Pensamentos líquidos 25
Dúvidas linguísticas
Tenho imenso interesse em questões de linguística. E surgem-me muitas dúvidas. Designadamente sobre fonética. Talvez porque digo vermelho a ler o segundo “e” como [e], o “e” de pêra, enquanto a maior parte das pessoas que conheço utiliza a pronunciação [á] como em cama ou [áj], como em leite. Descobri muito (mas mesmo muito) recentemente que vários dicionários consideram as três pronúncias como correctas, ainda que considerem algumas como dialectais. Talvez um dia poste mais qualquer coisa sobre este assunto; por agora queria só deixar-vos, ou melhor, lembrar-vos que as “Dúvidas linguísticas” do site do Público são muito úteis para clarificarem questões que vão surgindo sobre a língua portuguesa.
Por curiosidade, deixo-vos esta dúvida sobre sintaxe que me faz uma confusão desgraçada: advém do uso da dupla negação e é atrozmente ilógica.
Apontamentos fugazes 30
Pensamentos líquidos 24
Só nessas alturas todos os meios de transporte me pertencem. Se for trabalhar de carro, tudo flui. No metro respira-se em hora de ponta. Nos autocarros? Bem, deixei de andar de autocarro. Só nestas alturas, as infraestruturas parecem dimensionadas para aquilo que devem suportar.
A maior diferença é talvez a andar de carro. Sim, eu sei, mea culpa. Deveria andar menos de carro. Mas sabem? Já andei (e continuo a andar) muito de transportes públicos em Lisboa. E se o metro, ainda que a diminuir visivelmente a qualidade do serviço que presta, ainda é tolerável; os autocarros são insuportáveis. E já nem quero falar sobre a possibilidade de andar a pé.
A rede de metro é manifestamente insuficiente. Tem a vantagem de andar lá por debaixo e de passar incólume às confusões da superfície. Mas pode ter que se andar demasiado para chegar a uma estação. Ora, isto traz-me ao problema de andar em Lisboa.
Andar em Lisboa é, para mim, um pesadelo. Vicissitudes de ser... Lisboa e portanto uma cidade de sobe e desce o que eu, francamente, destesto; mas também consequência do piso horroroso que tem. Não vou explorar o tema da calçada portuguesa novamente, é-me suficiente dizer que é manifestamente desconfortável, irritante e oneroso andar sobre aquelas pedras e saltar aqueles buracos [pergunta: se a CML é responsável por danos em automóveis causados pela degradação do asfalto, não deveria ser responsável e responsabilizada pelos estragos no calçado?]. Nem preciso entrar no tema dos passeios sujos e passar à questão do civismo: onde entronca a questão do mau estacionamento e passamos ao sr. ciclo vicioso: ora, se há mau estacionamento o tráfego de transportes públicos (e privados) flui mais devagar e se os transportes públicos não são suficientemente eficientes as pessoas preferem utilizar o seu carro e continua. Continua. Continua.
Depois os autocarros. São (eram?) feios e sujos. Pouco práticos numa cidade de ruas minúsculas. As pessoas teimam em utilizá-los à bruta: ao ponto da sardinha enlatada - deve ter qualquer coisa a ver com o calor humano. Atrasam e atrasam e atrasam. Novamente ciclo vicioso. E irritam.
E há ainda a insegurança. Lisboa é uma cidade muito morta. Eu não andaria de transportes públicos à noite em muitos locais da cidade. Já para não falar em sair da cidade de tranportes públicos à noite. Convite ao assalto.
E assim ando cada vez mais de carro. Sinto-me culpada e não me sinto culpada. Sinto-me culpada por causa do ambiente. Preferia andar mais de metro, mas não me podem pedir para fazer quilómetros a pé nesta cidade onde é tão difícil andar. Não me sinto culpada quando penso nalgumas pessoas ou na CML que gosta de exibir iniciativas de show-off porque as realmente importantes dão muito mais trabalho e implicam muitas mais coisas. Mudar, sabem?
Mas, de qualquer modo, nada como as férias das outras pessoas para andar em Lisboa.
Glimpse 11
foi mais ou menos assim que acabou a minha estadia, desta vez, em Londres.
E demorou mais de um dia a acabar...
Contos 12
Sabes. Talvez se eu começasse a juntar letras. Teria palavras em pouco tempo e, com um pouco de rapidez, uns movimentos de dedos, e talvez frases. Preciso de frases, semântica coerente que me permita realizar o que é pré-verdade, pré-existência. Mas ainda ninguém. As palavras conhecem-nos antes dos outros. As frases a seguir. A coerência de um texto então conhece tudo, permite tudo. Só o que as palavras expressam é criado, ainda que sejam palavras mentais, ainda que não tenham ainda saído. Assim, presas, agrilhoadas nas dificuldades de expressão. Mas já se conhecem a elas e pré-conhecem as verdades que vão habitar. São o veículo maior. As palavras. Sabes. Só elas permitem que existamos. Se não pudesse dizer o teu nome, continuarias a existir? Acho que não, eras menos, eras diferente. Eras? Serias. Porque já és porque o estou a escrever. As palavras já te habitaram e tu habitaste as palavras. Cada palavra é única mesmo que igual a anterior; já quer dizer outra coisa quando repetida, quer dizer outra coisa quando deslocalizada, quer dizer outra coisa noutra boca, noutros dedos, noutra caneta.
Por isso só preciso achar as palavras, construir as frases, ter o texto. E dizer tudo. E tudo ser verdade. Inexoravelmente, nos segundos variáveis que depois cada pessoa demora a ler.
Pensamentos líquidos 23
Chego a Heathrow atempadamente por causa da segurança. Aquilo que eu já sabia inevitável, mas sobre o qual há sempre uma esperança escondida que não aconteça. O voo atrasado uma hora. Jantar combinado em Lisboa. Começo a duvidar conseguir aparecer. Começo a ficar irritada. Com pouca paciência. Engulo a irritação e continuo.
Fila para passar a segurança. Verificação dos líquidos and so on. Enorme. Não, não estão a perceber. Enorme é mesmo enorme. Monstruosa. Um conjunto grande de staff a tentar organizar a fila. O meu lip gloss quase vazio num saquinho de plástico. Moving on. Pessoas aflitas porque a hand luggage não cabe nas estruturas metálicas por meio milímetro e eles são inflexíveis com a possibilidade de continuarem.
Mme, you should put your luggage one inside of the other. You are allowed only one. E as pessoas tentam. Dizem-me que para os homens este problema é menos grave. Acredito. Mas quando eu levo o meu portátil (não era o caso desta vez), é mais do que óbvio que preciso de levar dois volumes. A mala do computador e a minha mala pessoal. Onde é que querem que eu ponha a minha carteira? Os meus óculos? Os meus lenços de papel? A minha bolsinha das canetas? As minhas chaves de casa? Os meus batons? A minha agenda? O meu fio dentário? O meu bloquinho de apontamentos rápidos? Não sei se repararam, já nem pedi espaço para o meu livro. And gosh, that is also fundamental. Ou acham que devo mandar o meu portátil para o porão? Dear me.
Depois, tirar os casacos. Todos. Esqueci-me, algures na fila, da delicadeza e perguntei à segurança se queria que eu morresse congelada. Mais à frente, uma bebé chorava porque não queria tirar os sapatos e não estava obviamente a perceber por que é que aquela mulher a queria agarrar. E depois, muito à americana, faziam todas as pessoas tirar os sapatos e manter os pés descalços naquele chão frio. Já estava muito irritada, o meu voo atrasado, nessa altura, mais de uma hora. E depois aqueles seguranças. Mas, sem casacos, descalça, eu tentei não ser mal-educada com as pessoas. E o que é que recebo em troca? As minhas botas LO a serem tratadas como uma porcaria qualquer. Tive que me controlar brutalmente para não descer abaixo do nível mínimo de civismo.
Eu tento ser compreensiva. A sério que tento. Mas irrita-me muito por causa de fundamentalistas dos dois lados (os dos atentados e os da segurança) ter que suportar este tipo de coisas. E já nem quero entrar nas questões de privacidade.
O voo atrasou mais de 2 horas. Cheguei estupidamente cansada de uma viagem de duas horas e meia.
…Lisboa…
Regresso a Londres. Sem atrasos. Tudo a correr bastante bem. Durmo na viagem e o que não dormi, li ávida o que há muito queria ler. Chego a Londres, bem disposta, e o que é que acontece? A minha bagagem tinha sido revistada e o fecho e o cadeado destruídos. Resultado: a minha mala de viagem fica inutilizada para a viagem de regresso na quarta-feira. E ainda tenho que a levar assim. Ggrrrr…
A sério. Eu tento ser compreensiva, mas um dia destes passo-me e mando alguém f*** himself.
