Sobre ciclismo
Quando era pequenina os meus pais levavam-me frequentemente a ver ciclismo. Eu detestava. Visceralmente. Achava vulgar, popularucho e desinteressante. Até um dia. Um dia em que por acaso vi uma etapa do Tour. 1996 e o Jan Ullrich enorme; ainda a trabalhar para o seu chefe de fila, o Bjarne Riis, agora director desportivo da CSC. Foi segundo no Tour desse ano, atrás do Riis, e só foi segundo porque o primeiro era seu chefe de fila. Repensei a minha opinião sobre ciclismo. Afinal talvez gostasse. Não; de certeza, gostava mesmo. Por causa do Ullrich. No ano seguinte, rejubilei quando ele ganhou. Continuei a ver durante anos, continuei mesmo depois dos segundos insistentes lugares do Ullrich no Tour. Via também o Giro e a Vuelta porque, afinal, gostava de ciclismo. Fiquei contente com a medalha olímpica do Jan como fiquei contente com o Giro fantástico do José Azevedo em 2001.
Nunca me senti uma grande fã do Lance Armstrong. Não por não sentir uma certa admiração pelo que conseguiu, pelo que suportou, pela sua transcendência física a si próprio. Mas só porque gostava mais de outros. Apesar de isso, irritavam-me as insinuações sobre doping quando, às vezes, se referiam ao Armstrong.
O que aconteceu este ano antes do Tour foi decisivo. Um conjunto relativamente grande de ciclistas foi proibido de entrar em prova por suspeitas de doping. De entre eles estava o Ullrich. Mas não só, desde o Beloki ao Sérgio Paulinho, passando pelo Basso. A outros, mesmo não sendo indiciados, foi impedida a entrada em prova por não mais terem ciclistas suficientes na equipa, caso do Vinokourov. Destruíram o Tour de 2006. Eu não vi. Não quis. O Floyd Landis ganhou e pouco tempo depois foi acusado de doping. Também. Para mim teve já tudo muito pouco significado.
É curioso. O Ullrich, por exemplo, foi controlado semanalmente pela UCI e todos os resultados dos testes foram negativos. Ele não pôde participar no Tour porque o seu nome surgiu associado a um processo com um médico espanhol. Os testes a doping foram sempre negativos [Curiosidade: Sabem como chamam aos senhores da UCI que, de madrugada, vão ter com os ciclistas para retirarem uma amostra – mais uma amostra – de sangue? Vampiros].A Telekom libertou-o num fechar de olhos.
Mas não me interessa saber se ele é ou não culpado. O processo é já demasiado estranho e perdeu toda a legitimidade. Eu, como apreciadora de ciclismo, também gostava de ver aquelas etapas de montanha de declives acima dos 20%. Eram giras. Um desafio tremendo. Mas não seriam elas um desafio demasiado? Não é coincidência os casos de doping serem tão frequentes no ciclismo? Não pode ser. Às vezes o esforço é demasiado e não compensa.
Sabem que, por exemplo, o Santiago Botero acusava frequentemente excesso de testosterona até descobrirem que a testosterona que acusava era de origem “natural”, isto é, o corpo dele fabricava-a. Há outros casos semelhantes. Provavelmente mais de metade dos ciclistas já foi controlado positivo a doping. Se isto não é estranho… Algo está mal. Ou o esforço é demasiado e todos querem ultrapassar-se a si próprios (o que é legítimo) e recorrem a coisas que o podem fazer a curto prazo mas que podem ter efeitos a longo prazo perigosos; ou há uma perseguição exagerada aos ciclistas porque, bem porque não sei; ou eles são inconscientes e não se importam de sofrer no futuro; ou poucos deles sabem o que tomam (se é que tomam) e são enganados. Seja o que for, algo está mal. Muito mal. E quem sofre não são tanto os directores desportivos das equipas, mesmo as equipas sofrem pouco, ocasionalmente alguns médicos são presos, mas quem sofre mesmo as consequências são e serão sempre os ciclistas.
