar e não querer, querer e não gostar, gostar ou querer e fartar. Sei que estaria melhor se estivesse contigo, sei que seria mais feliz se estivesses comigo, sei que viveria este sonho sem tragédia nem que fosse por dias com a determinação que não tenho.
E sei que dói. Dói como golpes fundo no corpo. Dói como a certeza hipotética da infelicidade. Dói como se nunca fosse parar de doer. Dói como o sorriso com que minto a todos. Dói.
E quando tento parar de sofrer, sem te ver, à espera que fiques longe e eu não pense em ti, quando faço esforços da força toda que tenho para te esquecer, apareces assim num sonho. Apareces assim. Em mim. Novamente. E dói.
[Março de 2006]
Trivialidades 10
Apontamentos fugazes 13
Até estava a começar a achá-lo giro. Depois ele disse "deiam-me".
Contos 5
Detesto-te tanto como tanto já te amei. Porque tarda a estocada final? Desfere o golpe derradeiro, enterra fundo no meu corpo a morte deste sentimento. Mas não sejas tão cruel como agora. Um prego. Um prego. Outro prego. E do meu sangue espesso escorre somente uma gota. ______________________________ Nenhum som. _____ e uma dor ______________________ goteja muito lentamente. Nunca será suficiente para matar.
Detesto-te tanto e mesmo assim. Só tarda o que sei existir porque me recuso a aceitá-lo. Como agulhas finas de dor. Sou um boneco vivo de voodoo. Nas tuas mãos. Um prego. Outro prego. E continuo sem encarar a verdade dos actos. _________________ Nenhum som. Gotejar silencioso, permite que o sangue se recrie e mantém-me num estado de morta-viva.
Detesto-te tanto mas não consigo. Não consigo deixar de te querer. Mesmo enganando o meu respeito por mim, traindo o meu orgulho de sobrevivente. E ainda outro prego. Outro prego. E mesmo com um silêncio de morte... ________________ Mesmo assim, não deixo de imaginar cenários proibidos. Por ti. Cenários idílicos que me deixei alimentar mesmo depois de cortar o amor. Retalhos.
Detesto-te tanto e tão incoerentemente. Sou composta de retalhos unidos pelos pregos que enterras na minha carne. Lentamente. É a dor que me mantém conexa. A tua crueldade que me mantém de pé. Mas um silêncio. _____________________ Um silêncio que me assusta. Tenho medo de não conseguir continuar. Neste silêncio. Enquanto outro prego. Cada vez mais fundo. E eu imune. Mas não à dor.
Detesto-te tanto e, no entanto. Se voltasses a olhar-me daquele modo e partilhássemos as palavras que antes eram só nossas. Sim, se voltássemos a criar o impossível engoliria os pregos de sangue e colaria os retalhos toscos até cantar sobre esse silêncio.
Arquitectura, artes plásticas e design 1
O meu arquitecto de eleição. Um senhor um bocadinho convencido, mas criador de maravilhas como esta casa onde eu queria viver... Um dia, em tribunal, Frank L. Wright afirmou ser o maior (no sentido de melhor) arquitecto vivo; quando criticado pela imodéstia defendeu-se argumentando que não poderia mentir sob juramento. :-)
Taliesin West, Frank Lloyd Wright, 30's
E, se gostarem, espreitem este blog porque tem umas fotos fantásticas do interior.
Recomendações 5
Poemas 5
One smile, one life
no face but a look.
Bombs in a deathful silence,
exotic sounds hurting my ears.
Singing so loud, you disappear
existing so strongly, facing a fear:
monsters with tears.
Loneliness reaches an end,
shouting for you
eyes so blue.
Dead so close, so loose;
life forever in that kiss;
then my miss.
It hurts so good,
that’s my right mood.
Happiness falling from the sky,
rain of joy all day
white clouds vanish
light blue in my mind,
waiting for you all this time.
Tell me the password,
I wanna go
Where does this noise come from?
Maybe my screams aren’t true.
I can’t listen to those lyrics
They are wordless.
Are you still there?
How can you still bear?
Thoughts elope,
nothing like dope.
Endless road, where are you?
Magic star, which path is true?
Running so fast,
in my first, my last
looking for pleasure,
that inexistent treasure.
Smile ‘cause I can’t see
Shout my name, where can you be?
Call me insane, but all this pain
Is bringing me so down.
your soft look, so brown
makes me cry
of anxiety, but shy.
I can’t stand one more lie
Like you’ve said: it’s been a while
So I’ll try
I will dry
those tears of mine.
Fevereiro de 2001
Recomendações 4
Para alguém que tem poucas convicções, crenças, seja o que for que sirva de apoio, existem outras coisas que se tornam muito importantes. Para mim é a arte, no sentido abstracto, e nas suas formas específicas.
