Ciclo D - Os indiferentes
Hoje, quando me deitei e fechei os olhos cansados, à espera de um soninho descansado, sem sonhos alteradores, o improvável aconteceu. A vontade cega de encostar o meu corpo cansado ao teu corpo, que me esperaria, já, na cama. Vontade de aninhar a cabeça enlouquecida na curvatura do teu pescoço. Surpreendente. A imagem da ternura. Logo entre nós dois. Os indiferentes.
De qualquer modo, quando fechei os olhos novamente, depois de anuir à surpresa, continuavas ali, com o teu braço direito por debaixo do meu corpo; a abraçar-me. O meu braço direito por cima do teu tronco nu. A tocar no teu ombro esquerdo. Um abraço… perfeito. Dos indiferentes.
Não sei quanto tempo durou o filme incoerente antes do sono ser mais forte. Só posso saber a surpresa e a consciencialização. Como tudo fazia mais sentido do que poderia reconhecer. Como quando, nós os dois, éramos só… vozes. Vozes, vozes, vozes como se tudo dependesse de um som. De cada palavra dita, sem corpo, de cada som suspirado, sem olhar, de cada gemido contido, sem toque, de cada murmurar imperceptível, sem nada. Entre os indiferentes.
Enquanto for verdade este conforto, vale a pena. Enquanto for verdade o sorriso indiscreto. Se sorrisses também, depois de pensares em mim, só aquele sorriso indiscreto e se pensasses nas nossas vozes. Quando são tão perfeitas. Uníssonas. A desbaratar palavras diferentes. A contrariarem e a refutarem. Sim, sei agora, tudo seria possível se também tivesses já pensado as vozes. As nossas. Quando discutem uma com a outra e se acariciam sem se verem. Se as vozes vissem. Se as nossas vozes se vissem, apaixonar-se-iam uma pela outra. Seria um amor imbatível. Porque as nossas vozes não são como nós: são tudo o resto que não as indiferentes.
Hoje, quando me deitei e fechei os olhos cansados, à espera de um soninho descansado, sem sonhos alteradores, o improvável aconteceu. A vontade cega de encostar o meu corpo cansado ao teu corpo, que me esperaria, já, na cama. Vontade de aninhar a cabeça enlouquecida na curvatura do teu pescoço. Surpreendente. A imagem da ternura. Logo entre nós dois. Os indiferentes.
De qualquer modo, quando fechei os olhos novamente, depois de anuir à surpresa, continuavas ali, com o teu braço direito por debaixo do meu corpo; a abraçar-me. O meu braço direito por cima do teu tronco nu. A tocar no teu ombro esquerdo. Um abraço… perfeito. Dos indiferentes.
Não sei quanto tempo durou o filme incoerente antes do sono ser mais forte. Só posso saber a surpresa e a consciencialização. Como tudo fazia mais sentido do que poderia reconhecer. Como quando, nós os dois, éramos só… vozes. Vozes, vozes, vozes como se tudo dependesse de um som. De cada palavra dita, sem corpo, de cada som suspirado, sem olhar, de cada gemido contido, sem toque, de cada murmurar imperceptível, sem nada. Entre os indiferentes.
Enquanto for verdade este conforto, vale a pena. Enquanto for verdade o sorriso indiscreto. Se sorrisses também, depois de pensares em mim, só aquele sorriso indiscreto e se pensasses nas nossas vozes. Quando são tão perfeitas. Uníssonas. A desbaratar palavras diferentes. A contrariarem e a refutarem. Sim, sei agora, tudo seria possível se também tivesses já pensado as vozes. As nossas. Quando discutem uma com a outra e se acariciam sem se verem. Se as vozes vissem. Se as nossas vozes se vissem, apaixonar-se-iam uma pela outra. Seria um amor imbatível. Porque as nossas vozes não são como nós: são tudo o resto que não as indiferentes.
[Junho de 2006]
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