Pensamentos líquidos 22
Fim-de-semana em Lisboa. Levar parte da bagagem de volta. Encontros sociais. Voltinhas em Lisboa. Voltar a Londres para os dias finais.
É estranho.
É estranho não ter sido para mim nada estranho regressar. Como se não tivesse estado sequer uma semana fora. Todas as estradas normais. A minha casa igual. Tudo comum, tudo quotidiano. Nenhuma sensação de diferença, de estranheza.
Mas depois.
Converso sobre uma coisa que comprei em Londres e ofereço-me para comprar uma igual. Quando reparo, estava a pensar que, se saísse de casa (em Lisboa) e andasse um bocadinho, poderia ir ao Whiteleys comprar.
Acho que estou a começar a misturar tudo…
Regresso a Londres. Tudo igual. Como se não tivesse ido de fim-de-semana a Portugal. Como se Londres fosse a minha cidade de nascença. Tudo quotidiano.
Não sei, esta minha flexibilidade pode ser boa ou má, mas não me tranquiliza.
Momentos de poesia 2
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Assombro ou paz? Em vão… Tudo esvaído
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
De tudo houve um começo … e tudo errou…
Momentos de alma que,desbaratei…
Se me vagueio, encontro só indícios…
Num ímpeto difuso de quebranto,
Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Mário de Sá Carneiro, Paris, 1913
Já vos disse que ele é o meu favorito, não já?
Trivialidades 32
Damn it. I will miss this. The after-hours drinks. The Saturday theatre matinees. The in-hours drinks. The buzz at Covent Garden. The drinks while decorating the Christmas tree. The punks, the goths, the freaks, all the tribes. Tate Modern. Pedestrian bridges. The English accent (whenever I do find an English person). The lovely markets. The nice pubs. The music events. Should I repeat it? The music events.
But I surely won’t miss mice at the tube stations…
Apontamentos fugazes 28
Por que é que não se pode ter tudo o que se quer no mesmo lugar?
Por que é que não se pode ter tudo o que se quer ao mesmo tempo?
Trivialidades 30
Sobre elegância
Não há nada como escrever ao computador de unhas grandes e bem pintadas. Pode ser ligeiramente desafiante, mas é muito elegante. Os dedos mais direitos, mais móveis.
Tudo o que não se deve fazer quando se toca um instrumento de teclas...
Glimpse 10
Posso mostrar-vos um dos meus sítios (agora) preferidos em Londres?
É pena ser assim tão crowded, mas...
... a animação vale, sem dúvida, a pena...
... e é o melhor sítio em Londres para fazer tatuagens ou comprar roupa gótica.
Trivialidades 29
Mas voltando àquela marca de que tinha falado. É uma marca com orgulho no seu nome. Tem umas camisolas giras com "coisas" giras - desenhos, palavras, frases. Costumam ser vistosas. Mas eu gosto. Para terem uma ideia mais visual - há, por exemplo, uma muito engraçada com um desenho de uma boneca toda jeitosa e que diz "Sexo Hispanico". E claro, também, a marca DE PUTA MADRE.
Não sei. O que acham? Será que indo assim vestida para o Banco teria mais sucesso do que quando fui de trancinhas?
Pensamentos líquidos 21
Ah. Se quiserem que o vosso blog seja adicionado à lista de blogs que apoiam o "sim" no referendo da IVG, vão a http://arrastao.weblog.com.pt/arquivo/2006/12/pelo_sim uma vez que o Arrastão está a fazer a compilação.
Chamo a atenção para a lista dos movimentos cívicos que também se encontra na página. Tinha-vos dado notícia de um deles; não conhecia os outros. Fico contente em sabê-los.
Apontamentos fugazes 27
Imo protegido.
P.S. Parece-me bastante legítimo criar o verbo hermetizar. Não acham?
Trivialidades 28
Ficar na cama depois de acordar
Pensamentos líquidos 20
SIM
à liberdade individual de cada pessoa.
Contos 11
Desculpa. Roubei-te.
Trivialidades 27
Ando a fraquejar. Hoje vieram-me lágrimas aos olhos ao mascar pastilhas de menta. Era só p’raí o terceiro par de pastilhas consecutivas que punha na boca. Brincadeira de crianças…
Apontamentos fugazes 25
Recomendações 11
Aqui vai uma recomendação de olhos fechados e sem medos.
Cemitério de pianos, José Luís Peixoto
Obrigada à Sara por me ter alertado.
Arquictetura, artes plasticas e design 5
Jackson Pollock, "Summertime", 1948
Não sou a maior fã de Pollock, mas nada substitui ver um quadro dele ao vivo. A vibração é imensa. Fez-me repensar a opinião.
Momentos de poesia 1
From childhood's hour I have not been
As others were; I have not seen
As others saw; I could not bring
My passions from a common spring.
From the same source I have not taken
My sorrow; I could not awaken
My heart to joy at the same tone;
And all I loved, I loved alone.
Then- in my childhood, in the dawn
Of a most stormy life- was drawn
From every depth of good and ill
The mystery which binds me still:
From the torrent, or the fountain,
From the red cliff of the mountain,
From the sun that round me rolled
In its autumn tint of gold,
From the lightning in the sky
As it passed me flying by,
From the thunder and the storm,
And the cloud that took the form
(When the rest of Heaven was blue)
Of a demon in my view.
Edgar Allan Poe (1830), The collected poetry of EAP
Trivialidades 26
«The difference between the first part and the second was mental.»
José Mourinho
Temos metade de Inglaterra a achar que o intervalo do jogo foi louco.
Contos 10
Mais branca. Ligeiramente saliente. Aquele cicatriz, tão apetecível afinal. Tocar na cicatriz dele com a minha língua. Naqueles dois centímetros de pele branca a contrastar com a tez restante. Lamber longitudinalmente aquela cicatriz. Sentir-lhe os contornos, delineá-los com a minha saliva.
Poderia conceber que o movimento lento da minha língua lhe fizesse atingir uma intensidade explosiva quase, orgásmica. Gostava que o fizesse. Sentiria a excitação contida mais plena como se soubesse uma verdade. Da autenticidade das sensações. A partir de algo tão pouco natural como uma cicatriz e curiosamente tão, admirável. Paradoxalmente a imperfeição tão adequada, eu a única pessoa a quem nunca permitiria este tipo de incoerência lógica. Mas aquela cicatriz. Gostaria que ele sentisse um prazer desmedido só pelo toque da minha língua expectante naqueles centímetros curtos de um corte antigo. Gostaria que aquilo que já doeu fosse agora fonte de deleite. Só pelo toque húmido da minha língua.
[Março de 2006]
Trivialidades 25
Mas uma lapiseira é tão mais limpinha.
Recomendações 10
Quando soube mais definitivamente que vinha para Londres, por dois meses, o que mais me custou foi falhar o concerto dos Muse em Lisboa e ter que vender o meu bilhete. Quando cheguei cá, percebi que a tournée do Reino Unido estava, inevitavelmente, esgotada. Durante semanas e semanas procurei bilhetes. Licitei e licitei no ebay, bilhetes para Manchester, para Birmingham. Consegui, finalmente, vencer um dos leilões para um bilhete para a Wembley Arena, no concerto que fechava a tournée do Reino Unido. O concerto foi ontem. E valeu todos os pences do bilhete e todas as horas no ebay.
Ontem estava excitadíssima. Saí cedo, em direcção à Wembley Arena, para ficar o mais à frente possível: para mim ficar à frente não tem só o significado normal de ficar à frente – quando não se é muito alta, se não se ficar relativamente à frente, não se vê concertos, ouve-se… ora, lá consegui ficar relativamente à frente.
Mas quem fica à frente tem que estar preparado para a movimentação que lá se passa. E eu até estava. Mas consegui, qual pontaria certeira, ficar no meio da cena hardcore do mosh. O que, por mim, até está bem, até acho graça. Mas normalmente acho graça quando ainda consigo respirar e, para ser sincera, desde que os Muse entraram em palco até ao final da primeira música, não me lembro de respirar. Durante mais algum tempo, também foi muito ocasional ter os pés no chão; não tanto por eu estar a saltar, mas por todas as outras pessoas o estarem a fazer. Teve um aspecto muito positivo, durante algum tempo, senti-me realmente magra: só uma palhinha caberia nos sítios por onde andei. Tudo bem, sobrevivi à coisa (com roupa, mala e máquina fotográfica, o que, digo-vos, é um facto do qual me orgulho) e lá tentei desviar-me ligeiramente do centro hardcore. Entretanto perdi os meus amigos circunstanciais de concerto.