Foi este receiozinho incómodo que viveu em mim durante algum tempo… depois de ter ouvido o álbum a solo do Thom Yorke (para quem não sabe, o Thom Yorke é o vocalista dos Radiohead). Os Radiohead pertencem àqueles por quem tenho a maior das admirações.
Precisei de ouvir várias vezes o álbum. É um álbum difícil. Ok, ouvi muitas vezes o álbum para perceber e ter uma opinião. Já sei, agora. Posso adiar o receiozinho incómodo para a próxima situação. É bom, o álbum é realmente bom.
Então, aqui vai outra recomendação… para quem estiver disposto a dar-se ao trabalho de perceber um álbum difícil… The Eraser – Thom Yorke.
Homenagens 5
Pensamentos líquidos 6
Sobre televisão
Na generalidade, as televisões são cadeias privadas e, por isso, escolhem a programação e a adequação das reportagens dos serviços informativos consoante aquilo que mais probabilidade tem de ser visto. Tudo bem, aceito. É racional que o façam. Eu também tenho a escolha de ver ou não. Pode irritar-me ter poucas coisas para ver mas assim também pouca vontade de ver. Não me parece estar a perder muito.
Mas há sempre episódios que interessa contar. O Wimbledon Open, ao contrário dos outros três torneios do Grand Slam, não é televisionado pela Eurosport. Para Portugal, a Sport TV tem o exclusivo. A uma sexta-feira, consegui sair cedo e rumar em direcção a um televisor que me permitisse ver a meia-final entre o Nadal e o Baghdatis. Acreditem, queria muito ver o jogo. EM DIRECTO. Talvez não se recordem, mas Wimbledon coexistiu com o Mundial de Futebol. A Sport TV não transmitiu a meia-final em directo, decidiu, ao invés, dar os treinos da selecção num dos canais enquanto o outro permanecia “fechado”. Fiquei irritadíssima.
Há alguns dias atrás telefonei para a TV Cabo e, com uma paciência similar à de monges budistas, demorei 25 minutos a dizer que não mais queria ter acesso aos canais codificados que, só em virtude de uma promoção imobiliária, tive acesso gratuito durante um período reduzido. Foi difícil fazer com que o meu interlocutor compreendesse que, apesar de gostar muito de desporto, não gostava de como a Sport TV funcionava. E não queria. Foi e é uma tomada de posição. Não gosto nem quero ser conivente com aquilo com o qual não concordo.
Alas. Sou fã dos Pearl Jam. Sabemos todos que os Pearl Jam são uma banda de culto, têm um conjunto de fãs extremamente devotos. Nos dois dias seguintes aos dois concertos dos Pearl Jam obriguei-me a ver um telejornal inteiro. E isto é para mim um suplício. Exceptuando os noticiários da 2: não consigo há algum tempo ver telejornais. Mas queria muito saber o impacto do concerto e paguei o preço de seguir um telejornal inteiro. Em vão. Em nenhum dos dias houve sequer uma reportagem minúscula. Curiosamente houve uma reportagem sobre a Melanie C que, no Coliseu do Porto, conseguiu juntar poucas centenas de pessoas para o concerto dela. É realmente curioso. O Pavilhão Atlântico esteve cheio nos dois dias… como podem ver.
Escrevi ao Provedor do Telespectador. Responderam-me, de modo relativamente célere, que as minhas objecções estavam fora das competências do Provedor mas que iriam dar conhecimento à Direcção de Programas da RTP. A RTP é pública. Os drivers da programação da RTP devem ser diferentes daqueles que são os das televisões privadas.
Eu compreendo que as programações são feitas para a maioria. A sério, compreendo muito bem. Mas não quero deixar de ter gostos típicos de minoria porque gosto de gostar do que gosto. Não exijo, todavia, que as programações mudem por causa de mim. Não me acho assim importante. Mas sinto-me no direito de não ver e, de no caso de uma televisão pública, questionar sobre os critérios que guiam a escolha das reportagens e dos programas.
Mas há uma coisa da qual estou convicta. Há mais “eus” do que só eu. Há muitos “eus” por aí que partilham gostos parecidos com os meus. E eu vou rir, I will laugh out loud quando as televisões perceberem isso. Porque nessa altura? Já nos perderam.
Trivialidades 8
Lampreia de ovos, ovos moles e doce de ovos.
Apontamentos fugazes 10
Poemas 4
The feeling of smiling trough tears
comes so suddenly and then disappears
with sounds that arrive reaching my ears
so smooth and peaceful to hide my fears.
And nothing, just nothing stays the same,
each day is one day and a single game,
even though Nietzsche’s idea of “eternal came”
one second is gone, the next is dropping rain.
