The pillow man
Sei que as minhas recomendações se têm quedado pela música. Não por privilegiar esta forma de arte sob as outras; já o fiz, agora nem tanto; mas porque tem sido mais fácil (e rápido) fazê-lo. Em jeito de auto-crítica acho uma vergonha não ter ainda feito uma recomendação/comentário literário, mas demora mais tempo a escrever e, por isso, não o tenho feito.
De qualquer modo. Hoje aproveito para fazer uma recomendação teatral. Mas só para aqueles de estômago forte, só para aqueles cujos abdominais suportem uns quantos murros.
Detesto que me perguntem, quando li um livro, vi uma peça, um filme, me perguntem «Então, e qual era a história?» porque assumem que tudo tem que contar uma história. Mas ainda assim, se tivesse que dizer sobre o que era a história desta peça, diria só que era sobre um escritor que escrevia contos e que dizia que o único dever de um contador de história era contar uma história.
Para mim, o que interessa na arte não é a “história” que tem por detrás; mas muito mais o que tem lá dentro e o que de lá de dentro reage em mim. O "The Pillow Man", peça de Martin McDonagh, agora no Teatro Maria Matos, encenada por Tiago Guedes, tem muito lá dentro e muito reagiu comigo. Tem, a representar, Gonçalo Waddington, Marco D’Almeida, Albano Jerónimo e João Pedro Vaz.
Tem o evidente, a ligação do escritor à obra e a relação inextricável dos dois. Tem a imitação daqueles que se admira, às vezes inquestionável. Tem a dúvida. Tem dor; muita dor. Tem o pôr em causa da justificação do erro. Tem a não consciência do erro por ingenuidade. Tem inevitabilidade, mas não previsibilidade. Tem o carácter superior da obra de arte. E aqui tenho que parar. Porque se já estava arrebatada pela peça porque é brutal em dois sentidos, na crueza e crueldade do que é e representa e na qualidade que tem; quando, de viés, aborda o carácter, a importância da obra de arte, deixou-me knocked out, logo ali. Não posso negar que é uma questão muito importante para mim. Essa é uma das minhas buscas. Katurian, na peça, diz «Eu não estou a tentar dizer nada. É essa a minha busca.» mas em ironia. Quem quer dizer nada, está calado. E quem quer dizer nada não pede que não destruam o que escreveu. Porque a arte pode ficar para sempre. Uma pessoa morre. E é aqui que a arte é maior do que nós, não por ser divina, mas por ser humanamente divinizável, por ser a perfeição possível. É-o, pelo menos, para mim. Mas este tema fica para um post à medida.
Agora que já deambulei, volto. A peça tem ainda o carácter visceral de me levar à dor de cabeça o que, contrariamente ao que possam pensar, é bom porque é sinónimo de genuinidade, de autenticidade, de… verdades. É este tipo de arte que, pelas dúvidas e pelas perguntas escondidas sob as afirmações, me ajuda na busca. E é isto que não encontro em mais lado algum…
Sei que as minhas recomendações se têm quedado pela música. Não por privilegiar esta forma de arte sob as outras; já o fiz, agora nem tanto; mas porque tem sido mais fácil (e rápido) fazê-lo. Em jeito de auto-crítica acho uma vergonha não ter ainda feito uma recomendação/comentário literário, mas demora mais tempo a escrever e, por isso, não o tenho feito.
De qualquer modo. Hoje aproveito para fazer uma recomendação teatral. Mas só para aqueles de estômago forte, só para aqueles cujos abdominais suportem uns quantos murros.
Detesto que me perguntem, quando li um livro, vi uma peça, um filme, me perguntem «Então, e qual era a história?» porque assumem que tudo tem que contar uma história. Mas ainda assim, se tivesse que dizer sobre o que era a história desta peça, diria só que era sobre um escritor que escrevia contos e que dizia que o único dever de um contador de história era contar uma história.
Para mim, o que interessa na arte não é a “história” que tem por detrás; mas muito mais o que tem lá dentro e o que de lá de dentro reage em mim. O "The Pillow Man", peça de Martin McDonagh, agora no Teatro Maria Matos, encenada por Tiago Guedes, tem muito lá dentro e muito reagiu comigo. Tem, a representar, Gonçalo Waddington, Marco D’Almeida, Albano Jerónimo e João Pedro Vaz.
Tem o evidente, a ligação do escritor à obra e a relação inextricável dos dois. Tem a imitação daqueles que se admira, às vezes inquestionável. Tem a dúvida. Tem dor; muita dor. Tem o pôr em causa da justificação do erro. Tem a não consciência do erro por ingenuidade. Tem inevitabilidade, mas não previsibilidade. Tem o carácter superior da obra de arte. E aqui tenho que parar. Porque se já estava arrebatada pela peça porque é brutal em dois sentidos, na crueza e crueldade do que é e representa e na qualidade que tem; quando, de viés, aborda o carácter, a importância da obra de arte, deixou-me knocked out, logo ali. Não posso negar que é uma questão muito importante para mim. Essa é uma das minhas buscas. Katurian, na peça, diz «Eu não estou a tentar dizer nada. É essa a minha busca.» mas em ironia. Quem quer dizer nada, está calado. E quem quer dizer nada não pede que não destruam o que escreveu. Porque a arte pode ficar para sempre. Uma pessoa morre. E é aqui que a arte é maior do que nós, não por ser divina, mas por ser humanamente divinizável, por ser a perfeição possível. É-o, pelo menos, para mim. Mas este tema fica para um post à medida.
Agora que já deambulei, volto. A peça tem ainda o carácter visceral de me levar à dor de cabeça o que, contrariamente ao que possam pensar, é bom porque é sinónimo de genuinidade, de autenticidade, de… verdades. É este tipo de arte que, pelas dúvidas e pelas perguntas escondidas sob as afirmações, me ajuda na busca. E é isto que não encontro em mais lado algum…
1 comentário:
Deambulaste de forma interessantíssima. É extraordinário como The Pillow Man dá para tanta gente deambular por tantos lados
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