Olhem aqui o Matthew… fica-lhe bem o vermelho!
E o Dominic… Todo jeitoso de branquinho…
E o Chris, of course, elegant, e... num momento de raiva
Agora mais a sério. O concerto foi fantástico. O alinhamento foi bom, ainda que sem haver clímaxes. Tudo esteve sempre lá em cima! Inverteram o início e fim do álbum, ao abrirem o concerto com o Knights of Cydonia e terminarem com o Take a Bow. No meio, tocaram quase todos os temas do Black Holes and Revelations e não se esqueceram dos álbuns anteriores, ao interpretar músicas como o Plug-in Baby, o Butterflies and Hurricanes ou o Newborn.
Pode ser impressão minha, mas acho que o concerto foi pequenino. Não chegou às duas horas! ;-)
Deixo-vos o Knights of Cydonia. Lembrem-se que estou algures na crowd lá em baixo, assim, pertinho do palco. And I’m having a hell of a time.
Se puderem ver os Muse ao vivo, não percam, eles são demasiado bons.
Pensamentos líquidos 19
Dizem que foi talvez um dos melhores nadadores de sempre. É sempre muito ingrato fazer comparações inter-temporais (aliás, qualquer comparação é sempre muito relativa); mas eu era capaz de dizer que ele é o nadador mais fantástico de todos os tempos e conseguia viver com isso. Por um lado, sinto-me suficientemente isenta para o fazer: crawl sempre foi o meu estilo non grato, sempre gostei de distâncias curtas; as provas fundamentais do Ian eram os 200m e 400m livres (se quiserem, os 800m livres, e dava uma pernadinha e uma braçadazinha nos 100m). Por outro, ele revolucionou a natação a partir dos 200m. Vaporizou os anteriores records mundiais. Para quem costuma ver natação, lembram-se de alguém com uma pernada tão metronímica como a dele? A sua técnica de crawl é irrepreensível. Era capaz de passar horas a vê-lo nadar e aprender sempre.
Se calhar estas comparações nem interessam. Mas o mérito interessa. E o mérito do Ian não precisa de ser publicitado por mim, esteve em evidência sempre que nadou.
A decisão de se retirar aos 24 anos é, inevitavelmente, respeitável e legítima, mas sinto já falta dele no bloco da pista 4 em Pequim.
Não é talvez o post certo para isso, mas tenho vontade de o fazer. Por isso fica aqui a provocaçãozinha. Este rapaz vaporizava records mundiais e as parangonas dos jornais desportivos portugueses tinham inevitavelmente os jogos de bastidores do futebol e as nódoas negras dos jogadores.
Prioridades.
Pensamentos líquidos 18
E muito a propósito do último post. Oscar Wilde foi, em 1895, julgado por duas vezes, e condenado, a 25 de Maio desse ano, em Old Bailey, a dois anos de prisão com trabalhos forçados por “acts of gross indecency with another male person”. Ora, eu vejo frequentemente actos indecentes, mas nenhum deles o é só por ser entre duas pessoas de sexo masculino. Ou feminino, ou seja o que for, desde que seja de livre vontade. Gostava de perceber quando é que, finalmente, as pessoas vão pôr nas cabecinhas que cada um deve ser livre e responsável por si próprio (enquanto adulto, obviamente).
Anyway, o propósito último deste post é mesmo indicar uma petição online para a descriminação universal da homossexualidade. Muito me agradou ver que a petição já tinha sido assinada por pessoas como Noam Chomsky, Meryl Streep, Bernardo Bertolucci, Jacques Delors, Dario Fo, Ana Gomes, Michael Palin, Amartya Sen ou Desmond Tutu.
Pensamentos líquidos 17
«The artist is the creator of beautiful things.
To reveal art and conceal the artist is art´s aim.
The critic is he who can translate into another manner or a new material his impression of beautiful things.
The highest as the lowest form of criticism is a mode of autobiography.
Those who find ugly meanings in beautiful things are corrupt without being charming. This is a fault.
Those who find beautiful meanings in beautiful things are the cultivated. For these there is hope.
They are the elect to whom beautiful things mean only Beauty.
There is no such thing as a moral or a immoral book. Books are well written, or badly written. That is all.
The nineteenth century dislike of Realism is the rage of Caliban seeing his own face in a glass.
The nineteenth century dislike of Romanticism is the rage of Caliban not seeing his own face in a glass.
The moral life of man forms part of the subject-matter of the artist, but the morality of art consists in the perfect use of an imperfect medium.
No artist desires to prove anything. Even things that are true can be proved.
No artist has etical sympathies. An ethical sympathy in an artist is an unpardonable mannerism of style.
No artist is ever morbid. The artist can express everything.
Thought and language are to the artist instruments of an art.
Vice and virtue are to the artist materials for an art.
From the point of view of form, the type of all the arts is the art of the musician. From the point if view of feeling, the actor’s craft is the type.
All art is at once surface and symbol.
Those who go beneath the surface do so at their peril.
Those who read the symbol do so at their peril.
It is the spectator, and not life, that art really mirrors.
Diversity of opinion about a work of art shows that the work is new, complex, and vital.
When critics disagree the artist is in accord with himself.
We can forgive a man for making a useful thing as long as he does not admire it. The only excuse for making a useless thing is that one admires it intensely.
All art is quite useless.»
Como é que eu fui adiando este senhor? Como?
Trivialidades 24
Antes de mudar de casa, em Lisboa, vivia num 5º andar. Uma vez, de férias, ao querer entrar no apartamento num quarto andar, num acto mecânico premi o 5º andar e tentei insistentemente abrir a porta errada. Fiquei muito aborrecida quando não consegui. Só percebi quando voltei a entrar no elevador.
Alguns meses depois, quando mudei de casa (vivo num 1º andar), num dia qualquer, não faço ideia porquê parei no segundo andar e tentei insistentemente abrir a porta errada. Estava também a ficar aborrecida quando olho para cima e percebo o meu engano.
Aqui em Londres, posso entrar para o apartamento pela porta correspondente ao número 11 ou pela do número 13. Normalmente entro pelo 13, anteontem entrei pelo 11. Fatalmente, fiz o percurso habitual e, adivinhem lá. Sim, tentei abrir a porta que não era do meu apartamento. De facto, o barulho de talheres e a luz acesa deveriam ter feito tocar o alarme mais cedo na minha cabeça.
Eu não sei se a minha mente me está a tentar enviar uma mensagem muito subliminar. Mas se está, não gosto da mensagem.
Trivialidades 23
Canções foleiras de musicais
Apontamentos fugazes 24
Estou com uma dúvida terrível. Quanto tempo é que um fim-de-semana tem? É que tenho a sensação que este passou num mero par de horas.
E tão a propósito. Uma das coisas que se passou nesse par de horas…
Pensamentos líquidos 16
«Alegria breve, este meu sabê-lo, esta posse de todo o milagre de eu ser e a deposição disso para o estrume da terra. Sento-me ao sol, aqueço. Estou só, terrivelmente povoado de mim. Valeu a pena viver? Matei a curiosidade, vim ver como isto era, valeu a pena. É engraçada a vida e a morte. Tem a sua piada, oh, se tem. Vim saber como isto era e soube coisas fantásticas. Vi a luz, a terra, os animais. Conheci o meu corpo em que apareci. É curioso um corpo. Tem mãos, pés, nove buracos. Meteram-me nele, nunca mais o pude despir. (…) Movo as mãos, os pés, e é como se fossem meus e não fossem. É extraordinário, fantástico, um corpo. Com ele e nele tomei posse e conhecimento de coisas espantosas. Não seria uma pena não ter nascido? Ficava sem saber. Dirás tu: de que te serve se amanhã já não sabes? É certo. Mas agora sei.»
Vergílio Ferreira, Alegria Breve, Bertrand Ed., pp. 209 e 210
Poemas 10
Sufoco num cansaço angustiante
de palavras perdidas ou memórias esquecidas,
na busca contida por objectivos estagnados
dum percurso obtuso de muros cerrados.
Sou já uma história, escrita por mim
quando a obstinação era maior que eu própria;
sou já uma vítima da minha vitória,
um fantasma que sobrevive à memória
mas que não tem força para se materializar.
Sou uma fraude composta de pó estelar
sem brilho nem pujança de nébulas ou cometas.
Sou uma música composta em surdina envergonhada
a que falta o orgulho ou vontade de ser tocada.
Sou uma pintura estragada por um dia de sol.
Sou um mamífero perdido num mar de anzol.