So we have one life and no present to try,
just some coming future to smile and to cry
but if time is so rare, why do I keep so shy?
reason is not always right. Sometimes I should try to fly!
But doubt remains and I would not bare
taste happiness and then have nothing to spare,
instead of emptiness and grief, I would only care
for unhappiness and tears. Hollowness would be rare.
But is this good or is this bad?
It’s just a slightest different way of being sad.
I could run away from this, but I’d be mad
‘cos some lights are glimpsing and I’m not glad.
But I can feel and this sky just shows
that there is still a sun and it still glows,
the sea is so alive and the tide gently flows,
arriving and leaving taking what there grows.
Fighting with and against my thoughts and control,
I wave in roads searching for one goal,
I have images and my mind seeks my soul
that keeps escaping and in my front roll.
Now I decide, I scarily stop and then I miss
all you could give me: just a word or even a kiss.
I don’t know what I hope, maybe real bliss
to be able to cope with life, facing the abyss.
We know that nothing is just right or totally wrong,
we can only face life and try to keep on strong
‘cos on the other side is another person with a long
river of complex reactions composed in a beautiful song.
I hear those sounds and I cannot sleep at night,
the fear and arousal make it wrong and make it right.
I dreamt of love in a solitude happy flight
but I woke up with your look on my sight.
Outubro de 2001
Pensamentos líquidos 5
Desde que me lembro do Lleyton Hewitt no circuito, lembro-me também da minha admiração por ele. Pelo modo como com os seus «C’mon» se auto-motivava, pelo modo como conseguia dar a volta às dificuldades, pelo modo como se mexia em court; em suma, pelo ténis sólido. Depois dos resultados brilhantes em Wimbledon e no US Open, por motivos vários, mas principalmente, lesões, o Hewitt deixou de estar no Top 5 como era hábito. Continuo a gostar muito dele e por isso ontem continuei a torcer por ele enquanto jogava contra o Andy Roddick.
Mas não posso deixar de admitir. Há jogadores com mais talento que outros. O Andy, por exemplo, tem um serviço potentíssimo, uma direita mortífera e, a jogar como ontem, até uma esquerda descruzada… o Andy pertence àqueles que considero os talentosos. O Lleyton não. Pode ter a melhor resposta do circuito, mas não tem a gama de pancadas bonitas que outros jogadores têm; vale-lhe o lob para um ar da sua graça. Mas não deixa por isso de merecer a minha admiração.
Há outros jogadores talentosos. O inevitável Marat Safin que esbanja talento a cada passo que dá. Diria mesmo que é o único jogador que, se fizesse jus ao que é, poderia bater-se de igual com o Federer. O Tommy Haas ganhou em cinco sets ao Marat.
O Nadal também não é um jogador com o talento do Safin ou do Federer. É um jogador muito peculiar. Talento q.b., mas não o classificaria como um “jogador de classe”. Ainda assim é normalmente eficaz e muito forte fisicamente. Uma garra à Hewitt. Por isso não posso negar a minha desilusão quando o Rafa se desconcentrou daquele modo e ofereceu a partida ao Youzhny, mas sim, ainda tem muito para melhorar.
Depois temos o Federer. Bem, o Federer passeia classe. É um jogador de todas as pancadas. É demasiado bom. É daqueles jogadores que pode jogar mal e ganhar. Porque o mau dele é o muito bom de muitos. Pessoalmente, acho que se ele melhorasse um bocadinho a condição física, seria o super-homem do ténis. E conseguiria defender-se das bolas para os pés com que o Nadal gosta de o atacar!
Entre os jogadores de talento lembro-me ainda do Gasquet, do próprio Youzhny ou do Paul-Henri Mathieu. Jogadores com algumas pancadas muito bonitas. Nem sempre são os mais eficazes. De qualquer modo, como gosto tanto de ténis, gosto muito que eles estejam lá.
Completando o ciclo. Ontem, por exemplo, o Hewitt não poderia ganhar. Ele não jogou mal. Ele só não teve argumentos para aquele Roddick, porque o Roddick tem mais pancadas do que ele e é mais versátil. E também passou um bocadinho por aqui a derrota do Nadal. Ainda que o Nadal tenha ainda um longo caminho para trabalhar o talento que tem. As pancadas de classe do Youzhny fizeram resvalar o Nadal para todos aqueles erros não forçados.
Só fico um bocadinho frustrada porque gostava de ver uma grande final… talvez o Andy esteja à altura, espero que sim, espero que o Federer tenha que suar um bocadinho para ganhar este US Open. Porque as coisas têm pouca graça neste circuito de ténis se não forem em terra batida ou se alguém, com argumentos suficientes, fizer frente ao Federer. Não por falta de competitividade e bom jogos no circuito masculino, só por… monotonia Federeriana.
