Isto anda a pairar na minha cabeça há muito tempo. Demasiado tempo, aliás. Já perceberam decerto o valor que dou à arte, não já? É altura de o explicar.
Há três maneiras de encarar a arte. A primeira é encarar a arte como encarar outra coisa qualquer, um vaso partido, um rio no Panamá ou uma barragem. É arte é, para estas pessoas, uma coisa que tem uma função ou não; desconfio que, para muitas destas pessoas a arte é na maior parte dos casos nula. Não me interessa falar deste grupo porque basicamente não há grande coisa a discutir aqui (G1).
Há depois o outro grupo, o daquelas pessoas que encaram a arte como algo valioso mas de valor estritamente estético, no qual o estético compreende somente características de estrutura, de forma e a arte é tanto melhor, mais valiosa quanto mais correcta.
Finalmente, o último grupo (G3) tem aquelas pessoas que acham que a arte, mais do que ter intrínseco valor estético, tem valor racional. Para estas pessoas a arte é o crivo último da razão. Muito como acontece com a filosofia. [Acho que é por isto que eu acho que a filosofia é qualquer coisa entre uma ciência e a arte.] Para estas pessoas a arte é a única maneira possível de dizer uma coisa, de saber por que se diz e fundamentalmente de a compreender. Aqui a arte é tanto mais valiosa quanto mais perfeita.
Há três maneiras de encarar a arte. A primeira é encarar a arte como encarar outra coisa qualquer, um vaso partido, um rio no Panamá ou uma barragem. É arte é, para estas pessoas, uma coisa que tem uma função ou não; desconfio que, para muitas destas pessoas a arte é na maior parte dos casos nula. Não me interessa falar deste grupo porque basicamente não há grande coisa a discutir aqui (G1).
Há depois o outro grupo, o daquelas pessoas que encaram a arte como algo valioso mas de valor estritamente estético, no qual o estético compreende somente características de estrutura, de forma e a arte é tanto melhor, mais valiosa quanto mais correcta.
Finalmente, o último grupo (G3) tem aquelas pessoas que acham que a arte, mais do que ter intrínseco valor estético, tem valor racional. Para estas pessoas a arte é o crivo último da razão. Muito como acontece com a filosofia. [Acho que é por isto que eu acho que a filosofia é qualquer coisa entre uma ciência e a arte.] Para estas pessoas a arte é a única maneira possível de dizer uma coisa, de saber por que se diz e fundamentalmente de a compreender. Aqui a arte é tanto mais valiosa quanto mais perfeita.
Não preciso de vos dizer em que grupo me insiro…
Para mim, a arte faz sentido para tornar o mundo mais suportável, mais bonito (G2). De facto não me consigo dissociar da estrutura de cada obra de arte, da sua forma, daquilo que se lhe retirássemos o conteúdo restaria (exercício virtual); até porque esta forma e o conteúdo são indissociáveis. Por isso há coisas que, por falta de qualidade estrutural, me chocam. Mas há outras que, por falta de qualidade substantiva me chocam a sensibilidade artística (G3).
Para mim; volto a escrever, para mim; a arte “vazia”, de valor estético não me afecta da mesma maneira. Não quero com isto fazer um juízo de valor em relação a ela porque não faz sentido, mas eu nunca poderei gostar tanto dela. Por falta de afinidade. Porque não me ajuda. Pode ser um problema meu, mas eu não entendo a maior parte das coisas que queria entender e, por muito que argumente que sou eu a construir-me, também não me entendo na maior parte das vezes. E algumas coisas ganham um sentido na arte.
Muitas pessoas buscam conforto na religião, em algo divino que lhes aplaque o que não explicam. Eu não. Porque não quero, porque Deus/deuses não fazem sentido para mim, porque não são racionalizáveis para mim; a arte é, porque é humana.
O que acabei de escrever não deve, de maneira alguma, ser entendido como capaz de defender alguns tipos de arte em detrimento de outros. Não é isso que está aqui em causa. Para mim não faz sequer sentido que alguma vez esteja. Senão vejam…
O meu compositor de eleição é Chopin; sei que Liszt, por exemplo, era mais virtuoso, mas nunca me deu tanto. Há sinfonias do Beethoven fantásticas, mas não troco nenhuma das sonatas por todas elas. Continuo a gostar muito de Bach, foi o meu primeiro fascínio erudito, mas apesar das obras irrepreensíveis nunca vai conseguir o que Tchaikovsky conseguiu com um trecho de Romeu e Julieta, em que eu quase conseguia sentir a morte deles. Mas acham que por ter falado de alguns compositores eruditos, eu considero este tipo de música de algum modo mais… legítimo? Acham que é por isso que eu gosto menos de Pearl Jam, por exemplo? Ou de Muse, ou de Radiohead? Não, claro que não. E sabem porquê? Porque todos me oferecem uma compreensão tácita. Porque há uma afinidade que não poderia achar em qualquer outra coisa.
Não sei se me esclareci. Sei que a arte e o único sítio possível onde posso buscar entendimento, onde posso compreender quais as buscas a encetar, e eventualmente, com um bocadinho de sorte, onde posso ir criar algumas respostas. Ainda que respostas só para mim.
Agora expliquem-me lá, depois disto tudo… como é que eu sou economista?
PS. Deixo para outro dia a discussão da “arte-objectivo”, está bem? É que estou a ficar um bocadito cansada.
1 comentário:
Não poderia ser mais a propósito: aula de português a analisar um excerto do Livro do Desassossego sobre arte. Lembrei-me do post. Fica um excerto: "A arte consite em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial libertação. (...) arte é a comunicação aos outros da nossa identidade íntima com eles". Quanto à aula e ao poema "Ela canta, pobre ceifeira", muitos neurónios ficaram sem perceber porque outros neurónios mais "sortudos" sofriam com a "dor de pensar". :-)
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