Sou um poema riscado sem verdade ou mentira.
Sou uma escultura de pedra há muito partida;
Sou uma fotografia rasgada à qual falta um pedaço;
Sou um rio onde a água é vidro e estilhaço;
Sou um filme de herói sem amor nem espada,
eu sou tudo... e não sou nada!
[Dezembro de 2002]
Glimpse 7
A outra possibilidade é tornar-me actriz e tentar entrar nos castings para o Harry Potter...
The buzz
Bridge of Sighs
... Uma residência!!!!
Christ Church Cathedral (acho eu...)
Recomendações 9
Homenagens 8
Começaram a brincar comigo quando olharam para as minhas botas num dos possíveis dias para o exercício de evacuação do edifício. Disseram que eu não conseguiria descer os vinte e tal andares até à rua. Eu?
Perguntei-lhes se se lembravam da Carrie («Sex and the City»), ao que eles responderam um demasiado rápido “sim” (:-)). Ela dizia que conseguia correr uma maratona com os seus sapatos de salto muito alto. Eu decerto também conseguiria descer vinte e alguns andares com as minhas botas.
A Carrie tinha um fascínio pelos Manolo Blahnik e pelos Jimmy Choo, não era? O meu fascínio não fica nada atrás desses. Nada! A minha obsessão é mesmo por Luís Onofre. A quem presto aqui a merecida homenagem.
Então eu não conseguia descer vinte e tal andares com as minhas botas Luís Onofre? Por quem me tomam? E ao Luís?
Apontamentos fugazes 22
Sobre a luz
São 16.43. É de noite. Há um cansaço que parece conhecer as cores. Um peso, talvez dor, na minha cabeça, que só existe por cada dia ter pouca luz, poucas horas de luz. Pouca cor.
Glimpse 6
Ir ver um jogo de futebol. Que fosse caro, eu aceitava, que seja proibitivamente caro, custa-me um bocadinho mais… aqui esta um exemplo dos mais baratos que encontrei!
http://www.pallmalltickets.com/store/itemDetails.asp?id=15-189-1988
Com jeitinho vou quatro vezes ao teatro com esse valor!
Trivialidades 22
«Esta vida são dois dias / e um é para acordar / das histórias de encantar / das histórias de encantar» - Pedro Abrunhosa
É por estas e por outras que se tiver filhos eles nunca vão conhecer o Pai Natal.
PS. Depois de ter escrito a citação, percebi que de facto, uma vida é, uma vida não são. Mas para o efeito serve à mesma.
Pensamentos líquidos 15
Por motivos que, se tiver feedback suficiente e de qualidade, direi, o adjectivo “compacto” tornou-se uma palavra importante no meu léxico.
Como sabem, gosto de neologismos. E se gosto de criar termos, gosto também de criar conceitos. Não se chamasse o blog «Certezas hipotéticas»...
Neste espírito, tornou-se importante nomear a característica “compacto”. Por isso deixo à consideração dos leitores deste blog a escolha de um nome correspondente ao adjectivo “compacto”. Já houve algumas ideias – compactez, compactidão, … – mas nenhuma é lá grande coisa, pois não? Por isso peço encarecidamente propostas ou eventualmente votação sobre as minhas ideias.
Recomendações 8
O concerto foi ontem no Roundhouse. Sem adensar a curiosidade, revelo-vos já que gostei muito. Os Dresden Dolls são a Amanda e o Brian, um teclado e uma bateria (ocasionalmente uma guitarra), muita imaginação e muito espectáculo. Acima de tudo muito espectáculo; no site deles referem-nos com uma brechtian punk cabaret [band]. São diferentes, isso parece-me consensual.
Do concerto de ontem, para além do espectáculo, que começa muito antes deles chegarem; começa num número grande de pessoas que está lá para criar ambiente, para o entertainment; tenho que salientar o Brian que é um baterista incrível, poderosíssimo. Mas o conjunto é muito coeso, a cumplicidade entre os dois evidente, e o resultado realmente bom.
Tenho estado a ouvir a música deles no site. Aconselho-vos fazer o mesmo, mas não dá sequer para ter uma ideia do que eles podem fazer em palco, but for a glimpse :-)… [esta é provavelmente a pior música que eu poderia ter escolhido para ilustrar o que disse, mas a verdade é que ainda não havia muita coisa disponível no Youtube].
É tão bom respirar ar fresco.
Glimpse 4
Trabalho no andar 18 daquela torre lá atrás. Na próxima semana vamos ter uma simulação de incêndio que exigirá a evacuação do edifício e vamos mesmo descer os andares todinhos a pé (por acaso não temos que descer 18, temos na verdade que descer mais porque há "andares escondidos"). Eles levam estas simulações mesmo a sério.
Glimpse 2
Se o Chopin vivesse nalgum sítio hoje, seria numa rua assim...
Para a Sara e para o Fernando
Notting Hill
Glimpse 1
Trivialidades 21
Algum dia isto tinha que acontecer. Já não aguento mais conter isto...
Digam lá se ele não é um Lucho?
Apontamentos fugazes 21
Sobre a reversão dos acontecimentos
Estou sinceramente convencida que o Beethoven, quando compôs a Sonata ao Luar, já sabia que o Chopin ia nascer.
Pensamentos líquidos 14
«Então pensei: estarei doido? Que é uma palavra? Que é a fala? Mundo excessivo, mundo deserto, reinventar-te-ei todo desde as origens. Eis que um homem surgiu à tua face. De que serviria um Deus que me tivesse criado? Terei de recriar eu tudo. Terei de dar um nome às pedras e às estrelas. E só então elas serão a desgraça e a beleza.»
Vergílio Ferreira, Alegria Breve, Bertrand Ed., p. 92
Contos 9
Hoje, quando me deitei e fechei os olhos cansados, à espera de um soninho descansado, sem sonhos alteradores, o improvável aconteceu. A vontade cega de encostar o meu corpo cansado ao teu corpo, que me esperaria, já, na cama. Vontade de aninhar a cabeça enlouquecida na curvatura do teu pescoço. Surpreendente. A imagem da ternura. Logo entre nós dois. Os indiferentes.
De qualquer modo, quando fechei os olhos novamente, depois de anuir à surpresa, continuavas ali, com o teu braço direito por debaixo do meu corpo; a abraçar-me. O meu braço direito por cima do teu tronco nu. A tocar no teu ombro esquerdo. Um abraço… perfeito. Dos indiferentes.
Não sei quanto tempo durou o filme incoerente antes do sono ser mais forte. Só posso saber a surpresa e a consciencialização. Como tudo fazia mais sentido do que poderia reconhecer. Como quando, nós os dois, éramos só… vozes. Vozes, vozes, vozes como se tudo dependesse de um som. De cada palavra dita, sem corpo, de cada som suspirado, sem olhar, de cada gemido contido, sem toque, de cada murmurar imperceptível, sem nada. Entre os indiferentes.
Enquanto for verdade este conforto, vale a pena. Enquanto for verdade o sorriso indiscreto. Se sorrisses também, depois de pensares em mim, só aquele sorriso indiscreto e se pensasses nas nossas vozes. Quando são tão perfeitas. Uníssonas. A desbaratar palavras diferentes. A contrariarem e a refutarem. Sim, sei agora, tudo seria possível se também tivesses já pensado as vozes. As nossas. Quando discutem uma com a outra e se acariciam sem se verem. Se as vozes vissem. Se as nossas vozes se vissem, apaixonar-se-iam uma pela outra. Seria um amor imbatível. Porque as nossas vozes não são como nós: são tudo o resto que não as indiferentes.
Trivialidades 20
Obviamente era falso alarme. Como já tinha acontecido noutro dia mas a horas mais decentes.
Poemas 9
Hiding place
You’ll never find me here
in this place I created
to hide myself from fear
deep, deep in my mind
no, you’ll never find
the place where I am
alone, without me or you
false, doubtful or true.
It’s so hidden and away
that I forgot the way
to come back again.
Pensamentos líquidos 13
Passei parte da tarde aqui
Trafalgar Studios
a assistir a esta peça de teatro. Sim, gostei. Bastante. Mas mais do que escrever sobre o valor estritamente artístico queria, com ela, marcar uma posição, quase à Sartre, (quando defendia a arte com um objectivo social). Mais um grito, se quiserem. Vendo bem as coisas, deveria criar uma rubrica nova - «O grito». Voltando.