Pensamentos líquidos 4
Quando era pequenina os meus pais levavam-me frequentemente a ver ciclismo. Eu detestava. Visceralmente. Achava vulgar, popularucho e desinteressante. Até um dia. Um dia em que por acaso vi uma etapa do Tour. 1996 e o Jan Ullrich enorme; ainda a trabalhar para o seu chefe de fila, o Bjarne Riis, agora director desportivo da CSC. Foi segundo no Tour desse ano, atrás do Riis, e só foi segundo porque o primeiro era seu chefe de fila. Repensei a minha opinião sobre ciclismo. Afinal talvez gostasse. Não; de certeza, gostava mesmo. Por causa do Ullrich. No ano seguinte, rejubilei quando ele ganhou. Continuei a ver durante anos, continuei mesmo depois dos segundos insistentes lugares do Ullrich no Tour. Via também o Giro e a Vuelta porque, afinal, gostava de ciclismo. Fiquei contente com a medalha olímpica do Jan como fiquei contente com o Giro fantástico do José Azevedo em 2001.
Nunca me senti uma grande fã do Lance Armstrong. Não por não sentir uma certa admiração pelo que conseguiu, pelo que suportou, pela sua transcendência física a si próprio. Mas só porque gostava mais de outros. Apesar de isso, irritavam-me as insinuações sobre doping quando, às vezes, se referiam ao Armstrong.
O que aconteceu este ano antes do Tour foi decisivo. Um conjunto relativamente grande de ciclistas foi proibido de entrar em prova por suspeitas de doping. De entre eles estava o Ullrich. Mas não só, desde o Beloki ao Sérgio Paulinho, passando pelo Basso. A outros, mesmo não sendo indiciados, foi impedida a entrada em prova por não mais terem ciclistas suficientes na equipa, caso do Vinokourov. Destruíram o Tour de 2006. Eu não vi. Não quis. O Floyd Landis ganhou e pouco tempo depois foi acusado de doping. Também. Para mim teve já tudo muito pouco significado.
É curioso. O Ullrich, por exemplo, foi controlado semanalmente pela UCI e todos os resultados dos testes foram negativos. Ele não pôde participar no Tour porque o seu nome surgiu associado a um processo com um médico espanhol. Os testes a doping foram sempre negativos [Curiosidade: Sabem como chamam aos senhores da UCI que, de madrugada, vão ter com os ciclistas para retirarem uma amostra – mais uma amostra – de sangue? Vampiros].A Telekom libertou-o num fechar de olhos.
Mas não me interessa saber se ele é ou não culpado. O processo é já demasiado estranho e perdeu toda a legitimidade. Eu, como apreciadora de ciclismo, também gostava de ver aquelas etapas de montanha de declives acima dos 20%. Eram giras. Um desafio tremendo. Mas não seriam elas um desafio demasiado? Não é coincidência os casos de doping serem tão frequentes no ciclismo? Não pode ser. Às vezes o esforço é demasiado e não compensa.
Sabem que, por exemplo, o Santiago Botero acusava frequentemente excesso de testosterona até descobrirem que a testosterona que acusava era de origem “natural”, isto é, o corpo dele fabricava-a. Há outros casos semelhantes. Provavelmente mais de metade dos ciclistas já foi controlado positivo a doping. Se isto não é estranho… Algo está mal. Ou o esforço é demasiado e todos querem ultrapassar-se a si próprios (o que é legítimo) e recorrem a coisas que o podem fazer a curto prazo mas que podem ter efeitos a longo prazo perigosos; ou há uma perseguição exagerada aos ciclistas porque, bem porque não sei; ou eles são inconscientes e não se importam de sofrer no futuro; ou poucos deles sabem o que tomam (se é que tomam) e são enganados. Seja o que for, algo está mal. Muito mal. E quem sofre não são tanto os directores desportivos das equipas, mesmo as equipas sofrem pouco, ocasionalmente alguns médicos são presos, mas quem sofre mesmo as consequências são e serão sempre os ciclistas.
Por isso, eu sei pouco. Sei que o Jan fez nascer em mim um gosto desconhecido pelo ciclismo. Sei que não vi o Tour deste ano e só pensar na Vuelta (que está a correr enquanto escrevo) me causa uma certa repulsa. Sim, o Jan fez-me admirar o ciclismo, quem matou o meu gosto por esse desporto não sei. Não sei se o doping, se os ciclistas, se o sistema (olhem aqui o “futebolês” no seu melhor estilo :-)), se nada. Sei que o meu gosto pelo ciclismo não foi mais que temporário.
Trivialidades 6
Vaya con Dios