Quando era pequenina os meus pais levavam-me frequentemente a ver ciclismo. Eu detestava. Visceralmente. Achava vulgar, popularucho e desinteressante. Até um dia. Um dia em que por acaso vi uma etapa do Tour. 1996 e o Jan Ullrich enorme; ainda a trabalhar para o seu chefe de fila, o Bjarne Riis, agora director desportivo da CSC. Foi segundo no Tour desse ano, atrás do Riis, e só foi segundo porque o primeiro era seu chefe de fila. Repensei a minha opinião sobre ciclismo. Afinal talvez gostasse. Não; de certeza, gostava mesmo. Por causa do Ullrich. No ano seguinte, rejubilei quando ele ganhou. Continuei a ver durante anos, continuei mesmo depois dos segundos insistentes lugares do Ullrich no Tour. Via também o Giro e a Vuelta porque, afinal, gostava de ciclismo. Fiquei contente com a medalha olímpica do Jan como fiquei contente com o Giro fantástico do José Azevedo em 2001.
Nunca me senti uma grande fã do Lance Armstrong. Não por não sentir uma certa admiração pelo que conseguiu, pelo que suportou, pela sua transcendência física a si próprio. Mas só porque gostava mais de outros. Apesar de isso, irritavam-me as insinuações sobre doping quando, às vezes, se referiam ao Armstrong.
O que aconteceu este ano antes do Tour foi decisivo. Um conjunto relativamente grande de ciclistas foi proibido de entrar em prova por suspeitas de doping. De entre eles estava o Ullrich. Mas não só, desde o Beloki ao Sérgio Paulinho, passando pelo Basso. A outros, mesmo não sendo indiciados, foi impedida a entrada em prova por não mais terem ciclistas suficientes na equipa, caso do Vinokourov. Destruíram o Tour de 2006. Eu não vi. Não quis. O Floyd Landis ganhou e pouco tempo depois foi acusado de doping. Também. Para mim teve já tudo muito pouco significado.
É curioso. O Ullrich, por exemplo, foi controlado semanalmente pela UCI e todos os resultados dos testes foram negativos. Ele não pôde participar no Tour porque o seu nome surgiu associado a um processo com um médico espanhol. Os testes a doping foram sempre negativos [Curiosidade: Sabem como chamam aos senhores da UCI que, de madrugada, vão ter com os ciclistas para retirarem uma amostra – mais uma amostra – de sangue? Vampiros].A Telekom libertou-o num fechar de olhos.
Mas não me interessa saber se ele é ou não culpado. O processo é já demasiado estranho e perdeu toda a legitimidade. Eu, como apreciadora de ciclismo, também gostava de ver aquelas etapas de montanha de declives acima dos 20%. Eram giras. Um desafio tremendo. Mas não seriam elas um desafio demasiado? Não é coincidência os casos de doping serem tão frequentes no ciclismo? Não pode ser. Às vezes o esforço é demasiado e não compensa.
Sabem que, por exemplo, o Santiago Botero acusava frequentemente excesso de testosterona até descobrirem que a testosterona que acusava era de origem “natural”, isto é, o corpo dele fabricava-a. Há outros casos semelhantes. Provavelmente mais de metade dos ciclistas já foi controlado positivo a doping. Se isto não é estranho… Algo está mal. Ou o esforço é demasiado e todos querem ultrapassar-se a si próprios (o que é legítimo) e recorrem a coisas que o podem fazer a curto prazo mas que podem ter efeitos a longo prazo perigosos; ou há uma perseguição exagerada aos ciclistas porque, bem porque não sei; ou eles são inconscientes e não se importam de sofrer no futuro; ou poucos deles sabem o que tomam (se é que tomam) e são enganados. Seja o que for, algo está mal. Muito mal. E quem sofre não são tanto os directores desportivos das equipas, mesmo as equipas sofrem pouco, ocasionalmente alguns médicos são presos, mas quem sofre mesmo as consequências são e serão sempre os ciclistas.
Por isso, eu sei pouco. Sei que o Jan fez nascer em mim um gosto desconhecido pelo ciclismo. Sei que não vi o Tour deste ano e só pensar na Vuelta (que está a correr enquanto escrevo) me causa uma certa repulsa. Sim, o Jan fez-me admirar o ciclismo, quem matou o meu gosto por esse desporto não sei. Não sei se o doping, se os ciclistas, se o sistema (olhem aqui o “futebolês” no seu melhor estilo :-)), se nada. Sei que o meu gosto pelo ciclismo não foi mais que temporário.
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