Aborrece-me muito a ideia de contar “a história” das coisas, mas para marcar o ponto, vejo-me obrigada a. Resumidamente, na Alemanha dos anos 30, pré-Hitler, o movimento queer não era perseguido. Com a torrente nazi, as perseguições, para além dos judeus, atingiram todos aqueles que julgavam queer, chegando a dizer-se, na peça, que as únicas pessoas que estavam mais abaixo dos judeus nos campos de concentração eram os queer. Como em todo o lado há pessoas que se apaixonam. Ali, num campo de concentração, dois homens apaixonam-se; chegam a criar um mundo quase extra-sensorial para poderem estar juntos, visto não o poderem fazer num sentido mais físico e, inevitavelmente um deles é chacinado. [Reduzir a peça a isto é quase cruel porque, de facto, só atentando aos detalhes, às subtilezas de uma sensibilidade notável, ao texto em si, é que tudo isto ganha a densidade artística, mas… para isso recomendo que vejam ;-)]
Acho que não é preciso mais que replicar a punchline do texto.
«I just love you. What is wrong with that?»
E, depois disto, pensar como ainda não se evoluiu nada e se continua nessa ignorância tacanha, anacrónica e desumana de tratar pessoas. Que gostam e/ou querem gostar de outras. É tão simples quanto isto. Ah, e estou obviamente a referir-me muito especificamente a Portugal. Porque, apesar de eu saber que isto acontece mundialmente, também sei que em Portugal ainda nem sequer é legalmente permitido que duas pessoas do mesmo sexo se casem. Ou adoptem. E convenhamos, socialmente é muito, muito mal recebido quando não sujeito a violência física ou outra.
Quando estava a passear, depois de ter visto a peça, e comecei a pensar como escrever sobre ela, achei que devia começar desde logo a advogar que todas as pessoas devem ter direito a decidir o que fazer à sua vida – analogia muito directa ao direito que acho que todas as mulheres têm em relação à IVG –, mas em ambos os casos é mais do que isso; é a obrigação de todas as outras pessoas respeitarem. E entretanto decidi utilizar a punchline que não deixa de ser um bocadinho manipuladora por tentar tocar ao sentimento, mas talvez seja mais eficaz do que os mil e um argumentos racionais e lógicos que eu poderia enunciar…
Trivialidades 19
Os homens ingleses calçam muito bem. Com estilo. Com elegância. Com sofisticação.
Trivialidades 18
Hoje, enquanto trabalhava, havia um ruído constante perto do meu ouvido esquerdo, qualquer coisa que se assemelhava ao som de água com gás que só parava quando eu olhava para esse lado;
Hoje, enquanto trabalhava, reparei no meu cabelo. E o espanto foi imenso. Subitamente ter cabelo pareceu-me a ideia mais estranha possível…
Homenagens 7
Quando comecei a ler Fernando Pessoa, senti-me arrebatada. Com a confusão. Com o… mar de sargaço. Com a coerência daquela profusão de sentimentos, sensações, ideias aparentemente incoerente.
Quando gosto muito de alguma coisa tenho alguma dificuldade em escrever sobre ela porque quero escrever muito bem. Com este receio nos dedos, escrever o post sobre Fernando Pessoa tornou-se difícil.
Mas nos últimos tempos voltei a ter uma vaga Pessoana. Primeiro, a minha irmã começou a estudar Fernando Pessoa nas aulas e as nossas conversas sobre ele recomeçaram. Como na altura em que lemos o Livro do Desassossego. E a excitação. A maioria dos colegas dela já criou aquela antipatia por ele porque “não percebem”. Nunca achei Fernando Pessoa inacessível, difícil. Sempre me fez muito sentido, alas…
Depois, um mote que aligeira as coisas. Os Wordsong decidiram cantar Fernando Pessoa, mais heterónimos que ortónimo, mas decidiram cantá-lo. E eu achei bem. Eu acho bem. A música deles tem qualquer coisa de muito teatral, mas é uma maneira óptima de desmistificar Fernando Pessoa. Para os colegas da minha irmã…
Entretanto, porque andava em busca de um poema a propósito de um post, descobri um site enorme com poesia Pessoana. Parece-me que tudo isto justificaria um post, não estivesse já ele justificado por Fernando Pessoa ter escrito o que escreveu.
Eu não quero dizer muito sobre ele. Só que é muito bom quando nos deixamos estimular pela sua poesia e pela sua prosa. Sentir as picadas da incerteza. Da inquietude. Do… desassossego. Por isso, em vez de falar sobre o ortónimo (que é o meu preferido), dos heterónimos, dos semi-heterónimos, decidi escolher um poema de cada (ortónimo e heterónimos). Obviamente dos meus preferidos por um motivo ou outro. Deixo-vos com ele. Estão na melhor companhia.
Tudo o que faço ou medito
Tudo o que faço ou medito
Que nojo de mim me fica
[Fernando Pessoa - ortónimo, Cancioneiro]
Falas de civilização
[Alberto Caeiro, Poemas Inconjuntos]
Começo a conhecer-me. Não existo
Começo a conhecer-me. Não existo.
[Álvaro de Campos]
Vivem em nós inúmeros
Vivem em nós inúmeros;
Tenho mais almas que uma.
Os impulsos cruzados
[Ricardo Reis]
Pensamentos líquidos 12
E que ninguém se atreva sequer a falar-me em cultura depois de uma coisa destas.
Arquitectura, artes plásticas e design 4
Elefante com pirâmide, Southbank, Londres
Trivialidades 17
Estou triste. Depois do Nelson Piquet, na altura em que eu não perdia um Grande Prémio de F1, apareceu o Schumacher e eu, por gostar mesmo mais dele ou por não querer ser só mais uma a gostar do Senna, tornei-me fã. Muitas pessoas não gostam dele, eu sei; reconheço até que ele chegou a ter comportamentos repreensíveis. Mas independentemente de tudo isso, todos sabemos. Hoje ele devia estar a celebrar o seu último Campeonato de Mundo. Só por ele ser quem é. Um grande piloto. Um dia destes apanhei num jornal «Schummi came from nowhere to rule the world». Yeah, today he should have had.
Recomendações 7
Alan Hollinghurst
Uma recomendação literária de Inglaterra. Não tenho a certeza como o descobri, mas julgo que no blog Resistente Existencial. Alan Hollinghurst é um escritor inglês que eu diria neo-realista, mas que não precisa de qualquer tipo de classificação para além da qualitativa e essa, meus caros, é muito boa. Já li vários dos seus romances e sempre com uma necessidade de ler mais.
A título de primeira recomendação, deixo-vos o último romance publicado «The line of beauty», obra que ganhou, por exemplo, o Booker Prize em 2004 e que foi já adaptada a televisão pela BBC (eu gostava de evitar dizê-lo, mas a adaptação não chega sequer aos calcanhares do livro).
Se o procurarem nas livrarias, estará catalogado sob literatura gay, não vá alguém levar um exemplar para casa e ficar chocado. Nas minhas estantes, está sob literatura de qualidade, em língua inglesa.
Apontamentos fugazes 20
Pensamentos líquidos 11
Não mais é suficiente dizer que não se concorda, dizer baixinho porquê, dizer alto porquê, dizer só. É preciso gritar, é preciso que não se deixe mais utilizar argumentos idiotas, falaciosos, preconceituosos e, quase sempre, dogmáticos.
Eu também tenho coisas sagradas. A vida é, sem dúvida, uma delas. E principalmente por isto é que é, para mim, tão importante permitir-se a Interrupção VOLUNTÁRIA da Gravidez (IVG). Já perceberam que a palavra importante aqui é voluntária, não já? O meu domínio sobre mim é das coisas mais sagradas que posso ter: como é que alguém pode ter sequer a veleidade de achar que sabe escolher melhor do que eu o que é melhor para mim? Só esta ideia é de uma violência atroz. A arrogância de se achar que as outras pessoas são inconscientes que, não só não sabem o que é melhor para elas, mas não pensam sequer na consequência do que fazem é só isso: arrogância que se quer fazer passar por pura, que gosta de se mascarar com pseudo-argumentos científicos (peço desde já desculpa por utilizar esta palavra; é só para me fazer entender) mas que é na verdade uma sucessão falaciosa de palavras.
Se querem que eu seja mesmo, mesmo, sincera; posso dizer-vos que respeito mais os argumentos religiosos; pelo menos daí não aparecem enganos – todos sabem que partem de dogmas e contra esses, batatas. Resta aos que se opõem questionaram os dogmas e assim quebrar os argumentos. Racionalmente.
