Sobre televisão
Na generalidade, as televisões são cadeias privadas e, por isso, escolhem a programação e a adequação das reportagens dos serviços informativos consoante aquilo que mais probabilidade tem de ser visto. Tudo bem, aceito. É racional que o façam. Eu também tenho a escolha de ver ou não. Pode irritar-me ter poucas coisas para ver mas assim também pouca vontade de ver. Não me parece estar a perder muito.
Mas há sempre episódios que interessa contar. O Wimbledon Open, ao contrário dos outros três torneios do Grand Slam, não é televisionado pela Eurosport. Para Portugal, a Sport TV tem o exclusivo. A uma sexta-feira, consegui sair cedo e rumar em direcção a um televisor que me permitisse ver a meia-final entre o Nadal e o Baghdatis. Acreditem, queria muito ver o jogo. EM DIRECTO. Talvez não se recordem, mas Wimbledon coexistiu com o Mundial de Futebol. A Sport TV não transmitiu a meia-final em directo, decidiu, ao invés, dar os treinos da selecção num dos canais enquanto o outro permanecia “fechado”. Fiquei irritadíssima.
Há alguns dias atrás telefonei para a TV Cabo e, com uma paciência similar à de monges budistas, demorei 25 minutos a dizer que não mais queria ter acesso aos canais codificados que, só em virtude de uma promoção imobiliária, tive acesso gratuito durante um período reduzido. Foi difícil fazer com que o meu interlocutor compreendesse que, apesar de gostar muito de desporto, não gostava de como a Sport TV funcionava. E não queria. Foi e é uma tomada de posição. Não gosto nem quero ser conivente com aquilo com o qual não concordo.
Alas. Sou fã dos Pearl Jam. Sabemos todos que os Pearl Jam são uma banda de culto, têm um conjunto de fãs extremamente devotos. Nos dois dias seguintes aos dois concertos dos Pearl Jam obriguei-me a ver um telejornal inteiro. E isto é para mim um suplício. Exceptuando os noticiários da 2: não consigo há algum tempo ver telejornais. Mas queria muito saber o impacto do concerto e paguei o preço de seguir um telejornal inteiro. Em vão. Em nenhum dos dias houve sequer uma reportagem minúscula. Curiosamente houve uma reportagem sobre a Melanie C que, no Coliseu do Porto, conseguiu juntar poucas centenas de pessoas para o concerto dela. É realmente curioso. O Pavilhão Atlântico esteve cheio nos dois dias… como podem ver.
Escrevi ao Provedor do Telespectador. Responderam-me, de modo relativamente célere, que as minhas objecções estavam fora das competências do Provedor mas que iriam dar conhecimento à Direcção de Programas da RTP. A RTP é pública. Os drivers da programação da RTP devem ser diferentes daqueles que são os das televisões privadas.
Eu compreendo que as programações são feitas para a maioria. A sério, compreendo muito bem. Mas não quero deixar de ter gostos típicos de minoria porque gosto de gostar do que gosto. Não exijo, todavia, que as programações mudem por causa de mim. Não me acho assim importante. Mas sinto-me no direito de não ver e, de no caso de uma televisão pública, questionar sobre os critérios que guiam a escolha das reportagens e dos programas.
Mas há uma coisa da qual estou convicta. Há mais “eus” do que só eu. Há muitos “eus” por aí que partilham gostos parecidos com os meus. E eu vou rir, I will laugh out loud quando as televisões perceberem isso. Porque nessa altura? Já nos perderam.
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