Também já devem ter reparado que há fetos, embriões, seja o que forem de primeira, de segunda, de… consoante sejam de relações livres ou de violações. E depois ainda há a separação entre fetos com deficiências visíveis ou não. Não me parece que o argumento da dor que o feto/embrião sente seja muito discriminante com a relação sexual que lhe deu origem, ou mesmo com as deficiências que eventualmente depois terá…É engraçado como ultimamente têm voltado a aparecer aqueles mails com imagens de fetos. Imagens surpreendentes, achievements cirúrgicos, tudo com o dedinho da manipulação por detrás. Estas manipulações de consciência enojam-me e, bem, também as pessoas que se deixam manipular.
Para mim a questão será sempre a da ESCOLHA (voluntária, lembram-se). De uma pessoa (que sabe que o é, tem consciência de si) decidir o que fazer com o seu corpo.
Remeto-vos para os posts do Henrique, do Boss... de muitas pessoas que já andam a gritar há algum tempo. E que escreveram o que eu gostava de ter escrito. Noto que no blog Renas e Veados há um conjunto muito interessante de links sobre o tema.
Sei que este post não está muito bem escrito. Mas isto irrita-me de tal modo, choca-me de tal modo, que deixo cair requisitos semânticos que faria prevalecer noutros posts. Não faz mal. Desde que o grito tenha sido suficiente. Digo-vos. Espero conseguir gritar mais aqui do que o que cantei no último concerto dos Pearl Jam e olhem que não me calei o tempo todo.
Poemas 8
You sometimes sparkle
It’s not often, but you do.
You sometimes sparkle,
like when walking out of blue
and just being close to you
makes my body shiver so true
as if all last reality felt it too.
You sometimes smile
not for me, but even so
you sometimes smile…
and I realise it though
that this feeling like a flow
maybe strong but just for me
cannot live outside my fantasy.
Pensamentos líquidos 10
Foi a primeira vez que, em Londres, fiz compras “domésticas”. As minhas outras viagens aqui nunca necessitaram desse tipo de afazer. Foi giro. Amanhã vou trabalhar. Aqui. Não vou a uma reunião aqui. Vou trabalhar aqui. É giro.
Saí de Lisboa com calor; muito calor. Cheguei aqui com frio porque os aviões têm sempre esse impacto em mim. Mas a temperatura aqui até não está desagradável para a média londrina. O engraçado é que para mim traduz-se numa camisolinha e num casaco para um conforto mínimo, para alguns deles numa T-shirt….
Giro, giro era agora ir ver o Chelsea e já que não pode ser no estádio, podia ser num desses pubs tão engraçados. Uma pena eu não gostar de cerveja.
Cumprimentos londrinos.
Desafio a... mim
Prémio ao visitante 1 000
O visitante 1 000 pode pedir-me um texto. Prometo escrever um texto sob as regras do visitante 1 000. O prémio pode ser escolher um tema, uma punchline, um recurso estilístico, o que quiser. Eu comprometo-me a escrever um texto literário para o acomodar; não me comprometo com prazos, só com o texto e a sua divulgação no blog.
Para fazer o pedido, o visitante 1 000 deve enviar-me um print screen do número de visitante e o pedido para o meu email address (ver profile).
Contos 8
Naquela noite, os olhares foram mais prolongados. Fluía uma vibração diferente, ou era talvez uma necessidade minha. Uma maneira tosca de colmatar a falta de outra coisa. A inconcretização.
Paradoxalmente. A sobre-análise traía os resultados, nulos. Nunca saber. Por mais que se busque respostas, esclarecimentos, verdades; por mais que se busque a essência. Porque a essência é já criada e não se pode agarrar o que mudado é pelo processo de agarrar. Por isso os olhares eram já fruto da busca e não uma busca em si. Apetecer-me tanto chegar a minha cabeça para perto do teu ombro era só um reflexo da necessidade. De ti? Nunca o saberei. Desenhar as tuas mãos perfeitas na minha mente problemática era aplacar a incerteza com o imediato de estares ali, tão perto de mim, a partilhares olhares que eu via prolongados, que eu sentia vibrantes, ocultantes de uma realidade que se sabia maior do que a visível.
Um desequilíbrio não aparente. Enquanto evidenciava reacções conexas ao que é esperado de cada um, percurso sem curvas de hesitação. A proximidade de alguém como tu foi o móbil de um crime do qual fui vítima e criadora. Uma dor constante.
Em momentos escusados, podia ter tentado o inimaginável, o negado já antes de existir, o desmentido antes de o pensar, mas não tinha direito de o fazer. Era suficiente que a confusão fosse minha e com ela a angústia, não precisava de repercutir os resultados negativos de mim em ti. E todavia, fazia pouco sentido não aceitar que pudesses também tu ter ideias confusas, desconexas, intermitentes; paixões diárias ou sentimentos ilusórios, descontínuos. Tentativa. Merecíamos tentar; se os olhares, se os olhares prolongados fossem verdade.
Mas enquanto a tentativa escoava nos segundos fugidios, a oportunidade escapava-se por entre os dedos abertos. Não entre os teus dedos esguios, perfeitos.
Depois o toque dos nossos braços. Suave. Furtivo. Expectante ou só eu o sentia assim, propositado? Escondido em movimentos naturais, espontâneos para todos que não nós. Que não eu? Que não eu. Criava a minha ilusão em toques vibrantes de pouco significado coerente, mas havia um fluxo de energia a percorrer-me o corpo de emoção, como adolescente. Bom. Tão bom reprovar aquela sensação de explosão contida, aquela sensação de novidade inultrapassável. Aquele raio de energia intensa. Se te encontrasse os olhos agora, no momento certo. Teria que ser no momento certo. No único momento possível em que os teus olhos me levassem à tua boca nua, expectante, entreaberta de indecisão. A tua boca como eu.
Se encontrasse os teus olhos agora, direccionados a mim, desviarias o olhar, fixarias com obstinação a minha boca. Os meus olhos ser-te-iam proibidos até a tua boca conhecer a minha de cor. E no entanto. Se no momento de raio verde, encontrasse os teus olhos poderia criar uma verdade inexistente, uma verdade primordial, só para nós; uma verdade que só existiria para acomodar a audácia de não ser provável. Forçada? Um esforço de esconder a infelicidade, um conforto mentiroso?
Mas se encontrasse os teus olhos, assim, talvez agora, já preparados para o meu olhar, se… se os olhares prolongados fossem verdade e, talvez num momento instantâneo desses, talvez… agora, se encontrasse os teus olhos direccionados a mim, mesmo sem pensar se seria correcto ou não, talvez, nesse momento de raio verde, em que o horizonte era a linha dos teus olhos, talvez pudesse beijar os teus lábios com a indecisão da tortura mas com a felicidade da tentativa.
Enganar-me-ia se o fizesse? Querê-lo-ias? Magoar-te-ia muito se um dia depois, uma semana depois, um mês depois se, passado um tempo indefinido descobrisse que eras a janela do salto alternativo, a compensação de não ter tido outro olhar, desse outro olhar não ter sido repetido ao cansaço dos olhos com alguém que não tu? Valeria a pena o risco? O risco de cruzar o teu olhar no horizonte da linha do raio verde?
Pensamentos líquidos 9
Espero quarta-feira voar para dois meses em Londres e espero que isso me faça respirar o ar de que tenho sentido falta aqui. Mas vou mais calma do que tenho estado. Mais consciente. Espero postar de lá... com acentos.
Há alguns dias (semanas?) fechei um ciclo porque fazia sentido. Hoje quero começar outro. Porque faz sentido. Apresento-vos o Ciclo D.
Recomendações 8
Sabem? Gosto muito de cinema espanhol; ou melhor, de cinema de língua espanhola. Ultimamente voltei a ver vários filmes nesta língua e concluí que se fizesse uma classificação sumária, este “tipo” de cinema teria uma média superior a qualquer outro. Para mim, obviamente. É o tipo de cinema que me assenta que nem uma luva. É um cinema muito humano, no sentido de ser sobre pessoas, pensamentos, relações, constrangimentos sociais; no qual os efeitos técnicos raramente importam; é muito cru nesse aspecto, muito tríade “argumento+desempenho de actores+realização”, a tríade que, para mim, realmente importa.
Por isso deixo aqui, em jeito de recomendação, alguns dos filmes de língua espanhola que acho valer a pena ver. Sem qualquer tipo de carácter exaustivo, aqui vai:
> Abre los ojos (Amenabar, 1997)
> Cha-cha-cha (del Real, 1998)
> Todo sobre mi madre (Almodóvar, 1999)
> Segunda piel (Vera, 1999)
> Amores perros (Iñárritu, 2000)
> Y tu mamá tambien (Cuarón, 2001)
> Hable con ella (Almodóvar, 2002)
> Cachorro (Albaladejo, 2004)
> Mala educacion (Almodóvar, 2004)
> Mar adentro (Amenabar, 2004)
> Volver (Almodóvar, 2006)
Foi mera coincidência, mas este post faz todo o sentido a seguir ao último.
Pensamentos líquidos 8
Há três maneiras de encarar a arte. A primeira é encarar a arte como encarar outra coisa qualquer, um vaso partido, um rio no Panamá ou uma barragem. É arte é, para estas pessoas, uma coisa que tem uma função ou não; desconfio que, para muitas destas pessoas a arte é na maior parte dos casos nula. Não me interessa falar deste grupo porque basicamente não há grande coisa a discutir aqui (G1).
Há depois o outro grupo, o daquelas pessoas que encaram a arte como algo valioso mas de valor estritamente estético, no qual o estético compreende somente características de estrutura, de forma e a arte é tanto melhor, mais valiosa quanto mais correcta.
Finalmente, o último grupo (G3) tem aquelas pessoas que acham que a arte, mais do que ter intrínseco valor estético, tem valor racional. Para estas pessoas a arte é o crivo último da razão. Muito como acontece com a filosofia. [Acho que é por isto que eu acho que a filosofia é qualquer coisa entre uma ciência e a arte.] Para estas pessoas a arte é a única maneira possível de dizer uma coisa, de saber por que se diz e fundamentalmente de a compreender. Aqui a arte é tanto mais valiosa quanto mais perfeita.
Não preciso de vos dizer em que grupo me insiro…
Para mim, a arte faz sentido para tornar o mundo mais suportável, mais bonito (G2). De facto não me consigo dissociar da estrutura de cada obra de arte, da sua forma, daquilo que se lhe retirássemos o conteúdo restaria (exercício virtual); até porque esta forma e o conteúdo são indissociáveis. Por isso há coisas que, por falta de qualidade estrutural, me chocam. Mas há outras que, por falta de qualidade substantiva me chocam a sensibilidade artística (G3).
Para mim; volto a escrever, para mim; a arte “vazia”, de valor estético não me afecta da mesma maneira. Não quero com isto fazer um juízo de valor em relação a ela porque não faz sentido, mas eu nunca poderei gostar tanto dela. Por falta de afinidade. Porque não me ajuda. Pode ser um problema meu, mas eu não entendo a maior parte das coisas que queria entender e, por muito que argumente que sou eu a construir-me, também não me entendo na maior parte das vezes. E algumas coisas ganham um sentido na arte.
Muitas pessoas buscam conforto na religião, em algo divino que lhes aplaque o que não explicam. Eu não. Porque não quero, porque Deus/deuses não fazem sentido para mim, porque não são racionalizáveis para mim; a arte é, porque é humana.
O que acabei de escrever não deve, de maneira alguma, ser entendido como capaz de defender alguns tipos de arte em detrimento de outros. Não é isso que está aqui em causa. Para mim não faz sequer sentido que alguma vez esteja. Senão vejam…
O meu compositor de eleição é Chopin; sei que Liszt, por exemplo, era mais virtuoso, mas nunca me deu tanto. Há sinfonias do Beethoven fantásticas, mas não troco nenhuma das sonatas por todas elas. Continuo a gostar muito de Bach, foi o meu primeiro fascínio erudito, mas apesar das obras irrepreensíveis nunca vai conseguir o que Tchaikovsky conseguiu com um trecho de Romeu e Julieta, em que eu quase conseguia sentir a morte deles. Mas acham que por ter falado de alguns compositores eruditos, eu considero este tipo de música de algum modo mais… legítimo? Acham que é por isso que eu gosto menos de Pearl Jam, por exemplo? Ou de Muse, ou de Radiohead? Não, claro que não. E sabem porquê? Porque todos me oferecem uma compreensão tácita. Porque há uma afinidade que não poderia achar em qualquer outra coisa.
Não sei se me esclareci. Sei que a arte e o único sítio possível onde posso buscar entendimento, onde posso compreender quais as buscas a encetar, e eventualmente, com um bocadinho de sorte, onde posso ir criar algumas respostas. Ainda que respostas só para mim.
Agora expliquem-me lá, depois disto tudo… como é que eu sou economista?
PS. Deixo para outro dia a discussão da “arte-objectivo”, está bem? É que estou a ficar um bocadito cansada.
Poemas 7
Sometimes I feel happy,
but once I look to that smile in the mirror
I realise I can only be sad
‘cos every time I’m glad
Something bad happens.
The grief, the pain
I feel always insane;
the sorrow, the guilt
my body to be built.
The loneliness among all these people.
The unhappiness, the sadness
my own, eternal madness.
My tears are dry,
I’m laughing in a lie,
running away from myself.
Screaming, in silence, for help
Drifting away for some truth
My rising shame
for what I haven’t done
remembering how I felt.
Lying to me so that can be truth
I’m never in the right mood.
But now, this lusting wish
I feel for you,
is it true?
Don’t know what should I do
to make my feelings come true.
Don’t want any happy, empty story
neither some moments of glory;
just the real, brutal truth.
Tell me, is it painful?
Will I hurt you?
I feel so awful,
that I want to protect you
from my hell…
[Agosto de 2000]
Pensamentos líquidos 7
Sobre relativização
Vou trabalhar em Londres durante dois meses. Vou pagar de renda por semana em Londres o que pago por mês pelo meu apartamento em Lisboa.
Arquitectura, artes plásticas e design 3
... às vezes tenho a sensação que podia passar, sem me fartar, vezes sem conta na ponte.
Homenagens 6
É fácil dizer que o mundo vai mal e que seria melhor se fosse de outra maneira. É fácil. Acabei de o escrever em não mais que 3 segundos. Mas quem de nós faz mesmo qualquer coisa para mudar, ajudar a mudar um bocadinho? Um bocadinho que seja; porque um bocadinho pode já ser muito.
Podia dar exemplos de bocadinhos. Mas prefiro direccionar-vos a quem está a fazer o seu bocadinho…
http://oitodesafiosaomundo.blogspot.com/
…porque é daqueles bocadinhos que é já muito.
Apontamentos fugazes 18
Normalmente, a minha mente já é complicada. Mas ultimamente, a fotografia da minha mente é assim…
Mas na minha mente não há Catherine Zeta-Jones. Só os raios e eu. A bater contra todos.
Recomendações 7
Sei que as minhas recomendações se têm quedado pela música. Não por privilegiar esta forma de arte sob as outras; já o fiz, agora nem tanto; mas porque tem sido mais fácil (e rápido) fazê-lo. Em jeito de auto-crítica acho uma vergonha não ter ainda feito uma recomendação/comentário literário, mas demora mais tempo a escrever e, por isso, não o tenho feito.
De qualquer modo. Hoje aproveito para fazer uma recomendação teatral. Mas só para aqueles de estômago forte, só para aqueles cujos abdominais suportem uns quantos murros.
Detesto que me perguntem, quando li um livro, vi uma peça, um filme, me perguntem «Então, e qual era a história?» porque assumem que tudo tem que contar uma história. Mas ainda assim, se tivesse que dizer sobre o que era a história desta peça, diria só que era sobre um escritor que escrevia contos e que dizia que o único dever de um contador de história era contar uma história.
Para mim, o que interessa na arte não é a “história” que tem por detrás; mas muito mais o que tem lá dentro e o que de lá de dentro reage em mim. O "The Pillow Man", peça de Martin McDonagh, agora no Teatro Maria Matos, encenada por Tiago Guedes, tem muito lá dentro e muito reagiu comigo. Tem, a representar, Gonçalo Waddington, Marco D’Almeida, Albano Jerónimo e João Pedro Vaz.
Tem o evidente, a ligação do escritor à obra e a relação inextricável dos dois. Tem a imitação daqueles que se admira, às vezes inquestionável. Tem a dúvida. Tem dor; muita dor. Tem o pôr em causa da justificação do erro. Tem a não consciência do erro por ingenuidade. Tem inevitabilidade, mas não previsibilidade. Tem o carácter superior da obra de arte. E aqui tenho que parar. Porque se já estava arrebatada pela peça porque é brutal em dois sentidos, na crueza e crueldade do que é e representa e na qualidade que tem; quando, de viés, aborda o carácter, a importância da obra de arte, deixou-me knocked out, logo ali. Não posso negar que é uma questão muito importante para mim. Essa é uma das minhas buscas. Katurian, na peça, diz «Eu não estou a tentar dizer nada. É essa a minha busca.» mas em ironia. Quem quer dizer nada, está calado. E quem quer dizer nada não pede que não destruam o que escreveu. Porque a arte pode ficar para sempre. Uma pessoa morre. E é aqui que a arte é maior do que nós, não por ser divina, mas por ser humanamente divinizável, por ser a perfeição possível. É-o, pelo menos, para mim. Mas este tema fica para um post à medida.
Agora que já deambulei, volto. A peça tem ainda o carácter visceral de me levar à dor de cabeça o que, contrariamente ao que possam pensar, é bom porque é sinónimo de genuinidade, de autenticidade, de… verdades. É este tipo de arte que, pelas dúvidas e pelas perguntas escondidas sob as afirmações, me ajuda na busca. E é isto que não encontro em mais lado algum…
Trivialidades 15
Provocações inconscientes
Apontamentos fugazes 17
Apontamentos fugazes 16
- Hey sweetie, remember me?
Poemas 6
We are the phantoms of ghosts.
We are the dream to live for.
Where nothing exists for sure,
we are the nightingale of sour.
We are some sort of inexistence,
we are the fact of reality,
Deep, light, done or thought
we are a fight waiting to be fought.
We are the anxious in serenity.
We are hidden in the dark
but in the light, black starts to gleam:
we are the spots of surprising steam.
We are so scared, as all the others,
we are as frightened as being here
Faith, distrust or believe unsure:
We just don’t really exist for sure.
[Julho de 2002]
Contos 7
E a dúvida, novamente. Aquela que constantemente me atormenta. A incerteza. Aquela que me condiciona as acções. E tu. A fonte, destas dúvidas, de tantas incertezas. Mesmo que esconda ou disfarce os condicionalismos que me provocas. Se negasse, enganar-me-ia a mim. Se assentisse, enganar-me-ia também. E tu. Indiferente.
Julgava que se te deixasse dissipar de mim, restabeleceria uma qualquer tranquilidade possível, mas ganhei só uma tristeza. Uma tristeza sem densidade. Um vazio cheio de saudade. Uma falta de sentir falta. De ti. A necessidade da tua presença, da tua existência, diminuiu, desvaneceu com o decorrer anónimo de dias difusos. Dias em que não te vi, excepto quando te recriei inteiro no meu palco de dentro. Dias em que preferiste não me ver, enquanto ainda precisava tanto de ti. Dias que passaram lentos, intensos em sofrimento. Dias que me trouxeram a hoje. O dia em que já não sinto falta. De ti.
E, todavia. Sinto falta da dor. Do sofrimento de necessitar tanto de ti e não te poder ter perto. Sinto falta da necessidade obsidiante que tinha de te imaginar. De criar uma realidade etérea em que nos conseguia ver, aos dois. Via-nos próximos, conseguia imaginar a minha mão direita a tocar a tua face. Expectante. Sinto falta da angústia. Quando saída dessa realidade paralela. E ainda assim. Nesses momentos em que via o meu corpo chegar perto do teu e sentia a tua pele por debaixo da roupa de frio e criava uma possibilidade impossível. Sinto falta de ti? Não. Sinto saudade de sentir uma dor incomensurável enquanto sentia falta de ti. O meu masoquismo indecente.
Inevitavelmente. Coerentemente. Como sempre. Terei, desta vez, deixado passar a possibilidade de lutar por uma felicidade indiscreta que acredito não existir? Ou tê-la-ás negado? Por não a quereres, por não ser tua. Não ser nossa. Sei que, novamente, tudo será igual ao que sempre foi. Destino criado por mim. Inexoravelmente.
Sim, julgava que se te deixasse dissipar de mim, restabeleceria um equilíbrio. Mas como restabelecer algo que nunca possuí? Em mim. Agora, uns dias mais e a tristeza transforma-se em indiferença. Aquela. A minha companheira dos momentos constantes.
Mas, entretanto. Esta falta de sentir falta de ti é tão dolorosa como a necessidade que antes tinha da tua existência. Este é o dia em que sei. Sim, sei. É o dia em que já não sinto falta. De ti.
Adeus.
Trivialidades 13
Duas aulas de Body Combat. Duas espectaculares quedas. Ou melhor, para ser sincera, sincera, eu não caí, eu escaqueirei-me no chão. Das duas vezes. E das duas vezes o mesmo professor olhou para mim com uma cara assustada que vocês não imaginam. Uma cara de pânico. Um olhar que perguntava “Estás bem?” enquanto eu, qual Speedy Gonzalez a levantar-se, rapidamente acenava afirmativamente. E a vergonha. Porque cair uma vez é aceitável. Duas, com o mesmo professor, mais ou menos as mesmas pessoas, é embaraçoso. Mas posso garantir uma coisa: quem não estava a olhar para mim enquanto caía nem sequer soube que caí, tal foi a velocidade a que me levantei.
Entretanto, se alguém me quiser encontrar no ginásio, perguntem pela “gaja que cai nas aulas de combat”. Deve ser assim que sou conhecida…
Trivialidades 12
Arquictetura, artes plásticas e design 2
Andy Warhol, "Marilyn Orange", 1967
Apontamentos fugazes 15
Trivialidades 11
Entertainment wrestling
Contos 6
Tive a certeza ao finalmente agarrar a tua mão que precisava tanto de ti. Esta noite. Mesmo depois do mundo à beira do precipício do fim. Das bombas e das tragédias. Da tristeza obsidiante à minha volta. Mesmo depois da tua tristeza.
Tinhas sido despedido, ou talvez tivesse deixado de existir o teu emprego, os teus empregos. Qual? Estavas triste e gostei que o tivesses partilhado comigo. Ainda antes da tragédia, já havia uma proximidade tão grande entre nós, já havia novamente as brincadeiras não inocentes das quais gostava tanto, já havia a cumplicidade que entretanto nos tinha abandonado, havia de novo os olhares, havia a consciência agradável da presença um do outro. E havia algo novo. O toque. Pela primeira vez, tocava-te intencionalmente e aceitava-lo intencionalmente. O toque entre as nossas peles, primeiro o toque entre as nossas mãos, em perfeito uníssono, quando olhei para trás, para ti, e estiquei o meu braço em busca e voluntariamente dirigiste a tua mão em direcção à minha para finalmente. Unidas. As nossas mãos. Unidas. Ainda antes da tragédia. Das bombas. Da destruição.
Pela primeira vez, o entendimento tácito tornou-se explícito nas nossas mãos. Só os polegares intercalados. Os outros dedos juntos e a cobrirem docemente parte da mão oposta. Os dedos sentem tanto. Puxei-te para veres qualquer coisa. Não sei o quê. Não importa, porque vieste. E durante todo o percurso, não sei se longo se curto, as nossas mãos juntas. Finalmente.
A tragédia veio depois. As bombas, a catástrofe, a destruição do mundo próximo. O teu emprego que desapareceu. A tua tristeza calada. O teu recolhimento. Mas quando saí de dentro da sala escura, estavas cá fora, à espera com essa dor espelhada na cara e pude, apesar da mágoa, tocar-te com a proximidade de quem quer estar junto. Eu de ti. E tu de mim.
E agora há uma angústia tão densa em mim como se o corpo fosse um granito, inimpermeável; por dentro só a dor o sofrimento, ubíquo infindável. Por fora, a minha máscara de sempre, o sorriso de sempre, a gargalhada de sempre, como se a dor fosse mentira e eu uma marioneta de felicidade. Verdadeira. Se antes me conseguias levar à exultação pelo som de duas palavras escondidas, agora, só a ideia da tua existência esquarteja-me aos pedaços por saber que estarás sempre demasiado longe de mim.
Depois do sonho, físico, a realidade, física e com ela a certeza hipotética de estares longe, afastado porque queres assim. E a dor, a tristeza, a infelicidade. Dentro de mim. Mesmo com o sorriso que minto a todos. Mesmo com a determinação que avaliam em mim. Mesmo. Já o tinha pensado antes, com outro alguém, mas agora possuo a certeza possível de que poderias ser um daqueles que faria a diferença, que me inverteria a tendência para gostar e não querer, querer e não gostar, gostar ou querer e fartar. Sei que estaria melhor se estivesse contigo, sei que seria mais feliz se estivesses comigo, sei que viveria este sonho sem tragédia nem que fosse por dias com a determinação que não tenho.
E sei que dói. Dói como golpes fundo no corpo. Dói como a certeza hipotética da infelicidade. Dói como se nunca fosse parar de doer. Dói como o sorriso com que minto a todos. Dói.
E quando tento parar de sofrer, sem te ver, à espera que fiques longe e eu não pense em ti, quando faço esforços da força toda que tenho para te esquecer, apareces assim num sonho. Apareces assim. Em mim. Novamente. E dói.
[Março de 2006]